OS DIAS MINGUAM, AS HORAS REPETEM-SE A UMA VELOCIDADE SEM FREIO!

sábado, 21 de março de 2015

DANDO NOVOS MUNDOS AO MUNDO- AFONSO DE ALBUQUERQUE


Uma Cruz de Estrelas
Santiago Morazzani Arráiz - 2009/08/24
       
    Dispensando uma análise do conjunto dos fatos e realçando apenas alguns aspectos da História, sonhemos um pouco a respeito das heróicas viagens de Afonso de Albuquerque
 
A paisagem calcinada e agreste não era muito própria a infundir ânimo e confiança. As silhuetas dos montes desérticos, bordejando as águas de ambos lados, pareciam ameaçar aqueles homens atrevidos que ousavam desafiar a solidão. E em meio a um silêncio inquietante, apenas interrompido pelo fraco bater das ondas nos cascos das naus, ou pelo golpe compassado dos remos das galés, a esquadra avançava em coluna, rumo ao desconhecido. À frente velejava a nau Rosário, seguida de perto pela capitânia Santa Maria da Serra, em cujo mastro principal drapejava galhardamente a bandeira dasAlfonso_de_Albuquerque.jpgquinas. Eram navios portugueses que, após rápida visita a Adém, a cidade árabe das nove colinas, acabavam de cruzar o estreito de Bab-al-Mandab, o portal de entrada do Mar Vermelho.
 
Um plano acariciado há longos anos
 
Corria o ano de 1512. Os dois reinos ibéricos, Espanha e Portugal, viviam uma época de expansão prodigiosa, produzindo gerações de heróis que se ocupavam em dar novos mundos ao Mundo, explorando regiões da terra até então desconhecidas para a Cristandade e levando aos pontos mais longínquos do orbe a mensagem do Evangelho.

Essa aventura do Mar Vermelho, entretanto, era mais do que perigosa. Porém, junto à bandeira real via-se também a insígnia do almirante, o qual não era homem que se deixasse intimidar por nenhum risco. Tratava-se do Governador da Índia, Capitão-mor da esquadra do Oceano Índico e veterano de mil expedições, cada uma mais ousada do que a outra: Afonso de Albuquerque.

Tinha ele acariciado aquele plano durante longos anos, mas as circunstâncias o haviam obrigado a adiá-lo várias vezes. Agora exultava de satisfação, na proa da Santa Maria da Serra, contemplando aquela vastidão aberta ao seu infatigável zelo missionário. Nada desejava ele tanto quanto ver as margens do Mar Vermelho cobertas pela sombra da Cruz de Cristo. E os seus olhos de águia perscrutavam insistentemente os horizontes da costa ocidental, na direção daquela Abissínia misteriosa e lendária, a Etiópia mencionada nas Escrituras Sagradas, em cujas montanhas dizia-se reinar um imperador cristão. Albuquerque ardia em desejos de chegar até o mítico personagem, o "Preste João" das tradições medievais, e saudá-lo com mensagens de amizade do Rei de Portugal. Esse encontro marcaria uma nova era nas relações entre a África e a Europa, que se abraçariam, afinal, sob o signo da Cruz.
 
O Capitão-mor mandou rezar o Credo
 
As naus ancoraram no estreito e engalanaram-se de inúmeras bandeiras. Foi um momento emocionante. Ao troar dos canhões, as tripulações se reuniram e o Capitão-mor mandou rezar o Credo e agradecer a Deus que lhes permitia realizar aquela proeza. Cantaram eles a profissão de Fé? Recitaram- na apenas? Não sabemos, mas o certo é que os montes descalvados das costas da Arábia repetiram os ecos dos dogmas divinos. E o vento ardente do deserto levou para longe as verdades pelas quais, até o fim do mundo, haverá homens e mulheres a entregarem suas vidas: "Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro!"
Deus verdadeiro... O mesmo que se manifestara a Moisés numa montanha, às margens daquele mar, era agora simbolizado Afonso de Albuquerque.jpgpelas cruzes que ornavam as naus de Portugal. E aqueles homens rudes sabiam-se enviados por Ele e representantes de sua Igreja três vezes santa.
"Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras".
E eles eram arautos do Ressuscitado, levando aos confins mais inóspitos do mundo a sua mensagem de amor infinito e deconcórdia entre todos os povos e nações.

"Cujo Reino não terá fim".

Sim. Aquele punhado de cristãos, isolado numa paragem ameaçadora, onde jamais navegara uma esquadra européia, ousava proclamar um Reino eterno, que nunca será destruído por força alguma no Universo. E o tranqüilo balouçar das naus, pontos minúsculos em meio àquela imensidade de água e areia, parecia sublinhar a fé inabalável da Igreja nas promessas de seu Divino Fundador.

Uma cruz formada por nove estrelas
 
Poucos dias depois, a frota esperava ventos favoráveis na Ilha de Camarão.
E, durante uma noite sem lua, os expedicionários puderam ver uma misteriosa cruz de fogo, formada por nove estrelas, que se deslocava lentamente através do firmamento e desaparecia no oeste, sobre as terras da Abissínia. "Era muito clara e resplandecente - escreveu o próprio Albuquerque - e veio uma nuvem sobre ela, dividindo-se em partes sem tocar a cruz nem cobrir sua claridade. Foi vista de muitas naus e a gente caiu de joelhos, adorando a Deus com muitas lágrimas". E o Capitão-mor afirmou ser esse o sinal a indicar-lhes o caminho.

A Providência manifestava assim sua aprovação ao empreendimento. Mas, sobretudo, o episódio deixava para os séculos futuros - o nosso século, talvez! - uma lição de fé. Aqueles que se lançam às arenas da evangelização devem estar dispostos a atravessar todos os oceanos e todos os desertos, materiais ou espirituais, pois em qualquer situação jamais lhes faltará o auxílio da graça. Quando sobre eles se abater a noite das provações, e eles erguerem os seus olhos para os céus, ali estará a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, sinal de esperança e de triunfo, a lhes recordar as palavras do Divino Mestre:
"Não temais, Eu venci o mundo!" (Jo 16, 33). (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 24-25)

QUANDO OS HOMENS TE NEGAREM UM PEDIDO, PEDE AO MESTRE!

 
A PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL
Retirado do livro “Vamos crianças, vamos à Jesus” – Pe. Luis Chiavarino

Era o terceiro ano da terrível guerra, ou melhor,
em 1917.

Quase todas as crianças tinham o pai soldado em perigo de morte e de nunca mais voltar. Era justamente esse o caso de uma família que eu conhecia.

O pai, chamado às armas, tinha deixado em casa mulher com sete filhos, o último ainda no berço, o primeiro com dez anos.

O que podia fazer sozinha aquela pobre mulher? Como sustentar a família numerosa?

Tinha feito tudo quanto era possível, tinha recorrido ao deputado e, por meio dele, ao ministro, para obter a exoneração mas, tudo em vão; passavam-se as semanas e os meses; promessas consoladoras e muitas esperanças não faltavam, mas tudo sem êxito. Nesse ínterim, a família caminhava, dia a dia, para a mais negra miséria.

Que fazer? Tenta-se uma última prova! Jesus pode tudo! – Ele atenderá melhor o que os homens.
Eu resolvi chamar a avó daquelas crianças e disse-lhe: - Boa mulher, se os homens não têm poder para nada em favor dos seus netinhos ponhamos Deus à prova.
Começando amanhã, e, durante nove dias consecutivos, a senhora levara à Missa os três maiores, e os fará comungar junto com a senhora, para suplicar que o pai seja dispensado.
E assim foi feito: durante nove dias aqueles meninos comungaram, repetindo sempre, de todo coração, a mesma e fervorosa prece:
- Jesus, fazei voltar papai!
Pois bem, vocês acreditam? Logo depois de terminada a novena, as crianças estavam brincando no terreiro ao anoitecer, quando, de improviso, ouviram um barulho de passos apressados.
 Viram-se, e oh! Papai, papai! Exclamaram, atirando-se nos braços de um soldado.
Era ele, ele mesmo, o papaizinho querido, que, levando-os para casa, repetia: Fui dispensado, não vou mais para a guerra e ficarei sempre com vocês!
Vocês veem, crianças, que aquilo que todas as súplicas e recomendações não tinham conseguido, aquelas criancinhas obtiveram com a Comunhão repetida.

Avante, pois, vamos com frequência, o mais frequentemente possível a Jesus!
*   *   *
Fonte: Sagrado Coração de Jesus

ESTÁS TRISTE? COMO LIDAR COM A TRISTEZA!


O inimigo serve-se da tristeza para tentar os bons até em suas boas obras.
Retirado da “Filoteia” de São Francisco de Sales


Como se esforça para levar os maus a se alegrarem de suas más ações; e como ele não pode nos seduzir ao mal senão fazendo-o parecer agradável, assim também não nos pode apartar do bem senão fazendo-o parecer incômodo.

Pode-se dizer que, sendo ele mesmo acabrunhado duma tristeza desesperadora por toda a eternidade, quer que todos os homens sejam tristes como ele.

A má tristeza perturba a alma, inquieta-a, inspira temores desregrados, tira o gosto da oração, traz ao espírito uma sonolência de morte, impede-a de tirar proveito dos bons conselhos, de tomar resoluções e de ter o ânimo e a força de fazer qualquer coisa.

Numa palavra ele produz nas almas as mesmas impressões que o frio excessivo nos corpos, que se tornam hirtos e incapazes de se mover.
Se fores algum dia, Filotéia, acabrunhada por essa má tristeza , lembra-te destas regras: Se alguém de vós está triste, diz S. Tiago, pois que ele reze.
E, com efeito, a oração é um remédio salutar contra a tristeza, porque eleva nosso espírito a Deus, que é nossa alegria e consolação.
Emprega em tuas orações estas palavras e afetos que inspiram maior confiança em Deus e seu amor:
Ó Deus de misericórdia! Ó Deus infinitamente bom! Meu benigníssimo Salvador! Ó Deus do meu coração, minha alegria e minha esperança! Ó caro esposo de minha alma! Ó Dileto do meu coração!
*   *   *
Fonte: http://osegredodorosario.blogspot.com.br/

quinta-feira, 19 de março de 2015

FOME: UNS COM TANTO E MUITOS SEM NADA!

Padre, tenho fome

Uma voz sumida, triste, triste daquela tristeza que amachuca a alma, que aperta o coração e que dói cá dentro, neste “dentro” do mais íntimo que custa a definir mas que se sente, sobretudo quando dói, quando dói fundo, neste fundo mais fundo que sentimos, quando entra a dor e o desconforto, aquele desconforto que nos tira de nós e nos faz, pelo menos... abrir os olhos... foi esta voz triste e sumida que, de repente, me acordou...


O cenário era o de África, num campo seco sem limites, debaixo daquele sol que dói, que esmaga, acompanhado daquela humidade que amassa e que magoa no torpor do suor que tudo empapa e cobre cada milímetro de pele.
 
Padre, tenho fome! Há três dias que não como!
Os pais tinham morrido de “dores de cabeça”!... o flagelo da SIDA que alastra silenciosa ao ritmo da avalanche que tudo engole. A irmã, em casa de quem vivera, – sistemática e metodicamente agredida pelo “macho” omnipotente –, não podia alimentar mais uma boca a juntar às 5 que cada dia reclamavam o prato de comida que não estava. 
Padre, tenho fome! Não tenho para onde ir!
Os meus olhos contemplavam o campo aberto na secura do deserto. Ali, no deserto, de repente, quinze anos de sofrimento gritavam salvação. O meu peito, estava apertado naquele abraço que jamais esquecerei, envolvido pelos braços magros daquele corpo franzino e frágil que se agarrava a mim como o náufrago que de repente encontra a redenção. 
 Nos olhos, já não vivia só a imagem do campo seco. A secura dera lugar às lágrimas.
Era mais um... mais um dos muitos que eu vira, dos muitos que vejo e encontro, nos encontros e desencontros para onde a vida me atira... Este era diferente, este tinha-o abraçado a mim!
De repente deixou de ser mais um... tinha nome, tinha fome, tinha medo; fome de pão e fome de colo; medo do mundo e da vida; medo que mata!
Deu-me um beijo, dei-lhe um beijo! Na secura da paisagem que nos envolvia, “acontecemo-nos” e ficámos ali, abraçados no deserto regado de lágrimas de esperança e de tristeza... no deserto! No deserto aumentado pelo incómodo estampado no rosto do “religioso” que me acompanhava, anafado, empanturrado, e abafado pelo calor e pelo colarinho eclesiástico que estrangulava o pescoço sem mais espaço para alargar... que incómodo, que maçada... “rais parta a canalha”... Não há pachorra para aturar estes “gajos de religião”!
Padre, tenho fome! Leve-me daqui!
Acabara de gerar mais um filho na distância.
Continuamos abraçados e sorrimos!
Já lá vão dois anos... a fisionomia esbateu-se..., a memória não, o necessário foi chegando, as Irmãs Capuchinhas têm sido a minha via de contacto... a fome terminou, as Irmãs deram o colo que faltava... agora é tempo de passar para a escola agrícola de nível superior... há por aí alguém de fé sem “religião” que queira ajudar? Muito obrigado.
Não podemos resolver os problemas do mundo, mas podemos sempre resolver os problemas do mundo de alguém.
Bem hajam!
Fr. Fernando Ventura, OfmCap fernandogreat@gmail.com
             Publicado em 18.03.2015  

quarta-feira, 18 de março de 2015

MARIA CAMINHO SEGURO ATÉ JESUS SENHOR DOS SENHORES


Entre os louvores que a Igreja põe sobre os lábios dos sacerdotes para os dirigir a Maria,

Na recitação do ofício divino, há um que volta várias vezes durante o dia e traz ao coração uma consolação toda especial – É o de “Spes nostra, salve” (esperança nossa, salve).
Há dois modos de depositarmos nossa esperança em alguém, segundo o consideramos como causa principal, ou como causa intermediária.
Aqueles que esperam algum favor real, esperam-no do rei, como soberano, e do ministro como intercessor. E quando o favor é obtido, é do rei, evidentemente, que o obtemos, mas pelo intermédio do ministro. Aquele, pois, que solicita e espera uma graça, pode dizer ao seu intercessor que ele é a sua esperança.
Deus deseja ardentemente enriquecer-nos com suas graças; o seu coração quereria poder abrir-se todo, e atear nas almas este “fogo que veio trazer à terra e quereria ver aceso por toda parte”.
Entretanto, como condição essencial, ele exige uma grande confiança de nossa parte. Ele nos dará, mas é preciso confiar inteiramente nEle.
E é para aumentar esta confiança, que Ele nos dá tudo o que pedimos à sua própria Mãe, como nossa advogada e nosso sustentáculo. Ela recebeu todo o poder para ser o nosso auxílio.
Aprouve-lhe exaltar assim essa incomparável criatura, que, aliás, o amou e serviu aqui na terra melhor que todos os homens e todos os anjos. Ele quer que ponhamos nEla a esperança de nossa salvação; que dEla esperemos todo o nosso bem.
É, pois, com toda a justiça que proclamamos Maria a nossa esperança, pois que esperamos obter por sua intercessão o que as nossas preces não bastariam para nos obter sozinhas. Nós lhe pedimos para que Ela supra por sua dignidade o que nos falta.
Nossa única esperança
Portanto, depositar a nossa confiança em Maria e recorrer a Ela, não é desconfiar da misericórdia de Deus, mas temer por causa da nossa própria indignidade.
Eu sou, diz Maria, a “Mãe da santa esperança”.
Que outra coisa devemos esperar que a salvação de nossa alma? Logo, é destes bens que
Maria é Mãe.
“Ela é mesmo a nossa única esperança, diz Santo Afonso, porque na ordem atual da Providência ninguém se pode salvar senão pela intercessão de Maria”.
Tal é, de fato, o plano de Deus que todas as suas misericórdias passem pelas mãos de sua
santa Mãe.
Ele mesmo quis resgatar o gênero humano, mas colocou o resgate de nossas almas entre as mãos de Maria, para que dele disponha à vontade.
Por Ela veio Ele até nós, e Ele é a fonte e a causa de tudo. Mas é por Maria que Ele quer que nos venham os teus benefícios, todas as suas graças, e, sobretudo, todas as suas misericórdias.
“Todo o bem nos vem por Ela, diz Santo Afonso, e é por Ela que nós somos preservados de todo mal. Deus a constituiu o nosso recurso aqui na terra, o guia de nossa peregrinação, a força de nossa fraqueza, a riqueza de nossa pobreza, o fim de nosso cativeiro e a esperança de
nossa salvação.
Ela é o nosso refúgio, a nossa vida, o nosso socorro, a nossa força e a nossa esperança”.
Escutai a bela oração que lhe dirige São João Crisóstomo:
“Se vós, ó Maria, desde a eternidade fostes predestinada à dignidade de Mãe de Deus, é para que os miseráveis, que não poderiam ser salvos segundo as leis da divina justiça, o fossem pela vossa doce misericórdia e a vossa poderosa intercessão”.
A grande função de Maria é afastar de sobre a cabeça dos pecadores os castigos de que os ameaça a cólera divina.
“Antes de Maria, diz São Boaventura, ninguém havia que pudesse deste modo sustentar o braço vingador do Eterno. E ainda agora, ninguém mais do que Ela é capaz de deter o seu terrível gládio”.
“A mediação de Maria, diz Santo Antonino, apazígua a ira do soberano Juiz, e faz descer sobre nós o perdão, apesar dos esforços do demônio, em um negócio tão importante para nós. É como que um processo entre Deus e o homem, e em que criatura alguma ousaria intervir”.
Podemos, pois, dizer com São Boaventura:
“Tivesse o Senhor pronunciado contra mim a sentença de reprovação, eu sei que Ele não se pode recusar àquela que o ama e o procura de todo o seu coração. Eu o estreitarei entre os braços do meu amor; e, enquanto Ele não me tiver abençoado, não o deixarei ir; e, se Ele se retirar, deverá levar-me consigo”.
“Como último recurso, eu me ocultarei em suas chagas, e aí ficarei. Desde então, ser-lhe-á impossível não me encontrar consigo.
E se o meu Redentor, por causa dos meus pecados, chegasse a me expulsar de perto dos seus sagrados pés de Maria, sua Mãe, e não me ergueria daí, enquanto Ela não me tivesse obtido o perdão. Pois esta terna Mãe de misericórdia não sabe, nem jamais soube recusar a sua compaixão às misérias dos homens, e repelir os infelizes que lhe vêm implorar socorro”.
Ó Maria, toda misericordiosa, volvei para nós os vossos olhos misericordiosos, pois nós somos vossos e em vós depositamos toda a nossa esperança.
*   *   *
Fonte: retirado do livro “Por que amo Maria” do Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde.

O DINHEIRO CORROMPE?

                                Estudos testam se o dinheiro torna as pessoas más                
                
António Belchior / Jogos Santa Casa


Será que o dinheiro torna as pessoas más? Foi esta pergunta que um professor de psicologia estudou, durante mais de uma década, chegando a uma conclusão que poderá (ou não) ser surpreendente.
Paul Piff, um professor de psicologia dos EUA, investigou a ideia de o dinheiro ser um factor de corrupção da ética humana, levando a cabo vários estudos e testes de laboratório ao longo de cerca de 10 anos.
Se há quem ache que as pessoas mais pobres tendem a ser aquelas que contornam mais facilmente as regras e a ser mais egoístas por causa da pressão financeira que sofrem, o trabalho de Paul Piff sugere precisamente o contrário.
O investigador apurou que os ricos é que se preocupam menos com os outros e que colocam quase sempre os seus interesses à frente dos demais, concluindo que ter dinheiro molda a moral das pessoas de forma negativa.
“Torna-te mais ligado aos teus próprios interesses, aos teus desejos, à tua própria riqueza. Isola-te, de certas formas, das outras pessoas, materialmente e psicologicamente. Priorizas as tuas próprias necessidades e os teus objectivos e ficas menos ligado a quem te rodeia”, constata Paul Piff em declarações à BBC.
“Se te puser uma caneta na mão e te pedir que desenhes um círculo para te representares, quanto mais rico fores, maior esse círculo será relativamente ao tamanho dos círculos que as pessoas mais pobres desenham de si próprias”, diz ainda este professor de psicologia.

Ele realizou diversos estudos em laboratório que indicam que as pessoas com mais dinheiro são mais capazes de fazer batota em jogos e de tirar doces reservados às crianças.
“Quanto mais rico és, menos generoso és. Dás porções significativamente mais pequenas à outra pessoa. As pessoas mais pobres foram significativamente mais generosas”, refere Paul Piff.
Assim, este professor de psicologia conclui que, quando somos ricos, precisamos menos dos outros, enquanto, sendo mais carenciados, precisamos da própria sociedade e das relações com os outros para sobrevivermos, o que nos torna mais solidários e bondosos.
Há outros estudos que contestam as ideias de Paul Piff, mas também há aqueles que vêm ao encontro desta ideia.
Numa pesquisa realizada em Hong Kong, Zhansheng Chen e Yuwei Jiang concluíram que sujeitos premiados em dinheiro, por qualquer objectivo cumprido são mais capazes de cometer transgressões morais, como fazer batota em exames ou mentir em currículos, se postos face a determinados dilemas éticos.
Uma investigadora da Universidade do Minnesota, Kathleen Vohs, também concluiu que o dinheiro motiva uma “mentalidade auto-suficiente”, por implicar uma análise do cálculo dos interesses individuais implicados, o que leva as pessoas a serem menos sensíveis às necessidades dos outros.
O que se pode concluir disto tudo é que o dinheiro, de facto, corrompe.
 

terça-feira, 17 de março de 2015

A OVELHA PERDIDA! - ÉS TU E SOU EU...

Qual é esse mistério, que faz com que um possa valer noventa e nove?


 «E Ele enunciou esta parábola, dizendo:
Que homem entre vós, que possuindo cem ovelhas;»
(Isto segundo São Lucas):
«Se uma delas se perdeu.
 Não entrega (não deixa) as noventa e nove no deserto,
E não vai procurá-la»,
"Quae perierat", que estava perdida, que se tinha perdido,
Assim mesmo. «Até encontrá-la?
E quando a encontrou,
Colocou-a aos ombros, regozijando-se;»
(Deitou-a) sobre os seus ombros.
«E regressando a casa, convoca (chama) os amigos
e vizinhos, dizendo-lhes:
Regozijai-vos (felicitai-vos) comigo, porque encontrei
a ovelha que estava perdida!
E em verdade vos digo
Que haverá mais alegria no céu
Quando um pecador faz penitência,
Que em noventa e nove justos que dela não precisam.»
Mas o que é a penitência, meu filho, o que há na penitência?
O que existe nessa virtude secreta que é a penitência?
É algo de singular, de estranho, meu filho, de inquietante.
Mas o que há de extraordinário na penitência?
Porque é inquietante?
O que tem essa virtude, esse segredo
o que há nela que a torna tão extraordinária?
E tanto, para que um pecador, um só, valha cem,
ou pelo menos, noventa e nove
(Se contarmos direito).
Para que um pecador valha tanto,
Para que esse pecador, esse pecador único que faz penitência
valha tanto, faça regozijar, provoque tanta alegria
no céu como noventa e nove justos
que não precisam de penitência.
E para que essa ovelha perdida dê tanta alegria ao seu pastor,
Ao bom pastor que o leva a deixar no deserto, "in deserto",
em lugar abandonado,
As noventa e nove que não se tinham perdido.



 Em que consiste, qual é esse mistério,
Que faz com que um possa valer noventa e nove?
Todos somos filhos de Deus. No mesmo pé de igualdade.
Portanto, como, porquê, uma ovelha vale tanto como
noventa e nove ovelhas?
Sobretudo «aquela que se perdeu» e que passa a valer tanto como
as outras noventa e nove que não se tinham perdido.
Porquê, que mistério é este, que segredo,
parece até suspeito, como, porquê,
em que é que uma alma pode valer mais
que noventa e nove almas, é estranho.
É pelo menos estranho, quando pensamos nisso.
Há aqui uma qualquer manigância.
Pois é precisamente essa alma que se perdeu, que se eclipsara,
que vale tanto, que dá tanta alegria ao céu como as outras
noventa e nove.
Tanto como as noventa e nove que não desapareceram.
Nunca!
Que não se perderam, que não desapareceram.
Nunca!
Que se mantiveram firmes.
É injusto. Mas que história é esta, afinal, que nova invenção?
É injusto. Eis portanto uma alma (justamente a que se perdeu)
que vale tanto, que conta tanto, que dá tanta alegria
como as noventa e nove infelizes que se mantiveram quietas
e nunca se afastaram.
Porquê; em quê; e como? Eis um que pesa tanto
na balança de Deus como noventa e nove.
Que pesa tanto? Talvez pese até mais! Em segredo.
Nunca se sabe. Secretamente fica-se com a impressão
de que ele pesa mais, ao lermos esta parábola.
Vejamos: existe um pecador que pesa pelo menos tanto
como noventa e nove justos.
Que pesa talvez mais. Nunca se sabe.
Quando entramos no campo das injustiças
não sabemos onde vamos parar.
Pronunciemos a palavra, eis aqui um infiel, essa é a verdade,
não devemos ter medo da palavra.
Que vale mais que cem, que noventa e nove fiéis.
Mas que mistério é este?
Que virtude tão extraordinária é a penitência?
Que vale cem vezes mais que a fidelidade?
Mas não vamos falar disso. Sabemos muito bem
o que é a penitência.
Um penitente é um senhor que não se sente
muito orgulhoso de si.
Que não se sente muito orgulhoso do que faz.
Porque o que ele fez, é preciso dizê-lo, é pecado.
Um penitente é um senhor que tem vergonha de si próprio
e dos seus pecados.
Vergonha daquilo que fez.
Que gostaria até de se enfiar pelo chão abaixo.
Sobretudo gostaria de não ter feito o que fez.
Nunca!
De esconder-se. De não ter de enfrentar o rosto de Deus.
E porque é que uma dracma que vale nove dracmas,
ela por si só tem a ver com tudo isto?
Ela é como esta criatura, esta e nenhuma outra, é esta ovelha,
é este pecador, é este penitente, é esta alma
Que Deus, que Jesus transporta sobre os ombros,
abandonando as outras.
Enfim, quero eu dizer (apenas), deixando-as todo esse tempo
entregues a si próprias.
A penitência, sabemo-lo, não é coisa assim de realçar.
Não tem nada de brilhante.
(É verdade que Deus não abandona ninguém.)
É um sentimento vergonhoso, ou seja, de vergonha.
Duma vergonha legítima e devida.
Em suma, é um ato vergonhoso.
Mas a penitência não é assim tão maléfica.
Então, em que ficamos?
Não só o penitente vale tanto como um outro,
não só vale tanto como um justo,
o que seria já um pouco duro.
Mas ele vale até noventa e nove, vale cem,
vale o rebanho inteiro.
Poder-se-á dizer.
Em última instância, vemos que ele valerá mais
e a amá-lo-ão mais
No secreto do coração.
No secreto coração eterno.
Porquê?
Meu filho, meu filho, tu sabes, tu sabes bem porquê.



 Ele é a ovelha.
A que estava perdida; e foi encontrada.
A que estava morta; e foi recuperada.
A que estava morta; e ressuscitou.
Porque é preciso tomar tudo ao pé da letra, meu filho.
Literalmente, assim como Jesus morreu e ressuscitou
dos mortos,
Também essa ovelha perdida, também essa ovelha estava morta.
Também essa alma estava morta e da sua própria morte, ressuscitou dos mortos.
Charles Péguy In "Os portais do mistério da segunda virtude", ed. Paulinas
Publicado em 16.03.2015
    

segunda-feira, 16 de março de 2015

A GRÉCIA DAS PROMESSAS À REALIDADE!

50 dias de Syriza. Das promessas ao mundo real

15 Março 2015
Meia centena de dias de Alexis Tsipras à frente do governo grego. Tempos turbulentos, sem fim à vista. Uma história contada (também) em imagens.
“Amigos, o novo governo grego vai provar que as Cassandras deste mundo estavam erradas. Não haverá um confronto mutuamente destrutivo [com a Europa] mas temos uma grande oportunidade para um novo começo“. Esta foi uma das passagens mais marcantes do discurso de vitória de Alexis Tsipras, a 25 de janeiro, apesar da referência pouco feliz à mitologia grega. É que Cassandra não era uma pessimista mas, sim, uma mulher amaldiçoada por premonições que se revelavam sempre corretas. A mitologia grega é riquíssima, mas Alexis Tsipras não encontrou aí um equivalente ao Velho do Restelo da poesia de Luís de Camões para se referir àqueles que adivinharam poucos sucessos a um governo liderado pelo Syriza. Foi há 50 dias. Quem arrisca um balanço?
Uma sondagem de um jornal grego conduzida no início de março mostrou que a popularidade do governo liderado por Alexis Tsipras está em queda. Cerca de 64% dos gregos têm uma opinião positiva do governo, o que seria um registo invejável por quase todos os líderes políticos nos outros países europeus. Uma sondagem equivalente feita um mês antes quantificava, porém, esse apoio bem acima de 80%. “Continua a ser uma margem confortável para o governo”, diz ao Observador Thanos Veremis, Professor Emérito pela Universidade de Atenas. “Mas a descida da popularidade vai acelerar porque o Syriza não será capaz de cumprir todas as suas promessas eleitorais, e quanto mais promessas falhadas maior será o sentimento de deceção“, afirma o grego, co-autor de livros como “A Grécia Moderna: Uma História desde 1821″.
Ao fim de quase 50 dias de governo, a 13 de março, o ministro das Finanças Yanis Varoufakis
admitiu “suspender ou atrasar a implementação das promessas [eleitorais]” ao longo dos “próximos meses“, enquanto a Grécia negoceia com as instituições credoras o pacote de reformas com que o país espera concluir o segundo programa de assistência. E porquê “suspender” as promessas eleitorais? “Fazemo-lo no contexto da construção do ambiente de confiança com nossos parceiros”, explicou o grego. Propomos-lhe uma história destes primeiros 50 dias de governo contada em fotografias (clique no link observador.pt, quando disponível, para ler a notícia respetiva).
 
A popularidade do Syriza pode estar a cair e o cumprimento das promessas eleitorais – ou, pelo menos, a aparência junto da população de que isso está a acontecer – será uma preocupação constante do governo grego. Mas, paradoxalmente, essa será nesta altura a menor preocupação de Alexis Tsipras. Será, na realidade, uma das poucas fontes de consolo para o governo, menos de dois meses após a vitória eleitoral.
Senão vejamos: vários parceiros europeus não escondem que é necessário recuperar a relação de confiança entre estes e o governo grego, fruto, entre outras coisas, das duas reuniões do Eurogrupo fracassadas no início de fevereiro e da aparente lentidão que Atenas continua a demonstrar nas negociações com o Eurogrupo e com a troika. Ou melhor, com as instituições anteriormente conhecidas como troika, já que um dos pontos de insistência do governo de Atenas tem sido a “morte da troika” e a “morte do memorando”. “Temos todo o gosto em deixar de lhes chamar troika, mas as três instituições [Comissão Europeia, FMI e BCE] vão continuar a monitorizar a situação na Grécia”, ironizou a 13 de fevereiro um porta-voz do governo alemão.
"Temos todo o gosto em deixar de lhes chamar troika, mas as três instituições [Comissão Europeia, FMI e BCE] vão continuar a monitorizar a situação na Grécia"
Martin Jaeger, porta-voz do Ministério das Finanças da Alemanha, a 13 de fevereiro 
A vida também não está fácil para Tsipras dentro do partido. Alexis Tsipras decidiu não submeter o acordo atingido com o Eurogrupo a votação no parlamento de Atenas, apesar de liderar um governo de coligação com maioria absoluta. As “objeções fortes” que, segundo fontes citadas pela imprensa grega, Tsipras enfrentou nas últimas reuniões do Comité Central do partido levaram a que o primeiro-ministro grego tenha preferido proteger-se de uma votação que, na prática, funcionaria como uma moção de confiança.
Fontes do Syriza disseram, mesmo, à imprensa grega que o governo poderia cair e poderiam ser marcadas novas eleições. “Se for decidido que não iremos recuar [no acordo obtido com a Europa] e levar [a assistência externa] até ao fim, então uma reafirmação do mandato popular será necessária”, disse um parlamentar do Syriza ao Capital.gr. “O que acordámos com os nossos credores nunca será implementado. E todos sabemos que assim é”, atirou o deputado, que preferiu não se identificar.
Quem não hesitou em colocar o seu nome por baixo das críticas a Alexis Tsipras foi Manolis Glezos, um eurodeputado pelo Syriza. “A troca do nome da troika para instituições, do memorando por acordo e dos credores por parceiros não altera nada a realidade”, assinalou Glezos num artigo publicado num blogue. Glezos, um dos membros mais destacados do Syriza durante a campanha, pediu desculpa aos eleitores gregos por tê-los feito “participar na ilusão”, pedindo-lhes uma reação “antes que seja demasiado tarde”.
Um dos membros mais destacadas do Syriza, Manolis Glezos (à esquerda na foto), pediu desculpa aos militantes por tê-los feito "participar na ilusão".
Com a economia provavelmente em recessão, uma vez mais, quebra abrupta das receitas fiscais e fuga de depósitos na banca, o que separa a economia grega do colapso é a cedência de liquidez de emergência por parte do Banco Central Europeu. Mas até essa linha de vida, que o BCE tem gerido de uma forma austera, que na visão do governo grego é “asfixiante”, arrisca perder-se. É que alguns membros do Conselho de Governadores do banco central estão desconfortáveis com a abertura da torneira de liquidez a um sistema financeiro que está sob pressão para comprar mais dívida ao Estado. Cortar o acesso dos bancos gregos à plataforma de emergência corresponderia, discutivelmente, à saída da Grécia da união monetária.

50 dias de Syriza. “Muito maus, mas não tão maus quanto esperava”

As primeiras semanas de governo liderado pelo Syriza, um partido que – recorde-se – é, em si, uma coligação de uma dúzia de pequenos partidos e de uma dúzia de sensibilidades, “têm sido muito maus” no que diz respeito à consistência, à estratégia e, sobretudo, ao cumprimento do programa eleitoral, diz Thanos Veremis. “Mas não têm sido tão maus quanto se esperava, porque o governo está a demonstrar que tem capacidade para aprender rapidamente“, acrescenta o grego, em conversa com o Observador.
Outro grego, mas um analista de mercados financeiros de um grande banco, que prefere não ser identificado, salienta que “o novo governo não votou no Parlamento nem um projeto de lei, nem sequer a extensão do acordo de empréstimo”. Ao Observador, o financeiro diz que “isto diz muito da capacidade deste governo em tomar decisões”. A confiança dos investidores externos, de que a Grécia necessita como de pão para a boca, “só irá voltar quando diminuírem, novamente, os riscos de que a Grécia possa sair do euro, mas isso só acontecerá se este governo for substituído”, atira, defendendo que “a linha negocial que tem seguido até agora [pelo Syriza] não irá levar o país a lado algum“.
O acordo vigente com a troika prevê superávit orçamentais primários (excluindo juros) de 4%, em média, até 2020. Uma "exorbitância", tem repetido Varoufakis, que quer negociar um valor entre 1% e 1,5%. Até agora, a única coisa que o Eurogrupo prometeu à Grécia é que serão fixadas metas de défice "adequadas" e que "não devem colocar em risco a recuperação económica".


Acusado diretamente na reunião do Eurogrupo de 9 de março de ter “desperdiçado” tempo precioso, o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, tem tentado passar a mensagem de que estes 50 dias de governo já granjearam à Grécia mais do que apenas uma substituição da designação troika por instituições. Em especial, o governante grego quer que o “Contrato para a Recuperação e Crescimento da Economia Grega” (aquilo que o espanhol Luis de Guindos prefere chamar terceiro resgate) contenha objetivos menos ambiciosos de contenção orçamental. O acordo vigente com a troika prevê superávits orçamentais primários (excluindo juros) de 4%, em média, até 2020. Uma “exorbitância”, tem repetido Varoufakis, que quer negociar um valor entre 1% e 1,5%. Até agora, a única coisa que o Eurogrupo prometeu à Grécia é que serão fixadas metas de défice “adequadas” e que “não devem colocar em risco a recuperação económica”.
Ainda não se chegou, contudo, a um acordo sobre o número mágico do superávit e sobre o plano de reformas que servirá não só para concluir o segundo resgate como preparar um quase certo terceiro programa, ou contrato, como insiste o governo grego. Kevin Featherstone, Professor da London School of Economics and Political Science (LSE), afirma que “alguns momentos da negociação entre o Syriza e as autoridades da zona euro assustaram a população, e muita fez o que pôde para enviar o dinheiro para fora”. Além disso, as “promessas extravagantes que foram feitas incentivaram alguns eleitores a não pagar impostos. É um cocktail difícil”, diz ao Observador o especialista em Estudos Gregos e políticas públicas da Grécia.
A sondagem que mostra a descida do apoio ao governo Syriza “sugere que a euforia inicial de que o governo Syriza poderia assegurar uma renegociação fantástica com os parceiros europeus deu lugar a um choque com o mundo real“, diz Kevin Featherstone. Tal como o grego Thanos Veremis, Kevin Featherstone, considera que os primeiros 50 dias de Syriza têm sido “tempos de improvisação e aprendizagem rápida“. “A abordagem do Syriza tem sido de populismo progressivo e, nessa base, tem conseguido criar um apoio social alargado. Mas, por definição, esta abordagem dá aos críticos oportunidade para identificar a falta de realismo, as alterações de rumo e contradições entre retórica e substância, o que cria um risco de perda de fé na política“.
"A abordagem do Syriza tem sido de populismo progressivo e, nessa base, tem conseguido criar um apoio social alargado. Mas, por definição, esta abordagem dá aos críticos oportunidade para identificar a falta de realismo, as alterações de rumo e contradições entre retórica e substância, o que cria um risco de perda de fé na política"
Kevin Featherstone, Professor da London School of Economics and Political Science (LSE), especializado em Estudos Gregos.
Thanos Veremis dá nota negativa ao Syriza, até ao momento, mas salienta que “é uma experiência nova e o público está disposto a esperar, até porque o partido Nova Democracia [que estava no governo] é praticamente inexistente como oposição, não tendo sido mudada a liderança”. Apesar de algum “sentimento de deceção” de que fala o grego Thanos Veremis, visto de fora o governo grego continua a gozar de um apoio assinalável, apesar dos “graves danos” infligidos na economia, nota um economista alemão em Londres, Christian Schulz, do Berenberg Bank.
“Poucos governos conseguiram infligir danos tão graves na economia em tão pouco tempo”, diz o economista. “O sistema bancário está de joelhos, a economia a cair de um penhasco, os cofres públicos praticamente vazios, a confiança do resto da zona euro destruída e o acesso aos mercados externos barrado no futuro próximo. Um desastre completo“, afirma Christian Schulz, defendendo que “é assinalável que o apoio interno continue a ser tão elevado”, mais de 60% segundo as sondagens.
Christian Schulz congratula o governo Syriza por “estar a conseguir vender derrota atrás de derrota à mesa das negociações como vitórias em casa”. Em nada estão a ajudar as “propostas a roçar o ridículo e as fugas de informação para a imprensa”, pelo que “será muito difícil negociar e aprovar no Parlamento alemão o terceiro resgate para a Grécia no final da primavera”. As declarações de Alexis Tsipras na quinta-feira não terão caído bem junto do Parlamento e dos cidadãos alemães. O primeiro-ministro grego afirmou, em Paris, que “é absolutamente vital que a Grécia possa ter uma reestruturação da sua dívida pública” e que “não podemos continuar a fingir que a dívida é viável e reembolsável, quando ascende a 178%” do produto interno bruto anual”.
"O sistema bancário está de joelhos, a economia a cair de um penhasco, os cofres públicos praticamente vazios, a confiança do resto da zona euro destruída e o acesso aos mercados externos barrado no futuro próximo. Um desastre completo"
Christian Schulz, economista do Berenberg Bank em Londres
Que nota dar ao governo Syriza até ao momento? Há quem tenha uma visão menos negra do que Thanos Veremis e Christian Schulz. Nicola Marinelli, um gestor de investimentos da Pentalpha Capital, com larga experiência nos mercados da periferia da zona euro, diz que a avaliação “depende de qual era o objetivo do Syriza e se estavam a fazer bluff com as ameaças” que fizeram antes e logo após as eleições. Nicola Marinelli explica melhor: “Se estavam a fazer bluff, não têm tido um resultado mau porque apesar de não irem ter tudo o que diziam querer, deverão ter alguma coisa”, referindo-se a eventuais concessões na negociação com a Europa. Contudo, “se não estavam a fazer bluff, não jogaram muito bem”, diz o investidor, que não tem dívida pública grega mas tem alguma exposição a dívida de empresas gregas.
Mas quaisquer ganhos na negociação com a Europa compensam a recessão e a fuga de depósitos das últimas semanas? “Penso que essas coisas seriam mais ou menos inevitáveis. Qualquer governo teria dificuldades em virar o rumo dos acontecimentos em menos de uma década”, diz Nicola Marinelli. O investidor assinala que “as reformas são essenciais, mas produzem resultados no longo prazo, portanto não há uma solução rápida“, afirma o italiano, lamentando que “até que as coisas melhorem na economia real, a possibilidade de a Grécia sair da zona euro vai continuar na mente dos investidores”.

domingo, 15 de março de 2015

PUTIN... ESTRELA OU VULCÃO!

Vladimir Putin. A marioneta dos oligarcas que decidiu ganhar vida própria

    

                    © Fornecido por Jornal i

 Vladimir Putin é algo mais do que uma incógnita, é um líder que sabe dispor o jogo, iludir, gerir o bluff com toda a frieza, porque a sua ameaça não é vã. Obrigou o mundo a levá-lo a sério. Em 2013 foi a “Forbes” que o elegeu o homem mais poderoso do mundo. Contudo, no mesmo ano, ao tentar traçar o seu perfil, a “Foreign Policy” intitulou o artigo “O distúrbio de personalidade de Putin”. Avisava que, se a estratégia por trás da imagem que foi construída do presidente russo pretende fazer dele um durão, isto não passa de um truque, pois Putin é, afinal, bem mais frágil do que parece. É verdade que o homem que há 15 anos domina a cena política russa permanece, em certa medida, uma aparição, um fantasma.