OS DIAS MINGUAM, AS HORAS REPETEM-SE A UMA VELOCIDADE SEM FREIO!

sábado, 14 de fevereiro de 2015

UMA OBRA DE ARTE QUE ELEVA A DEUS!

Restituição e despretensão
 
     Sua singular beleza é obra de mãos humanas, mas são as miríades de luzes sobrenaturais, dons de Deus, que a tornam verdadeiramente uma maravilha.
 
Letícia Gonçalves de Sousa
Fruto do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, emana dos tesouros da Cristandade um brilho sobrenatural que os distingue dos monumentos e obras de civilizações pagãs, pois, acima dos valores artísticos, nota-se neles uma bênção pela qual remetem a um plano superior, metafísico, e deste ao divino. Como dizia Dante, as obras de arte dos homens são "netas de Deus".1
catedral_de_reims.jpg
Catedral de Reims (França)
 
Destacam-se nessa categoria as catedrais medievais, erigidas no tempo em que, segundo a feliz expressão de Leão XIII, "a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos".2 No conjunto dessas magníficas construções, brilha com especial esplendor a de Reims, erigida no século XIII em substituição ao templo carolíngio destruído por um incêndio.
Concebida como um hino de glória ao Criador, ela é adornada por 2.303 estátuas e enquadrada por duas torres que se elevam a 81 metros de altura, parecendo querer se destacar da Terra e alçar voo em direção ao Céu.
Até 1825, ano em que foi coroado Carlos X, aí se realizavam as cerimônias de sagração dos monarcas da Filha Primogênita da Igreja. Era crença popular que o rei tinha a faculdade de curar os doentes de escrofulose, mal comum naquele tempo. Por isso, à saída do solene ato litúrgico, aqueles infelizes se aproximavam do soberano recém-coroado e este se detinha diante de cada um, dizendo: "Le roi te touche, Dieu te guérit - O rei te toca, Deus te cura". Bela fórmula que revela a consciência de ser o homem apenas um instrumento nas mãos do Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Este estado de espírito despretensioso do Rei Cristianíssimo reflete- se também na própria simbologia da catedral que, pelo seu élan ascendente, convida todos a se reportarem continuamente ao Criador. As suas altivas torres recordam-nos que toda a nossa existência deve estar ordenada em função da eternidade. Sua singular beleza é obra de mãos humanas, mas são as miríades de luzes sobrenaturais, dons de Deus, que a tornam uma verdadeira maravilha.
No monumental pórtico de entrada está representada a mais grandiosa e a mais humilde das criaturas: Maria Santíssima. Receptáculo de todas as graças e eleita pelo Pai, sobre Ela pousou o Espírito Santo para gerar em seu claustro virginal o Esperado das nações, Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, ao receber o entusiástico elogio de Santa Isabel, proclamou Ela sua pequenez e restituiu ao Altíssimo o inapreciável dom recebido: "A minha alma engrandece o Senhor, e exulta meu espírito em Deus meu salvador, pois Ele olhou para o nada de sua serva e desde agora as gerações me proclamarão bem-aventurada" (Lc 1, 46-48).
Se atribuirmos a nós mesmos a glória de eventuais êxitos, jamais gozaremos da felicidade do Reino Celeste. Seguindo, porém, os passos da despretensiosa Soberana da Restituição, alcançaremos as alegrias próprias àqueles que, por terem reconhecido o seu nada, são proclamados bem-aventurados e cantam eternamente nos Céus a glória de Deus.
Eis uma das mais belas lições transmitidas pela magnífica Catedral de Reims.
 
1 ALIGHIERI, Dante. Divina Comédia. Inferno, Canto XI, v.105.
2 LEÃO XIII. Immortale Dei, n.28.
 
(Revista Arautos do Evangelho, Março/2013, n. 135, p. 50 - 51)

MAIS UMA DESCOBERTA! DESTA VEZ A NÍVEL MUSICAL

Descobrem no Reino Unido a partitura mais antiga de música sacra polifônica
Cambrigde - Reino Unido (Terça-feira, 10-02-2015, Gaudium Press)
 
A música sacra característica da Igreja Católica tem dois pilares fundamentais: o Canto Gregoriano e o Canto Polifônico. Deste último a Universidade de Cambridge anunciou um notável descobrimento destacado pelo portal New Liturgical Movement: a descoberta da partitura mais antiga até o momento, a qual data de inícios do século X e está dedicada a São Bonifácio, Padroeiro da Alemanha.
Descobrem no Reino Unido a partitura mais antiga de música sacra polifônica.jpg
O texto foi escrito no final de um manuscrito sobre a vida do Bispo Maternianus de Reims e descoberto por Giovanni Varelli, estudante de doutorado de St John's College de la Universidad de Cambridge, durante sua estadia na Biblioteca Britânica. Graças a sua especialidade em escritura de música antiga, descobriu uma anotação inusual na qual pode identificar duas vozes diferentes e complementares.
 
Um testemunho do nascimento da polifonia
 
Segundo a análise de Varelli, a curta antífona em honra a São Bonifácio com uma voz de acompanhamento foi escrita por volta do ano 900, enquanto que a partitura polifônica mais antiga até o momento data do ano 1000. Dos anos anteriores se conservam tratados sobre a forma como se deveria compor e interpretar a música a várias vozes, mas nenhuma peça musical como tal.
O fato desta peça permanecer desconhecida se deve ao fato de estar escrita em um sistema antigo hoje incompreensível para a maioria dos leitores. "Quando tratei de decifrar a melodia me deu conta de que a música escrita acima era a mesma que a delineada pela anotação usada para o canto", descreveu o especialista. "Este tipo de 'diagrama' era então uma peça de duas vozes baseada na antífona de São Bonifácio". Ainda é um mistério a identidade do compositor o qual é sua filiação monástica. Uma anotação presente no texto referido à data de celebração de uma memória litúrgica permite supor alguma relação do autor com os mosteiros do noroeste da Alemanha.
Algo notável no descobrimento é que esta primeira peça não se ajusta às normas expostas nos tratados previamente conhecidos. "O que é interessante é que estamos olhando ao nascimento da música polifônica e não estamos vendo o que esperávamos", manifestou Varelli ao serviço informativo da Universidade de Cambridge. No lugar de encontrar um cumprimento estrito de parâmetros estabelecidos, a interpretação revela "um estado de fluxo e desenvolvimento" que indica a possibilidade de experimentação por parte dos compositores e a concepção das regras mais como um ponto de partida que como uma norma determinante.
A música contida na história peça foi transcrita ao sistema atual e os estudantes de música Quintin Beer e John Clapham a interpretaram. (GPE/EPC)


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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

DEVOÇÃO ÀS CINCO CHAGAS DO SENHOR

As Cinco Chagas do Senhor
Eurico Monteiro - 2015/02/11   

O primeiro ato de adoração às Santas Chagas foi realizado por Maria Santíssima, quando desceram Jesus da Cruz. De São Tomé até nossos dias, muitos foram os devotos e propagadores desta belíssima devoção.Eurico Monteiro
Jesus é descido da Cruz. Cuidadosamente, Nicodemos, José de Arimatéia e São João O conduzem até Maria Santíssima e O depositam em seu virginalíssimo regaço. Sentada, Ela O acolhe transida de dor e O adora. Enquanto as Santas Mulheres Jesus descido da Cruz - Piedad - Catedral de Salamanca.jpgpreparam os bálsamos com que em breve irão ungi-Lo, para ser depositado no sepulcro, Ela oscula, uma a uma, suas Chagas: a do peito rasgado, as dos divinos pés e mãos. Realiza- se ali o primeiro ato de devoção e adoração às Chagas do Redentor, que iria perpetuar-se por todas as gerações. A Bem-Aventurada por excelência rende o mais perfeito culto de latria às fontes sagradas de onde jorrou o Sangue que redimiu total e superabundantemente todo o gênero humano.

Por causa daquelas Santíssimas Chagas, Ela fora preservada do pecado original e aos homens de boa vontade abriram-se as portas do Céu. Cinco fontes de graças infinitas, plenas de formosura, saciando a santidade das almas contemplativas, missionárias e apostólicas, selando a coroa de glória dos mártires e as vitórias de todos os tempos. Eis o manancial que nos purifica no Batismo, nos revivifica na Eucaristia e dá fecundidade a toda a Santa Igreja, nos seus sacramentos. Eis a santa argamassa que, ligada aos sacrifícios dos homens, erguerá os mais belos monumentos e poemas da Civilização Cristã.

 "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Aproxima a tua mão e mete-a no meu lado". Poucos dias após a ressurreição, é o próprio Redentor que convida o incrédulo Tomé a ter devoção às suas Santas Chagas. Já deslumbrado, ele respondeu-Lhe: "Meu Senhor e meu Deus!" As tíbias almas que dificilmente se deixam convencer, a progênie dos cépticos, a própria incredulidade, quase se diria, sucumbiram no instante mesmo em que aquele feliz e invejado Apóstolo introduziu seu dedo no lado de Jesus.

São Francisco de Assis, Santa Gemma Galgani, São Pio de Pietrelcina - enfim, uma legião de santos e almas virtuosas - foram galardoados com os estigmas da Paixão de Cristo. É um modo maravilhoso de Ele condecorar alguns daqueles a quem mais ama, na face da terra. É seu invisível e puro amor tornado visível em seus prediletos, para perpetuar na memória dos homens a bem-aventurança daqueles que acreditam sem terem visto e tocado as Chagas do Senhor, como Tomé.
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A devoção às Santas Chagas não é privilégio apenas de algumas almas, mas o é também de nações. Em Portugal, por exemplo, ela é muito antiga e marcou profundamente a piedade dos fiéis, quase desde os alvores da nacionalidade.Camões, em seu imortal poema, "Os Lusíadas", na dedicatória ao rei Dom Sebastião, registra em versos essa antiga e piedosa tradição, gravada também na bandeira nacional e no escudo heráldico da Casa Real:

Vede-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a vitória já passada,
Na qual vos deu por armas e deixou
As que Ele para si na Cruz tomou.

A devoção às Chagas de Jesus Cristo, sinais amorosos de seu
martírio e, posteriormente, de sua glorificação, aperfeiçoam em nós a gratidão, que leva a pagar amor com amor, até o holocausto total, por Deus e pelos irmãos. Adoremo-las profunda e devotamente na Semana Santa.
PAI ETERNO EU VOS OFEREÇO AS CHAGAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO PARA CURAR AS CHAGAS DAS NOSSAS ALMAS!
Hino às Santas Chagas do Senhor
Cinco fontes de graças infinitas,
Ó Chagas, cheias de alta formosura,
Aceitai a tensão humilde e pura
Das palavras que digo e tenho ditas.

E quantas na minha alma têm escritas
Mil culpas feias, com mão feia e dura,
Curai com vossa graça e com brandura,
Ó Chagas d'meu Senhor, Chagas benditas.

No sacro Sangue que de Vós correu
Se cure; e lave e gaste e purifique
As nódoas que com dor nelas estou vendo.

Por vós, que belas sois, formosa fique,
Por vós resplandecente entre no Céu,
Onde vos veja estar resplandecendo.

(Liturgia das Horas, festa das Cinco Chagas: Hino do Ofício das Leituras) (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2007, n. 64, p. 32-33)

HISTÓRIA DO ESTADO DA CIDADE DO VATICANO

Há 86 anos nascia o Estado da Cidade do Vaticano
 
   Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 11-02-2015, Gaudium Press) -
 
 No dia 11 de fevereiro comemora-se o nascimento do Estado da Cidade do Vaticano, depois da assinatura do "Tratado de Latrão", em 1929.
São três os documentos que constituem o Tratado que foi Ratificado em junho do mesmo ano:Flag_of_the_Vatican_City.svg.png
reconhecimento total da soberania da Santa Sé, no estado do Vaticano; uma concordata, regulando a posição da religião católica no Estado; uma convenção financeira, acordando a liquidação definitiva das reivindicações da Santa Sé por suas perdas de propriedade territoriais ou Estados Pontifícios.
 
História
Em 756, Pepino o Breve, rei dos francos, deu ao Papa um grande território no centro da península Itálica. A existência destes Estados Pontifícios terminou quando, em 1870, as tropas do rei Vítor Emanuel II entraram em Roma e incorporaram tais territórios no Reino de Itália.
No entanto, em compensação, Vítor Emanuel II ofereceu ao Papa Pio IX, em 13 de março de 1871, uma indenização e a promessa de mantê-lo como Chefe do Estado do Vaticano, em um bairro de Roma, onde se encontrava a sede da Igreja. Porém, inicialmente, o Papa recusou a proposta do governo italiano e se constitui prisioneiro do poder leigo, dando, assim, início à Questão Romana.
Posteriormente, a Igreja aceitou as condições a ela impostas em 11 de fevereiro de 1929, por meio do Tratado de Latrão, assinado por Benito Mussolini, então chefe do Governo italiano, e o cardeal Pietro Gasparri, Secretário de Estado da Santa Sé.
Este tratado formalizou a existência do Estado da Cidade do Vaticano, um Estado soberano, neutro e inviolável, sob a autoridade do Papa, e os privilégios de extraterritorialidade da Residência papal de Castelgandolfo e das três basílicas romanas: São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos Muros.
Por sua vez, a Santa Sé renunciou aos territórios, que possuía desde a Idade Média, e reconheceu Roma como capital da Itália.
O acordo garantiu ainda ao Vaticano uma indenização financeira pelas perdas territoriais, durante o movimento de unificação da Itália; estabeleceu normas para as relações entre a Santa Sé e o Reino de Itália; reconheceu o Vatican_City_CoA.svg.pngcatolicismo como religião oficial do país; instituiu o ensino confessional obrigatório nas escolas italianas; conferiu efeitos civis ao casamento religioso e aboliu o divórcio; proibiu a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina e concedeu numerosas vantagens ao clero.

O Tratado de Latrão foi incorporado. Em 1947, à Constituição italiana, com a condição de que o Papa jurasse neutralidade eterna, em termos políticos. O Papa poderia atuar como mediador em assuntos internacionais, apenas quando fosse solicitado.
Em fevereiro de 1984, uma concordata firmada entre a Santa Sé e o governo italiano modificou alguns termos do Tratado de Latrão.

O Vaticano permaneceu como estado soberano, governado pelo Papa e com sede em Roma.


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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

PODEMOS CRER NO QUE NÃO VEMOS?

Podemos crer no que não vemos? Veja o que diz Santo Tomás
SÃO TOMÁS DE AQUINO
Mas pode alguém objetar: se é insensatez acreditar naquilo que não se vê, não se deve crer senão naquilo que se vê.
Respondo a essa objeção com os seguintes argumentos.

Primeiro:

É a própria imperfeição de nossa inteligência que desfaz essa dúvida. Realmente, se o homem pudesse por si só mesmo perfeitamente conhecer as coisas visíveis seria insensato acreditar nas coisas que não vemos.

Mas o nosso conhecimento é tão limitado que nenhum filósofo até hoje conseguiu perfeitamente investigar a natureza de uma só mosca. Conta-se até que certo filósofo levou trinta anos no deserto para conhecer a natureza das abelhas.

Ora, se nossa inteligência é tão limitada assim, é muito maior insensatez não querer acreditar em algo a respeito de Deus a não ser naquilo que o homem pode conhecer por si mesmo d’Ele. 

Lê-se no livro de Jó: “Eis como Deus é grande e ultrapassa a nossa ciência” (36, 26).

Segundo:

Consideremos, por exemplo, um mestre que assimilou uma verdade, e de um aluno pouco inteligente que a entendeu diversamente, porque não a atingiu. Ora, esse aluno pouco inteligente deve ser considerado como bastante tolo.

Sabemos que a inteligência dos Anjos ultrapassa a do maior Filósofo, como a deste, a inteligência dos ignorantes. Portanto, seria tolo se o filósofo que não acreditasse nas coisas ditas por Deus.

Lê-se, a esse respeito, nas Escrituras: “Foram-te apresentadas muitas verdades que ultrapassam a inteligência do homem”.

Terceiro:

Se o homem não acreditasse senão nas coisas que vê, nem poderia viver nesse mundo.

Pode alguém viver sem acreditar em outrem? Como podes tu saber que este é teu pai? É, pois, necessário que o homem acredite em alguém, quando se trata das coisas que por si só não as pode conhecer.

Ora, ninguém é mais digno de Fé do que Deus. Por conseguinte, os que não acreditam nas verdades da Fé não são sábios, mas tolos e soberbos. São Paulo refere-se a esses como sendo – “soberbos e ignorantes…” (1 Tm 6, 4).

Por isso São Paulo diz de si: “sei em quem acreditei e tenho certeza…” (2 Tm 1, 12). Tudo isso é confirmado no livro do Eclesiástico  “Vós que temeis o Senhor, acreditai n’Ele” (2, 8).

Quarto:

Pode-se ainda responder dizendo que  Deus comprova as verdades da Fé.

Se um rei enviasse suas cartas com um selo real, ninguém ousaria dizer que aquelas cartas não vinham do próprio rei. É claro que as verdades nas quais os santos acreditaram e que nos transmitiram como sendo de Fé Cristã, estão seladas com o selo de Deus.

Este selo é significado por aquelas obras que uma simples criatura não pode fazer, isto é, pelos milagres. Pelos milagres Cristo confirmou as palavras do Apóstolo e dos santos.

*   *   *

Fonte: “Sermão sobre o Credo” – São Tomás de Aquino.

ANTIGO E NOVO TESTAMENTO... COMO INTREPERTÁ-LOS?

Questões de fé para quem crê e não crê: O cristão precisa do Antigo Testamento?


Admiro o esforço dos teólogos cristãos para valorizar o Antigo Testamento; compreendo a existência de uma tradição da Igreja que propôs aos seus fiéis ler as Escrituras bíblicas na liturgia, interpretando-as à luz do Novo Testamento. Algumas páginas são extraordinariamente nobres a nível literário, outras valem igualmente para nós, cristãos (como os Salmos ou alguns livros proféticos), mas sejamos honestos: o Evangelho não é suficiente para nós, cristãos? Porquê investir tantos recursos teológicos para justificar capítulos inteiros do Antigo testamento de regurgitam de santa crueldade e imoralidade, não tão distantes de algumas suratas do Corão?
Porquê perder tempo a explicar o Antigo Testamento, a interpretá-lo para o justificar nas suas passagens difíceis e desconcertantes, quando temos nas mãos a luz límpida do Novo Testamento para o substituir? O que subjaz a esta questão é a "substituição": a Nova Aliança selada em Cristo não substitui a Aliança do Sinai e de Moisés, tornando-a obsoleta?
Esta tese não é nova, tendo já sido formulada por um teólogo do séc. II, Marcião, que defendia o dualismo entre o Deus cruel do Antigo Testamento e o Deus de amor anunciado por Cristo. É preciso sublinhar que a Igreja reagiu sempre com vigor contra esta teoria, condenando-a graças ao labor dos seus primeiros grandes pensadores (Ireneu, Tertuliano, Orígenes, etc.). Mas a ideia permaneceu, até na arte: a fachada da catedral de Estrasburgo personifica a sinagoga através de uma mulher de olhos tapados que deixa cair das suas mãos as tábuas da lei, enquanto que a Igreja, radiosa, avança com a cruz e o cálice.
Esta conceção deixa-nos perplexos em virtude do diálogo inter-religioso caro ao Concílio Vaticano II, mas também por causa de uma frase lapidar de Cristo: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição» (Mateus 5, 17). Também é verdade que Ele acrescenta: «Ouvistes o que foi dito aos antigos [...]. Eu, porém, digo-vos...». Observando com atenção, estas antíteses em Mateus (5, 21-48) são menos uma negação do passado do que um esforço para libertar os preceitos antigos de um minimalismo literário e mostrar o seu alcance positivo radical, conduzindo-os a um «mais além» de plenitude; é por isso que Ele condena não apenas o homicídio mas também toda a ofensa contra o próximo.
Por seu lado, S. Paulo não combate a Torá, a lei bíblica - que declara santa e pedagógica para conduzir a Cristo -, mas a sua interpretação legalista e voluntarista que se encontra em alguns meios do judaísmo da época. É ele que lembra que a aliança divina com Israel nunca foi revogada definitivamente porque «os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis» (Romanos 11, 29).
Como pode um cristão acolher corretamente os dois Testamentos? Convém considerá-los como a expressão de uma única história de salvação - justamente porque é uma história, uma sucessão temporal e progressiva - comporta etapas e faz parte de um projeto transcendente unificado, a salvação. Cada etapa deste caminho tem a sua importância e a sua eficácia, numa tensão global rumo ao futuro, rumo a Cristo.
O judaísmo tende para o futuro da plenitude messiânica; o cristianismo apoia-se igualmente no passado salvífico de Israel, explicando-o no presente cristológico [de Cristo] que estamos a viver. Eis que se chega a um diálogo: não é possível acolher e compreender o discurso final se não se presta atenção a cada etapa do discurso, com cada uma das suas fases.
 Quando se lê a Bíblia, segue-se um duplo processo: de um lado, a abertura do passado veterotestamentário [do Antigo Testamento] para o messianismo, e, portanto, para o presente cristão; de outro, a retrospeção do presente cristão para reencontrar as raízes e as motivações afirmadas e realizadas no passado profético de Israel. Este duplo processo explica-se porque os dois Testamentos são "teo-logia", discurso único ("lógos") do Deus único ("Theós").
Trata-se de um discurso divino transcendente, que se expande e alarga na sucessão das etapas do tempo e da história, sendo por isso progressivo, ritmado por elementos ligados aos acontecimentos humanos, às linguagem epocais, ao realismo da incarnação através da qual Deus se revela não na pureza dos céus, da transcendência, mas no interior do peso do terrestre da história da humanidade.
Este caminho conhece inevitavelmente etapas difíceis e provisórias, sinal de um itinerário histórico em desenvolvimento e em tensão para uma purificação e uma plenitude. Todavia, estas etapas contêm sempre uma semente de salvação, de verdade, de luz, porque participam no projeto divino transcendente único e unificado.
 
Card. Gianfranco Ravasi
Biblista, presidente do Pontifício Conselho da Cultura
150 questions à la foi, ed. Mame
Trad. / edição: Rui Jorge Martins

QUEM É JOSÉ SARAMAGO!?

«Há mais mistérios entre Saramago e Deus do que possamos prever»

JOSÉ SARAMAGO
A frase é da investigadora brasileira Selma Ferraz, que José Tolentino Mendonça cita na mais recente crónica que assina no semanário "Expresso". O texto começa por chamar a atenção para o «interessantíssimo ensaio» de Manuel Frias Martins, "A espiritualidade clandestina de José Saramago", lançado pela fundação homónima.
«A tese deste académico, também importante crítico literário, é a de que existe "um subtexto espiritual clandestinamente operativo" que atravessa a literatura de Saramago», perspetiva que «colide com o autoconfessado ateísmo» do Prémio Nobel da Literatura e com a «hermenêutica canónica da sua obra», escreve Tolentino.
Frias Martins, prossegue o poeta e biblista, propõe «que a invocação do ateísmo funciona "como uma espécie de ocultação tática de um segredo autoral": a espiritualidade, precisamente».
Se a literatura de Saramago pode ser interpretada como lugar teológico, é à luz da «antiteodiceia», da «desteologização», de uma «antiépica de Deus», acompanhados pela «crítica sistemática», o «distanciamento» e a «paródia», assinala o sacerdote.
Tolentino Mendonça lembra um texto do teólogo espanhol Juan José Tamayo, «que caracteriza o universo romanesco de Saramago como tratando-se de uma teologia negativa, que o aproxima do radical despojamento das formas de crença praticado, por exemplo, por uma certa tradição mística».
«De facto, a crítica do escritor exerce-se contra as representações de Deus, contra as suas imagens ideológicas e históricas mais do que sobre o Deus transcendente e irrepresentável», defende o vice-reitor da Universidade Católica.
Saramago exercita, ainda que de modo «abrasivo e extremo», a «purificação da linguagem religiosa», ao passo que «os crentes sabem que a sua linguagem é insuficiente para nomear o divino, quando não inadequada».
Para Tolentino Mendonça, «o grande contributo de Saramago para o diálogo interdisciplinar entre teologia e literatura não reside no que ele escreve sobre Deus», mas a forma «como a sua escrita ilumina o enigma humano».
«A qualidade e a originalidade da reflexão antropológica que José Saramago realiza é absolutamente espantosa e, com o tempo, tornar-se-á sempre mais fecunda», sendo aqui que «a sua capacidade de escutar o inaudível se torna vertiginosa.»
No fim, a crónica aponta para o místico Mestre Eckhart: «Quem de Deus não conhece senão as suas criaturas não precisa de outras catequeses ou de sermões. Porque cada criatura é um inteiro livro sobre Deus».

Edição: Rui Jorge Martins Publicado em 10.02.2015

CELEBRA~SE HOJE O DIA MUNDIAL DO DOENTE!

Dia Mundial do Doente: «Para chegarmos à sabedoria do coração» (Sl 90,12)

 

Somos convidados pelo Papa Francisco a, no Dia Mundial do Doente deste ano, pedir ao Senhor a "sabedoria do coração".
O Papa dirige-se, em primeiro lugar, aos doentes. Mas, logo a seguir, dirige-se também a todos os que, de uma forma ou de outra, estão ao pé dos doentes: os profissionais de saúde, os familiares, os que os visitam, os que cuidam deles.
Chama-nos a atenção para várias vertentes da sabedoria do coração, dizendo que ela é:
- servir o irmão;
- estar com o irmão;
- sair de si ao encontro do irmão;
- ser solidário com o irmão, sem o julgar.
Pedimos, deste modo, ao Senhor esta "sabedoria do coração" que nos permita viver as nossas relações pessoais como um verdadeiro encontro com o "outro", reconhecendo nele o "irmão".
Permanecendo junto dele, diz-nos o Papa, sobretudo dos «que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavarem, vestirem e alimentarem. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado». "Servir."
Num tempo em que não temos tempo, recorda-nos o Papa Francisco, que «o tempo gasto junto do doente é um tempo santo», seguindo Jesus que está no meio de nós como aquele que serve (cf. Lc 22,27). "Sair". "Estar".
«A caridade precisa de tempo [...]. A [...] caridade é partilha que não julga», afirma o Santo Padre. "Ser solidário, sem julgar."
Por tudo isto e, sobretudo pelos doentes que conhece, que apoia, que visita, de quem cuida, tanto quanto depende de si, procure que o seu agir corresponda a este apelo.

Dai-nos, Senhor, a sabedoria do coração!
Pai santo, cada pessoa humana é preciosa aos vossos olhos.
Nós vos pedimos: abençoai os que a Vós, única fonte de vida e de salvação,
se dirigem com toda a confiança.
Vós que em Jesus Cristo, o Homem novo,
trouxestes a todos a alegria do Evangelho,
apoiai-nos no nosso caminho,
e em particular àqueles que atravessam situações mais difíceis.
Amor eterno,
dai um novo olhar aos que acompanham os doentes:
que saibam neles contemplar o rosto do vosso Filho
e servir com amor a sua dignidade.
E Vós, Maria, Sede da Sabedoria,
intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e por quantos cuidam deles.
Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor
e através da própria experiência do sofrimento,
acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração.
Ámen.
 
P. José Manuel Pereira de Almeida
Coordenador Nacional da Pastoral da Saúde
Publicado em 10.02.2015
     
 
COMO É IMPORTANTE SEGUIR O CAMINHO DE AJUDA AO IRMÃO!
HOJE A SOCIEDADE DESCARTA DA SUA VIVÊNCIA TODA E QUALQUER OBRIGAÇÃO DE VELAR PELOS SEUS ASCENDENTES: COLOCANDO-OS EM LUGARES, ÀS VEZES DE UMA DESUMANIDADE ATROZ! QUEM FOR CAPAZ DE SAIR DE SI PARA PRESTAR OS CUIDADOS NECESSÁRIOS NÃO SÓ AOS PAIS, COMO TAMBÉM AOS IRMÃOS EXCLUIDOS E DOENTES SEM UMA MÃO AMIGA... ESTÁ A AJUDAR JESUS NO PRÓPRIO IRMÃO!
Nema, escrava de Maria

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO AMOR... É INSULTADO!?

Aqueles que zombam de Nosso Senhor merecem um testemunho? Veja aqui

Porque Jesus Cristo habita silencioso e como
que impassível quando é insultado no Sacramento de
seu amor?

Primeiro, porque, para os ímpios, como para os bons, a Eucaristia é “Mistério de Fé”, e os insultos de um ímpio não são razão para lhe fazer ver Aquele que ousa ultrajar.

Se assim fosse, bastaria insultá-lo no Santíssimo Sacramento para descobrir milagrosamente a Jesus Cristo e vê-lo com seus olhos. A impiedade obteria milagres, e, certamente, o que seria
mais insensato?

E, ademais, estes ímpios, estes sacrílegos, merecem ver Aquele cuja visão os converteria?

É ao amor, e não ao ódio, que o Divino Salvador se manifestaria se quisesse se manifestar:

Diante de Pilatos, de Herodes, dos fariseus, dos blasfemadores e dos executores, Jesus se calava, e se calará até o fim dos séculos. O próprio silêncio é uma punição: endurece, extingue um último resto de fé, impede o remorso.

O ímpio que insulta o Santíssimo Sacramento faz como os judeus sobre o Calvário, clamando ao Filho de Deus suspenso numa Cruz para salvá-los: “Ó, tu, que destróis o templo e o reconstrói em três dias, desce da cruz…!”

E acrescentavam: “Ele salvou a outros, e não pode salvar-se a si mesmo…! Se tu és o Filho de Deus, desce da Cruz e nós acreditaremos em ti…!” E Jesus não desceu da Cruz, e não disse outra coisa senão esta divina palavra, que converteu o bom ladrão: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem!”.

Os protestantes, incrédulos, sacrílegos, dizem como os judeus:

“Tu que fazes milagres, tu que a Igreja diz ser o seu Deus, mostra-te então a nosso olhar, se tu estás verdadeiramente lá…! Se tu és o Cristo, se tu estás realmente presente nesta hóstia, sai do véu do teu Sacramento! Deixa-te ver… e acreditaremos em ti…” E como no calvário, Jesus se cala.

Não, a blasfêmia não é o caminho que conduz à fé; e os que ultrajam Jesus na Eucaristia se enganam terrivelmente se imaginam que a simples visão do Salvador bastaria para convertê-los.

Teriam temor, o que poderia bastar para salvá-los, e isto seria tudo. Porém, uma vez passado o susto, ficariam mais furiosos, e buscariam, no arsenal da ciência moderna, maneiras de explicar naturalmente este “fenômeno singular”, esta “ilusão de ótica”, esta “alucinação dos sentidos”, etc.

A fé não é filha do terror, e menos ainda da impiedade: é uma graça que não germina senão nos corações puros, sinceros e humildes.

Os milagres não são suficientes para converter. Vede Caifás, vede os fariseus. “ Este homem faz milagres, dizem uns aos outros, nós não podemos negar.”

Pode-se dizer o mesmo de todos os perseguidores, desde de os dos apóstolos até o dos nossos mártires contemporâneos; foram testemunhas de vários prodígios… Eles se converteram?

Portanto, Nosso Senhor habita e deve habitar impassível em face daqueles que o ultrajam no Santíssimo Sacramento. Ele é paciente com eles, como com todos os outros pecadores, porque a eternidade lhe pertence.

Seus inimigos não podem escapar de Sua terrível justiça: por que, pois, se apressar?

Ele é o Deus das misericórdias, que quer não a morte, mas a conversão do pecador; e deixa ordinariamente aos pobres tolos que o insultem o tempo para se converter.
*   *   *

Fonte: “Presença real e os milagres eucarísticos” – Mons. de Ségur.

QUEM PROCURA OS ARQUIVOS DO VATICANO?

O mais procurado no Arquivo Secreto do Vaticano: o contexto histórico do Pontificado de Pio XI
9 de Fevereiro de 2015 / 0 Comentários
 
  Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 09-02-2015, Gaudium Press) 'Arquivo Secreto Vaticano': Inclusive hoje a expressão não deixa de suscitar em muitos imagens de mistério, intrigas... Entretanto a expressão "Secreto" simplesmente significa "privado", pois o que ali se encontra são documentos relativos ao governo da Igreja Universal reservados ao Sumo Pontífice. E esta reserva é somente para os documentos a partir de 1939 adiante, pois os de anterior data estão a disposição de todos os investigadores do mundo inteiro.
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Bem é certo que nem sempre foi assim, e que foi o Papa Pecci quem permitiu aos estudiosos o acesso, em 1881. Se afirma que este Pontífice não temia as supostas "vergonhas" da Igreja que hipoteticamente ali se encontrariam, mas que pensava que estas falhas mostraria a ação do Espírito Santo sustentando a Barca de Pedro.
Também é verdade que 1939, ano da final do Pontificado de Pio XI, não é uma data absoluta para impedir o acesso público a documentos mais recentes. Paulo VI autorizou aos estudiosos a investigar nos Arquivos do Concílio Vaticano II depois que este concluiu em 1965. Por sua vez, São João Paulo II permitiu conhecer os arquivos do Ufficio Informazioni Vaticano (Escritório de Informações Vaticanas); e os arquivos ‘Prisioneiros de Guerra' (1939-1947); e Bento XVI permitiu o acesso aos arquivos ‘Comissão Central para a Arte Sacra na Itália' (1924-1989) e ‘Censo dos Arquivos Eclesiásticos da Itália' (1942).
O mais procurado
Entre os milhões de documentos que percorrem 12 séculos (há documentos do século VIII ao século XX), e que foram recompilados desde 1662 -ano em que inicia o Arquivo Secreto Vaticano como tal-, os mais procurados hoje pelos estudiosos são os que transluzem o contexto histórico do pontificado de Pio XI, segundo declara Marco Grilli, Secretário da Prefeitura do Arquivo Secreto.
É claro não obstante, que ainda subsiste o interesse por todas as épocas históricas, como por exemplo os documentos medievais. O certo é que as 55 pessoas que trabalham atualmente no Arquivo Secreto Vaticano tem que atender anualmente a 1200 investigadores, de uma média de 50 países de todos os rincões do globo, que escavaram a vida da Igreja para encontrar a luz que lhes ajude a compreender a trama da história. (GPE/EPC)


Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link http://www.gaudiumpress.org/content/67076#ixzz3RIPXuqg4
Autoriza-se a sua publicação desde que se cite a fonte.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS?

 Crónica Ocasional: O sentido da vida
Autor
50 mil anos de religiões, 2500 de filosofia e teologias, milhares de mitos, deidades, muitos mortos depois e continuamos sem saber. Quem somos, o que aqui fazemos, para onde vamos? Porque somos?
vida
Todos os dias nos morrem. São gente como nós, desconhecidos chegados. É deles que hoje quero falar, fazendo um parêntesis na Grécia, no dérbi, no estado islâmico; um parêntesis na angústia diária dos que não conseguem aceder a medicamentos vitais, dos que não conseguem aceder a empregos vitais, dos que não conseguem aceder a afectos vitais.
Todos os dias nos morre gente desconhecida, que afectuosamente conhecemos. Escritores, políticos, desportistas, músicos, actores. Cada vez que morre um, sobressaltamo-nos. Durante algum tempo fazemos luto, em conversas íntimas connosco próprios. “Deus meu” pensamos, se somos crentes (e às vezes se o não somos), “como será a minha vida sem ele, como será viver num mundo dele privado?” Não há resposta e, sem resposta, a vida continua, mais ou menos assim-assim.
“Captain, my captain”. Robin Mclaurin Williams morreu em 2014. Morreu-nos, poeta morto nas palavras ditas de Walt Withman a evocar Abraham Lincoln: “O Captain! my Captain! our fearful trip is done; The ship has weathered every rack, the prize we sought is won; …”. Traduzo livremente:” Ó capitão! Meu capitão! Nossa medonha viagem terminou; O navio venceu todas as tormentas, ganhámos o prémio perseguido; O porto está próximo e ouço os sinos, o povo inteiro exulta, Enquanto os olhos seguem a firme quilha, o barco audaz e enraivecido: Mas ó coração! coração! coração! Ó as gotas sangrentas de vermelho, No tombadilho onde jaz meu capitão, Caído e frio, e morto”.
A vida, a medonha viagem – a maravilhosa, exaltante, medonha viagem -, termina sempre assim, o capitão tombado no tombadilho, caído frio (e morto) depois de uma vitória exaltante, ou de muitas derrotas, prémios almejados, ganhos ou perdidos. A vida termina sempre assim, recordam-nos os mortos que nunca conhecemos, os nossos conhecidos mortos, que à distância também connosco navegaram o navio audaz  e enraivecido; o extraordinário e grandioso  navio que  é  a vida.
Interpelam-nos, esses mortos desconhecidamente familiares. Em 2014, Philip Seymour Hoffman, Mickey Rooney, Alain Resnais, José Wilker, Lauren Bacall; Gabriel Garcia Marquez, Nadine Gordimer; Paco de Lúcia, Johnny Winter, Joe Cocker, Pete Seeger; Eusébio… e tantos outros, pessoas conhecidas.
Para onde foram, interrogamo-nos, buscando pistas para o nosso próprio destino? Não fazemos ideia, na verdade. Essa é a verdade: 50 mil anos de religiões, 2500 de filosofia e teologias, milhares de mitos, deidades, muitos mortos depois e continuamos sem saber. Quem somos, o que aqui fazemos, para onde vamos? Porque somos?
O AUTOR DEIXA UMAS QUESTÓES EM ABERTO. EIS A RESPOSTA:NÓS ESTAMOS DE PASSAGEM, POIS VIEMOS DO SEIO DO PAI E PARA ELE RETORNAREMOS QUANDO CHEGAR A HORA DA PARTIDA!
Há uma resposta comprovada, difícil de pôr em causa: somos o resultado da selecção natural, o fruto longínquo da explosão câmbrica de há mais de 500 milhões de anos, explicados por Darwin e seus seguidores numa fascinante variedade de conceitos que mantêm actual e certeira a original teoria da evolução darwiniana. Somos os vencedores da luta pelos recursos naturais, os predadores no topo da cadeia. Quem diria?
Mas seremos só isso? A evolução é um facto, a teoria que a explica está consolidada – ainda que em permanente evolução (como o facto que explica). Mas seremos só isso, pergunto, repito-me? Quando pensamos nos nossos mortos familiares, quer nos que intimamente são só nossos, quer nos que sendo de todos também nos pertencem intimamente, não podemos deixar de questionar o sentido de tudo isto. E questionar até que ponto aquelas vidas – tão cheias de sentido, capazes de inspirar e divertir e embalar as nossas e as de tantos seres humanos -, não são a prova viva, ainda que tendo já cessado, de haver na existência muito mais do que uma luta pela sobrevivência, muito mais do que um facto biológico decorrente de sermos os seleccionados pela natureza, graças à força que a inteligência nos concedeu.
Entenda-se bem: não está em causa a teoria da evolução, tão óbvia, tão indesmentivelmente comprovada. Mas o ser humano, todos nós, precisa de mais do que isso – precisa de transcendente, de crer numa vida de significado, a que a morte não possa pôr cobro. A que a morte, afinal, venha dar sentido.
QUER O HOMEM QUEIRA OU NÃO TEM  UMA VIDA PARA ALÉM DO VISÍVEL QUE É ETERNA, POIS O SENHOR DO UNIVERSO: DEUS OMNIPOTENTE E ETERNO, NOS CHAMARÁ PARA NOS CONVIDAR A ENTRAR NO SEU REINO... OU A REPELIR-NOS E LANÇAR-NOS NO ABISMO!
Miguel de Unamuno, num belo livro denso, defendeu não ser Deus o responsável pela imortalidade humana – por um devir para além do fim físico -, mas sim esse devir, esse transcendente destino, inevitável para além que nos justifica e fundamenta, que leva os seres humanos a inventar Deus. A criar Deus. E é assim que nós, frágeis seres imperfeitos e ao mesmo tempo tão maravilhosamente criativos, capazes de sublime e de terrível, de crueldade e de ternura, recriamos permanentemente as condições da nossa própria imortalidade. Mesmo que morramos, como morreram Eusébio, Amália, Pessoa e Camões, geniais geradores de mitos, imortais que nos fazem imortais.
 
E tudo isto é o contrário do horror jihadista, que mata a transcendência e condena os homens, em especial os perpetradores, à sua própria finitude e ao desespero da irrelevância, a que sempre estão condenados os algozes, os tarados, os buscadores de fama à Heróstrato. E assim acabei por falar da espuma dos dias, dos horrores a que ultimamente temos sido em excesso convocados; faço-o apenas porque a estupidez dos assassinos é demasiado espessa, feita do sangue, da ira e da profunda tristeza engendrada pela estupidez do fanatismo, e porque eles não sabem, eles não sonham, o mal que engendram sempre que julgam servir divindades (que, a existirem, porque estão ao serviço da transcendência humana, há muito os terão renegado).
( POBRES MORTAIS NEM SONHAM OS TORMENTOS QUE OS ESPERA NESSA VIDA IMORTAL, TUDO O QUE FAZEM CÁ, TERÃO LÁ MAS COM UMA INTENSIDADE QUE NENHUM HUMANO CONSEGUE IMAGINAR!)
Afinal, como escreveu Unamano, se é o nada que nos está destinado, vivamos de modo a fazer com que isso seja uma injustiça.
 
* Professor da Universidade Católica, Instituto
Fonte: Observador

OS GUARDIÕES QUE NOS FORAM ENVIADOS!

A vida é uma luta constante contra o Exército do Mal…

Dizem os Anjos aos homens:

Deus concedeu-nos o privilégio de poder colaborar na vossa santificação. Damos-vos boas inspirações, protegemos-vos e afastamos os demônios.

Mas se vós escutardes e acolherdes as inspirações dos demônios, por mais que usemos dos meios de que dispomos para afugentar os demônios, eles ficam ao vosso lado. Eles nos resistem a fim de vos causar danos.
 

Os demônios distribuem-se por toda a Terra, por reinos, regiões e cidades. Fazem seus planos, têm estratégias.

Nós também nos distribuímos pela terra. Ajudamos-vos muito mais do que supõem. Durante a história de cada um de vós, temos visto todo bem que têm feito; somos testemunhas daquilo de mais nobre de cada um.

Vemos também o mal individual e o mal coletivo. Entre nós, os anjos, e os demônios tem havido verdadeiras batalhas para defender os homens, para impedir a ação malfazeja dos demônios sobre as nações e cidades.

Os homens não sabem quanto Satanás e os seus seguidores os odeiam. Eles veem em vós a imagem de Deus. Então já que não podem acabar com o próprio Deus, anseiam destruir a sua obra.

Se pudessem, os demônios os destruiriam com as próprias mãos. Mas eles apenas podem vos tentar, na medida em que Deus permitir.

Além desses limites que as vossas orações conseguem da Misericórdia de Deus, Ele nos envia e nós cortamos o passo aos demônios. Alguns de vós também lutam com armas espirituais contra os demônios.

Os místicos, os santos, os monges, os eremitas, todos aqueles que buscam a perfeição espiritual, lutam com as armas da oração, do jejum, das obras de mortificação, às vezes com orações diretamente dirigidas a conter a ação do Maligno sobre o mundo.

Também é indispensável que vos expliquemos como o ódio e o horror dos demônios foi ao extremo quando Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu no mundo. Havia chegado o momento, e os demônios sabiam disso. Ficaram enfurecidos…

Por mais que fizessem não conseguiram evitar a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo por intermédio de Maria Santíssima.

Nada puderam fazer senão se submeter aos desígnios de Deus. A Virgem Maria pisou na cabeça da antiga serpente; como é grande o poder da humildade e da obediência!

A Assunção da Santíssima Virgem aos Céus foi gloriosíssima. Pessoa alguma é capaz de imaginar como foi a entrada de Santa Maria, a Mãe de Deus, nas moradas celestes! Todos os anjos foram ao encontro dEla.
 

Nós a recebemos como se recebe uma rainha. E fomos testemunhas do encontro entre a Mãe Santíssima e o seu Filho Divino.

*   *   *

Fonte: adaptado do livro “História do Mundo dos Anjos” do Pe. José Antonio Fortea

domingo, 8 de fevereiro de 2015

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE...


A MISERICÓRDIA DIVINA NAS ÁGUAS DA NOSSA VIDA!

Por muito ousado que seja o pedido feito por nós ao Altíssimo, sempre será possível transpor as "rochas" da justiça divina, alcançando d'Ele misericórdia.
 
 Por:Fahima Spielmann
 
Ao percorrer as primeiras páginas das Sagradas Escrituras, curioso é notar a misteriosa predileção demonstrada por Deus para com as águas. Quando a Terra estava ainda deserta e vazia, e as trevas cobriam o abismo, o Espírito do Altíssimo já pairava sobre elas (cf. Gn 1, 2). E logo após criar o dia e a noite, deu origem aos rios e oceanos, com os quais cobriu a maior parte da superfície terrestre.
 
 
Sempre benéfica para o homem, a água se reveste dos mais variados aspectos. É tranquila e poética nos lagos, majestosa e enigmática nas altaneiras ondas do imenso mar, delicada e silenciosa no orvalho, ou abundante e fecunda na chuva. Entretanto, nas torrentes e cachoeiras, o líquido elemento, suave e acariciador das lagoas e do sereno, torna-se capaz de perfurar a rocha, lembrando o famoso adágio: "água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!".
De fato, são as cascatas símbolo daqueles que, sentindo-se fracos como gotas d'água - não raras vezes contaminadas pelo pecado -, perseveram na sua oração até conquistar o impossível. Porque por muito ousado que seja o pedido feito por nós a Deus, sempre será possível transpor as "rochas" da justiça divina, alcançando d'Ele misericórdia. O segredo, segundo São João Crisóstomo, grande Doutor da Igreja, está na persistência: Não há o que não se obtenha pela oração, ainda que se esteja carregado de mil pecados, contanto que ela seja instante e contínua.
Assim nos instruiu também o próprio Cristo. Atendendo ao pedido dos discípulos de ensinar-lhes como se devia orar, revelou-lhes o Painosso, e logo após narrou a parábola do homem que bate à porta do amigo à meia-noite pedindo pães. Nesta, o dono da casa já dormia com toda sua família; contudo, venceu os incômodos naturais a fim de dar ao outro o que pedia, por causa de sua insistência. Conclui Nosso Senhor: "Eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar" (Lc 11, 8).
Ninguém pode querer-nos tão bem quanto o próprio Deus, pois Ele nos ama infinitamente mais do que nós possamos nos amar. Às vezes, porém, antes de nos conceder certas graças, Ele deseja ver-nos pedir com perseverança. Age como uma mãe que, querendo dar um presente muito valioso para o filho, o faz ansiá-lo antes de concedê-lo.
A nós compete não desanimarmos e pedirmos com persistência, de modo análogo às quedas da cachoeira,


 confiando não na pureza das águas de nossas obras, mas na insistência de nossa oração. "Pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta" (Lc 11, 9-10).
 
(Revista Arautos do Evangelho, Jul/2012, n. 127, p. 50-51)