FRANCISCO VÊNETO Francisco Vêneto | Maio 04, 2017
O islã, e não mais o cristianismo, permeia a Europa. Em breve, o mundo?
Editor cultural italiano propõe considerações que geram discussões acaloradas - mas das quais não se pode mais fugir.
O impacto da crescente presença muçulmana no mundo ocidental é um dos temas mais candentes da atualidade – e em torno dele se verificam todos os dias acaloradas discussões de diferentes vieses ideológicos.
Giulio Meotti, jornalista e editor cultural do periódico italiano Il Foglio, abordou o tema do ponto de vista de quem vive no meio do dilema que se impõe aos europeus. Em artigo para o Gatestone Institute, o jornalista registra a seguinte impressão dos seus conterrâneos captada por pesquisas recentes:
“Todos os cantos europeus veem sinais de fissuras. Ao que tudo indica, os jihadistas estão tomando de assalto a liberdade e as democracias seculares. Apreensões dominam o imaginário coletivo dos europeus. Um levantamento com dados de mais 10.000 entrevistados de dez países europeus revelou uma crescente oposição pública à imigração muçulmana. A Chatham House Royal Institute of International Affairs realizou uma pesquisa de opinião perguntando aos entrevistados, pela internet, o que eles achavam da afirmação de que ‘toda a migração futura de países, principalmente muçulmanos, deve ser interrompida’: nos 10 países europeus onde foram realizados os levantamentos, uma média de 55% dos entrevistados concordou com a afirmação”.
A grande mídia, segundo Meotti, “já questiona se a Europa teme mais os muçulmanos do que os Estados Unidos”, e, ainda no tocante à mídia, o editor italiano recorda a recente publicação de imagens de uma oração muçulmana em massa diante do Coliseu, um dos mais célebres monumentos da Itália e do planeta: “Ecoando a captura da grande civilização cristã de Bizâncio em Constantinopla, o pregador mais destacado do islã sunita, Yusuf al Qaradawi, declarou que chegará o dia em que Roma será islamizada“.
Citando o historiador David Engels, Meotti considera que a Europa vai encarar o mesmo destino da antiga República Romana: a guerra civil. E se pergunta:
“As civilizações morrem de fora para dentro ou de dentro para fora? O seu desaparecimento resulta de agressão externa (guerra, desastres naturais, epidemias) ou de erosão interna (decadência, incompetência, escolhas desastrosas)? No século passado, Arnold Toynbee ressaltou de forma resoluta: ‘as civilizações morrem se suicidando, não por assassinato'”.
Por toda a Europa, observa o jornalista,
“há sinais de tomada de poder. O número de estudantes muçulmanos já supera o de estudantes cristãos em mais de 30 escolas britânicas ligadas às igrejas. Uma escola primária anglicana já conta com 100% de estudantes muçulmanos. A Igreja da Inglaterra estima que cerca de 20 das suas escolas têm mais alunos muçulmanos do que cristãos e 15 escolas católicas romanas têm maioria muçulmana entre seus estudantes. Na Alemanha também há temores de um influxo muçulmano massivo no sistema escolar, a ponto de que alguns professores alemães estejam alertando abertamente contra a ameaça de uma ‘guetização'”.
Meotti prossegue anotando que a França registrou 34.000 nascimentos a menos no ano passado em comparação com 2014 e que o número de mulheres francesas que deram à luz atingiu o nível mais baixo em 40 anos. A baixa taxa de fertilidade tornou-se, para o jornalista, uma “praga em toda a Europa“: em 1995, apenas a Itália tinha mais pessoas acima de 65 anos do que abaixo de 15; hoje há 30 países nessa mesma situação – e até 2020 serão 35.
É significativo notar que a França teria uma taxa de natalidade ainda menor se não fosse pelas mulheres muçulmanas: “Com taxa de fertilidade de 3,5 filhos por mulher, os argelinos contribuem significativamente para o crescimento populacional da França“, de acordo com o demógrafo Gérard-François Dumont. Ele também cita a taxa de fertilidade de outras mulheres de origem muçulmana em terras francesas: 3,3 filhos no caso das marroquinas e tunisianas; 2,9 no caso das turcas.
É também por causa dos migrantes muçulmanos que as maternidades da Suécia estão hoje ocupadas: entre 2001 e 2014, foi registrado no país um aumento de 25% nos nascimentos. A percentagem de estrangeiros saltou de 4% na década de 1960 para 17% em 2015.
Em Milão, centro financeiro da Itália, o nome mais dado aos recém-nascidos é Maomé.
Situações similares acontecem em Londres, nas quatro maiores cidades da Holanda e em várias outras regiões da Europa, de Bruxelas a Marselha. “É o islã, não o cristianismo, que agora permeia a paisagem e a imaginação da Europa“, registra Meotti.
Enquanto isso, vários dos maiores líderes europeus simplesmente não têm filhos. É o caso da alemã Angela Merkel, da primeira-ministra britânica Theresa May e de um dos principais candidatos à presidência da França, Emmanuel Macron. Se os próprios líderes europeus não têm filhos e, portanto, não tem razões pessoais para se preocuparem com o futuro porque tudo termina com eles mesmos, é plausível que eles não entendam cabalmente os motivos de preocupação dos pais e mães europeus com a abertura indiscriminada das fronteiras do seu continente. A maior preocupação dos políticos parece ser sempre econômica e nunca familiar, conforme se vê nas palavras de Federica Mogherini, representante das relações exteriores da União Europeia: “Eu acredito que os europeus devem compreender que precisamos da migração para as nossas economias e para os nossos sistemas de bem-estar social. Com as tendências demográficas atuais, temos que ser sustentáveis“.
A Batalha de Poitiers, em 732, foi o marco final da primeira grande onda islâmica na Europa Ocidental. Se os cristãos não tivessem vencido, “talvez”, como assinalou Edward Gibbon, “a interpretação do alcorão seria agora lecionada nas escolas de Oxford e os seus púlpitos poderiam pregar a um povo circuncidado a santidade e a verdade da revelação de Maomé“. Giulio Meotti complementa com uma indagação: “Isso não soa familiar hoje em dia?“.
Os islamistas, recorda o editor italiano, levam a cultura e a história mais a sério do que os ocidentais. Recentemente, em Paris, um terrorista egípcio tentou atacar o grande museu do Louvre: ele planejava desfigurar a arte do museu por ser “um poderoso símbolo da cultura francesa“.
Giulio Meotti encerra o seu artigo propondo uma reflexão incômoda:
“Pense num extremista islâmico gritando ‘Allahu Akbar’ ao mesmo tempo em que desfigura a Mona Lisa. Esta é a tendência que precisamos começar a reverter”.
É uma discussão com a qual se pode concordar ou discordar. O que não se pode mais é evitá-la com base no dogma do politicamente correto.
Fonte: Aleteia