OS DIAS MINGUAM, AS HORAS REPETEM-SE A UMA VELOCIDADE SEM FREIO!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

AUSÊNCIA

 
 










     





Nema, escrava de Maria

O HOMEM E A HUMANIDADE - PE. JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA


“Alguém duvida que 2000 anos de história da Igreja a tornaram numa perita em humanidade?”    

Escreve que a História do Ocidente teria sido diferente se a teologia de São Boaventura, uma visão mais centrada nos sentidos, tivesse triunfado. Em que é que podia ter sido diferente?
Penso que teria sido diferente no entendimento de nós próprios, na forma como temos uma visão integrada e integradora da Humanidade. A História do Ocidente é muito feita a partir das ideias e será diferente quando valorizarmos outros elementos como os da humanidade, emoções, sentimentos. Se essa fosse a gramática comum, sem dúvida que as nossas competências para construir um mundo mais partilhado seriam outras.

ENTREVISTA por BÁRBARA WONG e SOFIA LORENA | Público 6/10/2014

José Tolentino Mendonça tem um novo livro sobre mística e lembra que a solução para os problemas do mundo “é um gesto unilateral de amor”.

No livro refere que a relação de Jesus com os outros é muito feita a partir dos sentidos. Isso foi-se perdendo. Foi um erro teorizar demasiado a religião?
Eu penso que houve um excesso de doutrinação das religiões, que se tornaram, mais do que experiência e relato de vida – como a catequese narrativa que encontramos nos evangelhos e textos cristãos das origens –, muito escolásticas, doutrinais, apologéticas, com todo o respeito por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Há uma mudança de paradigma na Igreja, de um Papa como Bento XVI que era um teólogo para outro como Francisco que sente, que toca e que está muito ligado aos sentidos?
Agora percebemos as diferenças [entre os dois Papas], mas um dia vamos perceber a linha de continuidade. Mas sem dúvida que representam dois paradigmas, até pelas suas biografias. Uma coisa é um professor de uma universidade alemã, com o peso do conhecimento de que é herdeiro e criador; outra coisa é a linha mais existencial de alguém que se sente um pastor; onde uma conversa como esta, mais ligada aos sentidos, está mais próxima das suas práticas.

Refere no livro que o “místico é aquele que não pode deixar de caminhar”. Bergoglio, antes de ser Papa disse: “antes uma Igreja acidentada do que paralisada”. Esta ideia de caminho é o início de uma mudança na Igreja?
Uma das imagens do Papa Francisco que mais me dá que pensar é a de uma Igreja como hospital de campanha, que é o contrário de uma Igreja isenta que evita correr o risco do jogo de viver, dos seus combates, das grandes problematizações, mas que aceita ser ferida e acolher o homem ferido. Não a pessoa idealizada mas a pessoa na sua circunstância. O hospital de campanha é sempre um espaço improvisado, precário. Esta é uma imagem nova que não se opõe à imagem de uma igreja consolidada, mas é complementar e constitui para toda a Igreja, nomeadamente a europeia, um desafio muito grande. Há um entendimento da sua missão que é diferente. O Papa também nos desafia para uma visão que tem uma novidade grande.

O Papa tem insistido muito nos mais fracos, doentes, nos velhos. No tocar o outro. É essa igreja que é diferente?
É a Igreja como casa aberta a todos. O tocar e amparar o outro, a disponibilidade para acolher. Só depois disso, é possível fazer um caminho. Para a compreensão do fenómeno Papa Francisco são importantes dois aspectos: primeiro, a concepção de Povo de Deus que ele tem, é muito próxima da realidade que se pode ter quando se viaja nos transportes públicos, quando se vive num bairro ou se visita as periferias. Trazer essa noção para o coração da Igreja é um gesto muito importante. Outro é desassossegar, desacomodar a Igreja. O discurso para o interior da Igreja tem sido de uma rara exigência e clareza. Ele tem vergastado os acomodamentos, as instalações numa forma de vida que nos torna insensíveis ao sofrimento dos outros.

Quando descreve as mudanças e exigências deste Papa, de uma Igreja mais próxima do outro, faz sentido falar de mística?
Precisamos de redescobrir a mística. Karl Rahner, um dos grandes teólogos do século XX, diz que “o cristão do futuro ou será um místico ou nada será!”. É preciso dar um conteúdo novo a essa palavra e isso passa por entender a mística não como sentido de interioridade estrita e de fuga do mundo, como foi a de tantas espiritualidades, mas por ser um exercício de reconciliação com o mundo, assumindo o humano como lugar de construção do itinerário crente. Gosto muito da definição de Michel de Certeau, que pus na epígrafe: “É místico aquele ou aquela que não pode deixar de caminhar.” É uma definição minimalista. Quando pensamos em mística, pensamos que não é para nós porque tem um grau de sofisticação, que não tem nada a ver connosco, e esta definição reconduz-nos ao essencial que é compreender que, com o que somos, somos chamados a caminhar.

Com o individualismo em que vivemos, somos chamados a caminhar isolados ou com o outro?
Este é um livro contra o individualismo, mas na certeza que a comunidade só se faz no reconhecimento dos sujeitos. Hoje, um dos problemas nas comunidades é a massificação, em que estarmos juntos implica um apagamento total do indivíduo. Uma comunidade é um encontro no interior das nossas singularidades irredutíveis, que se conjugam em toda uma experiência comum. A diversidade é inapagável, se quisermos fazer uma experiência verdadeira de comunidade.

No seu livro fala da mística dos sentidos. Por exemplo, o olfacto: lembra que nos Evangelhos os perfumes eram importantes na relação de Jesus com os outros. O islão permaneceu mais próximo dos cheiros e dos odores, o incenso é um ritual de fé importante mas também de relação com os outros. O Ocidente afastou-se?
As nossas sociedades ocidentais afastaram-se da Natureza e criámos grandes plataformas de vida e de vida artificial – os ares condicionados, os ambientes neutros. Esse afastamento – que também trouxe vantagens que nos permitem rentabilizar espaços, criar condições favoráveis ao desenvolvimento dos nossos quotidianos –, priva-nos de elementos fundamentais que são a abertura dos próprios sentidos. Há uma espécie de interdito cultural que nos faz viver adiados, aquilo que Ingmar Bergman chama “analfabetos emocionais”, e que não nos faz valorizar dimensões da humanidade que são cruciais para uma experiência plena.

Escreve sobre o espanto das crianças porque vivem todos os sentidos. Manter em nós a capacidade do espanto das crianças é um dos principais desafios?
Uma das perdas mais trágicas é a capacidade do espanto. Quando perdemos a abertura ao desconhecido, a capacidade de encantamento com o real, quando entramos numa espécie de indiferença que não está longe do cinismo... O modelo da criança, da infância, é o contrário do cinismo, é a construção de uma inocência, de um olhar desarmado da realidade, que seja capaz de acolher o perfume que nos chega através da multiplicidade de portas que cada instante tem.

Estamos a conversar num novo momento que se vislumbra ser de desentendimento entre o mundo cristão e o islão devido ao extremismo. Está a aumentar a intolerância de parte a parte?
Este Verão estive no Brasil a dar aulas em Belo Horizonte e há lá um fenómeno urbano em algumas cidades que é o ‘agarra o ladrão’ – há um assaltante que rouba por esticão e os transeuntes têm uma atitude diferente da neutralidade e da indiferença; juntam-se, agarram o ladrão, neutralizam-no e castigam-no, fazem um primeiro castigo ali, em directo. Eu lembro-me de ter passado de carro, ter assistido a uma cena destas e ter sentido que o nosso mundo sucumbe. Se nós aceitamos esta lógica do ‘agarra o ladrão’, do fazer justiça pelas nossas mãos, do responder à agressão com agressão, o nosso mundo, os nossos valores sucumbem, e deixamos, no fundo, de ter uma plataforma comum de entendimento.
Nesse sentido, a resposta que o Ocidente possa dar à violência injustificável de alguns pressupostos políticos que vêm daquela zona do mundo, penso que tem de ser uma resposta muito bem reflectida, para que não nos percamos e não percamos dimensões fundamentais de civilização numa anulação, que sendo a anulação do outro é também a anulação de nós próprios. E depois penso que é preciso valorizar outras dimensões, mais do que apostar num arsenal bélico de armamento e numa indústria de violência, é preciso, de facto, apostar numa indústria da paz, apostar mais na cultura, nas relações, valorizar as dimensões comuns e isso, digamos, é um trabalho que é desempenhado por pessoas individualmente, por missionários, por organizações que muitas vezes fazem isso quase por carolice, com uma falta de apoio muito grande. As pontes que a paz, a aceitação do outro, a curiosidade pelo outro são capazes de tecer são muito mais duradouras e trazem muito mais futuro do que estas respostas que se dão. Respostas que, no fundo, também a nós não podem deixar de nos colocar questões.

Falou de cultura. Nós temos uma história comum que não é bem ensinada, onde só se realçam conquistas e reconquistas militares e muito pouco as relações, a convivência. Talvez parte do problema se pudesse resolver com uma História que realçasse a partilha.
Essa para mim é uma questão fundamental. De que ponto de partida se conta a História?
E uma das grandes falhas neste momento é não termos encontrado uma História que envolva todos os actores. As histórias que nós contamos são em grande medida histórias nacionais, que deixam o mundo de fora. E são histórias com hipertrofrias e anomalias disfarçadas, submersas, mas que desfiguram o próprio relato histórico. Está ainda por encontrar uma História que corresponda verdadeiramente à História do mundo, à História dos homens, do seu encontro. Esse é um trabalho por fazer.

E seremos capazes de o fazer?
Penso que não temos alternativa.

E nas universidades, isso começa a ser feito?
Hoje, as universidades vivem num limiar novo das suas histórias, e isso passa pelo apelo muito grande à internacionalização, às redes de saber, ao acolhimento de outras nacionalidades. Na Universidade Católica temos dezenas de nacionalidades entre alunos e professores, mas esse é o retrato da maior parte das universidades portuguesas e das do mundo, e isso dá-me muita esperança. O futuro será muito menos parcial do que aquilo que foi o passado e o presente.

Estamos a falar desse encontro com o outro, mas para isso também é preciso que o outro esteja disponível. No caso do extremismo islamista não há essa disponibilidade.
Os extremismos e a intolerância são sempre maus, venham de onde vierem. Mas é aqui que penso que as religiões jogam um papel muito importante. Como é que as sociedades se resolvem? No fundo, é perguntar como é que a vida se resolve, como é que a vida se salva. Eu acho que se salva por um desequilíbrio de amor, por um excesso de amor. Se queremos encontrar uma solução para a vida individual ou para a vida colectiva unicamente como um ajuste, como a construção de uma reciprocidade exactamente igual de parte a parte, nunca chegamos verdadeiramente a encontrarmo-nos. Aquilo que resgata a vida é um gesto unilateral de amor. E não sei em que medida é que nós somos educados para esta capacidade de, a um dado momento, como dizia Francisco de Assis, amarmos sem ser amados. Não é só uma questão religiosa, é uma questão política fundamental. Mas, infelizmente, as nossas sociedades reduziram as questões políticas apenas à luta pelo poder e não àquilo que edifica a cidade e a civilização.

Sem essa capacidade de amarmos sem ser amados nunca sairemos deste ciclo de desentendimento? Há sempre pessoas que fazem coisas horríveis.
Há sempre e, nesse sentido, para mim, o elemento político mais importante é o perdão. A ausência de perdão é o fim da esperança. Não é por acaso que nos primeiros livros da Bíblia, que também são livros políticos, se diz que de 49 em 49 anos era preciso haver um perdão, um perdão das dívidas, uma libertação dos prisioneiros. Porque se a justiça se mantém imóvel também se torna injusta.

A certa altura, disse que esta crise ia ajudar a que nos recentrássemos. Já aconteceu?
Penso que hoje nos faltam mestres e mestres de humanidade. Uma sociedade onde o principal discurso é um discurso económico ou economicista é uma sociedade que facilmente entra num beco sem saída e numa desesperança. Tem de haver uma complementaridade de saberes, de olhares, de cruzamentos científicos, e tem de haver uma coisa que nos falta muito que é uma sabedoria de viver. Nós temos muitos saberes, mas em que medida é que eles nos ajudam realmente a ser felizes, a construir uma felicidade e a identificar o que é a felicidade? A identificar por nós próprios, muitas vezes contra-corrente, o que é que verdadeiramente nos faz felizes e lutando por isso. Nesse sentido, a crise é um momento de grande turbulência, de grande sofrimento, mas era importante também que fosse um momento de grande procura, de grande debate, questionamento. E isso, infelizmente, tem acontecido pouco. É muito importante debater o Orçamento do Estado e o orçamento das famílias mas é muito importante não deixar de lado um debate sobre as grandes questões humanas e, no fundo, sobre a construção de uma ética comum.

No livro fala de uma crise de interpretação, de pertença, de nos faltar partilha sobre o essencial. É isso que quer dizer com essa ética comum?
Um dos grandes problemas da nossa sociedade é pensar o que é que nos traz juntos, o que é que nos aproxima dos outros, o que é que nos liga, para além de parecemos cada vez mais dispostos, como denuncia o Papa Francisco, a considerar camadas de população como pessoas descartáveis. No fundo, a grande questão é se queremos estar todos juntos e o que é que nos liga verdadeiramente como sociedade. E aqui precisamos de facto de uma reflexão profunda que passa por pensarmos um ideário nacional, mas também por colocarmos as questões do ponto de vista humano. E isso é uma tarefa que temos diante de nós irrecusável.

E essa tarefa, de alguma maneira, vai conseguir fazê-la na Comissão Nacional de Ética e para as Ciências da Vida (CNECV)?
Eu não sei se irei para lá, o nome foi proposto. Para mim, é muito claro a necessidade de criarmos consensos, de nos escutarmos mais uns aos outros até ao fim e de afirmarmos valores comuns, e essa área precisamente, da ética, da vida, parece-me que é fundamental, não só do nosso presente mas do caminho que juntos queremos fazer. Sem dúvida que é um dos debates fundamentais que uma sociedade tem de travar.

Foi proposto pelo CDS e isso criou alguma celeuma. Não será o primeiro padre na comissão mas é o primeiro que não é cientista ou ligado à área da saúde. Até que ponto sabe de Ciências da Vida para estar na CNECV?
A ponderação dos percursos e das competências caberá a outros. Eu mostrei a minha disponibilidade no sentido de ter consciência do valor muito grande da causa em si mesma, do que ela representa e pela vontade muito grande de estabelecer diálogos, de procurar a construção de consensos sociais numa área que me parece extraordinariamente sensível para a coesão do nosso projecto humano e social e também por aquilo em que acredito. Aquilo em que acredito não me opõe aos outros e abre-me à escuta e ao caminho comum com os outros.

Mas haverá debates mais complexos, de choque, entre as posições da Igreja e as posições de outros.
Uma comissão é uma comissão, é diferente de uma assembleia eclesiástica ou de uma comunidade eclesial. Hoje, na modernidade, a Igreja sabe ser parceira do diálogo civil, sabe que é uma das componentes de um diálogo mais vasto, onde ela está presente e representada e sabe que é chamada a caminhar ao lado dos outros e que precisa também do olhar e da voz dos outros para poder ser artesã de um mundo mais humano.

Falou da escuta. Pode ser essa a sua contribuição?
A mim a diferença não me intimida, complementa-me e fascina-me.

Mas, no final, vai sempre dizer o que a Igreja diz.
Não, se eu estou num órgão no final o que o órgão vai dizer é o que sair do órgão. E o que se espera de um conselho é que os vários conselheiros reflictam as suas proveniências, as suas experiências, os seus modos de viver e construam linhas comuns de entendimento. A construção social não se faz no apagamento das singularidades, das experiências próprias, pelo contrário, faz-se no contar com isso, no perceber como isso é uma riqueza, um potencial. Será que alguém tem dúvidas que estes 2000 anos de história da Igreja a tornaram numa perita em humanidade? Mesmo com todos os erros e, muitos deles, trágicos. Mas alguém tem dúvidas que a Igreja dá o contributo para a coesão social, está numa proximidade fundamental com as populações desfavorecidas, é muitas vezes a instituição que reconhece a vida mais frágil e que é capaz de a defender, de lhe dar lugar. A posição de um homem da Igreja na cultura não é de superioridade nem de menoridade, a Igreja é um parceiro e um parceiro que sabe respeitar as regras do jogo.

Há muitos lugares do mundo onde ninguém está a não ser a Igreja.

Onde ninguém quer estar. Vimos, por exemplo, neste surto de ébola, a quantidade de missionários. Isto é, quem é que está na ponta última, na fronteira da humanidade mais frágil? A Igreja não é a única, mas há aqui também um capital, um património humano que é no fundo a grande riqueza da Igreja neste convívio humano, nesta conversa humana que ela é.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O EXÉRCITO COM O ROSÁRIO DE MARIA

SENHORA DO ROSÁRIO, DA VITÓRIA, MÃE AUXILIADORA!

Uma grande vitória da Igreja Católica e da Civilização Cristã: hoje comemoramos 443 anos da Batalha de Lepanto

 6, 1O- Deixar um comentário  2014
 NOSSA SENHORA INTERCEDE PELA VITÓRIA DA ESQUADRA CATÓLICA NA BATALHA DE LEPANDO
No dia 7 de outubro de 1571, o enfrentamento das esquadras católicas contra as do Islã, no golfo de Lepanto, salvou a Civilização Cristã de terrível dano:
A invasão — cujas consequências seriam incalculáveis — do continente europeu pelos mouros. Por intercessão de Maria Santíssima, apesar da enorme desproporção de forças, a armada católica saiu magnificamente vencedora.

Para esta importante data ressaltamos um comentário de Plínio Corrêa de Oliveira, feito em 7-10-75, dia em que também se comemorou o triunfo da Cristandade na Batalha naval de Lepanto.
Vou destacar aqui um herói da batalha de Lepanto, a respeito do qual pouco se fala. Esse herói foi o Papa São Pio V.
O Pontífice via bem o poder otomano crescer cada vez mais, e o perigo de os otomanos se jogarem sobre a Itália ou sobre qualquer outra parte da Europa, e operarem uma invasão que poderia ter efeitos tão ruinosos ou talvez mais ruinosos do que teve a invasão dos árabes na Espanha, no começo da Idade Média.
Nessa situação, São Pio V tinha que apelar naturalmente para o varão que era o apoio temporal da Igreja naquele tempo: Felipe II, Rei da Espanha.
O Imperador do Sacro Império Romano Alemão não tinha condições, por causa da divisão religiosa no império [em razão da revolução protestante], de lutar eficazmente contra os mouros. A França estava corroída por uma crise religiosa muito grande, guerra de religião etc.
O Papa só podia contar, dentre as grandes potências católicas, com Felipe II de um lado, e, de outro, com Veneza, que dispunha de grande poder marítimo.
Caso Felipe II se retraísse, a horda maometana desataria sobre a Itália, e depois atingiria toda a Cristandade. Seria o fim da Civilização Cristã no Ocidente. Não seria o fim da Igreja, porque ela é imortal; mas, ao que a Igreja poderia ficar reduzida, ninguém sabe.
Se não fosse a pressão de São Pio V, não se teria realizado a Batalha de Lepanto, porque a Espanha não teria mandado sua esquadra. Esta era o grande contingente decisivo dentro das esquadras aliadas que lutaram e venceram em Lepanto.
Assim se compreende melhor por que razão houve a famosa aparição a São Pio V: ele estava numa reunião de cardeais, em Roma, e em certo momento levantou-se e rezou um terço pela vitória dos católicos sobre os maometanos, decisiva para a Cristandade.
Enquanto o Papa rezava o terço, teve a revelação da vitória das esquadras católicas.
São Pio V foi um verdadeiro herói, como Dom João d’Áustria e os outros grandes guerreiros que venceram em Lepanto.
 Esta comemoração foi instituída pelo Papa São Pio V no aniversário da vitória obtida pelos cristãos na batalha naval de Lepanto e atribuída ao auxílio da Santa Mãe de Deus, invocada com a oração do Rosário(1571). A celebração deste dia é um convite a todos os fiéis para que meditemos mistérios de Cristo, em companhia da Virgem Maria, que foi associada de modo muito especial à Encarnação,à Paixão e à Ressurreição do Filho de Deus.
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DE NOVO O EXÉRCITO COM O ROSÁRIO E COM MARIA SENHORA DOS POVOS E MÃE AUXILIADORA PREPAREMO-NOS EM ORDEM DE BATALHA...
Hoje, nos vemos em meio aos erros disseminados pelo comunismo, como a cultura de morte (aborto, eutanásia, eugenia), as ideologias (feminismo, ideologia de gênero), o ateísmo e tantos outros modos de perversão dos costumes (materialismo, hedonismo, sexo livre), que ameaçam as nossas vidas, as famílias e a sociedade. Como no passado, estamos diante de adversários que somos incapazes de superar a não ser pela intervenção de Deus. Por isso, as mensagens de Nossa Senhora pedindo a conversão e a oração tornam-se mais do que nunca atuais. Em resposta aos apelos da Mãe de Deus, para nos livrar destas ameaças, rezemos o Santo Rosário, façamos penitências, jejuns, sacrifícios, oferecendo-os especialmente pela conversão dos pecadores. Além disso, Nossa Senhora diz: “Deus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração” pela salvação dos pobres pecadores, por isso, nos consagremos ao Imaculado Coração de Maria, oferecendo a ela todas as nossas boas obras.
Nossa Senhora do Rosário, rogai por nós! 


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SER JORNALISTA EM PORTUGAL: NEM INFERNO NEM PARAÍSO

SER JORNALISTA EM PORTUGAL: NEM INFERNO NEM PARAÍSO
 
REFLEXÃO PESSOAL
 Estando eu a tentar organizar o meu sótão das minhas pastas cujos conteúdos ainda permanecem intactos e dos muitos livros dos quais ainda não me desfiz, pois todos os manuais escolares já foram enviados para as entidades que necessitavam deles, dei comigo a tirar o pó de uma pasta de Jornalismo( pois tudo na biblioteca estava e está organizado por temas ou nomes). E ao ver ou melhor rever os trabalhos da Disciplina de Introdução ao Jornalismo, que leccionei por alguns anos, mas depois foi retirada do Sistema de Ensino, fixei-me num dos testes que fizera para os alunos de 10º e 11º que haviam escolhido essa disciplina, e... como se escreve hoje o que é memória amanhã, não me contive e escolhi dois textos que utilizei  na época, para testes, para mostrar um pouco acerca do jornalismo de então na opinião de dois directores: Jean-François Leven, Director da delegação da AFP em Portugal e Patrick Nicholas Reyna  Chefe da delegação da AP em Lisboa.( Estávamos nos finais da década de oitenta)

Artigo de Jean- François
« O duplo aspecto da imprensa portuguesa, rica na quantidade dos títulos e pobre em meios materiais, repercute-se no estatuto e na actividade dos jornalistas, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Depois de um ano em Portugal como director da delegação.....em Lisboa, parece-me que há uma lição a tirar sobre as possibilidades que este país oferece aos jornalistas.
   A vida do jornalista  em Portugal já não é o inferno que foi até 1974, quando a censura reinava, mas ainda não é o paraíso que a democracia recuperada prometia. Portugal, e nomeadamente o sector da imprensa, tem os defeitos ... das suas quantidades: não há propriamente, segundo me parece, uma tradição de informar em Portugal, nem nas administrações, nem nas empresas, nem nos partidos políticos, nem mesmo por vezes, nos órgãos da imprensa. Neste caso o jornalista perde muitas vezes o seu tempo a encontrar a pessoa qualificada ou que esteja habilitada a falar. Quando o jornalista a encontra, acontece muitas vezes que faltam estatísticas ou referências.
   A amabilidade que dispensa aquele que dá as informações a um jornalista que num português balbuciante o assalta com perguntas, não chega a suprir as deficiências da informação. Falta muitas vezes a rapidez essencial para os órgãos de imprensa internacionais e especialmente para as  agências.
   Ainda não se chegou à conclusão em Portugal de que vale muito mais uma informação parcial a tempo e horas do que uma notícia completa já fora do tempo.»

 Por que escolhi este texto? Talvez a duas décadas e meia de distância, já nem um profissional de imprensa escrita será capaz de responder! Nessa época, uma notícia, era Notícia na hora... 24 horas depois já estava "fora do tempo", como conclui o autor do artigo.
 Artigo de Patrick Nickolas
« Nas horas de ponta, os jornais estão em evidência nos autocarros, nos eléctricos, nos comboios e nas movimentadas ruas portuguesas e americanas.
Entram igualmente nos escritórios, nos cafés, nos "snack-bars" a todas as horas do dia. Portugueses e norte-americanos ligam os seus rádios, de hora a hora, para ouvir as notícias. Ou, então, tomam conhecimento dos acontecimentos do dia, através da televisão.
  Mas o leitor português, bem informado, pode em qualquer altura, conhecer os assuntos com interesse de qualquer continente, enquanto os americanos estão geralmente, ao corrente somente de dois ou três desses mesmos acontecimentos.
   Nos dois países, podem-se encontrar notícias diferentes nos respectivos jornais. rádios ou televisões. A maior diferença que existe, entre eles, está no facto de os mass media em Portugal publicarem um maior número de notícias internacionais do que os americanos, o que poderá constituir um bom exemplo para os jornalistas de além-atlântico.
  Por outro lado, alguns jornais em Portugal tendem a seguir um rumo editorial muito próximo do partido político da sua simpatia. Tais jornais também existem nos Estados Unidos. Mas o leitor português interessado em obter uma visão completa de um determinado acontecimento, terá, por vezes, que ler pelo menos dois ou três o mesmo quatro ou cinco jornais diferentes.
  É também verdade que nos Estados Unidos, com os seus dois partidos principais, existem jornais com preferências para um ou outro lado. Muitos desses  mesmos jornais mudam frequentemente de partido.
No entanto, a política geral na informação, requer normalmente uma investigação à declaração de uma determinada individualidade do seu partido ou da chefia de um grupo. Assim como também a uma contra- declaração do partido ou grupo oponente.»
 
Este segundo artigo expõe a notícia tendenciosa, pois uma notícia para o ser o jornalista tem de ter atenção ao conteúdo escrito com precisão e isenção. Duas características que quem escrevia tinha de ter presentes... E HOJE??? Será que o jornalista ainda sabe escrever com isenção?
Passámos o século e já vamos a caminho da terceira década! Fica a dúvida...Os meios de comunicação continuarão a informar com verdade e isenção!? Quem escreve é capaz de calar as suas preferências, para dar a conhecer os eventos com exatidão, mesmo pondo em causa a sua pessoa!?
 Nema, escrava de Maria

domingo, 5 de outubro de 2014

QUANTAS OVELHAS PERDIDAS... DEVIDO AOS MAUS PASTORES!

Papa Francisco critica "maus pastores" que sobre carregam as pessoas

Jornal de Notícias    
A cerimónia, presidida pelo pontífice argentino, reuniu no Templo Vaticano as autoridades eclesiásticas e outros participantes da assembleia sinodal que, além das questões da família, irá tratar de temas "urgentes" como a pobreza, a imigração e a violência.

© Fornecido por Jornal de Notícias

Após a leitura do Evangelho, o papa pronunciou a homilia, na qual   chamou    a "cooperar" os participantes no sínodo para cuidar das famílias.
Francisco criticou "os maus pastores" que sobrecarregam as    pessoas   "com fardos ou responsabilidades que eles mesmos não assumem".
Recordou que os bispos são chamados a "cultivar, dirigir e cuidar" do povo "com liberdade, criatividade e labor", uma missão que - acrescentou -    pode     ser frustrada "pela cobiça do dinheiro e do poder".
O bispo de Roma recordou que as assembleias sinodais "não    servem     para discutir ideias brilhantes e originais, ou para    ver    quem    é          mais inteligente...servem para cultivar e guardar a vinha (povo) do Senhor".
Jorge Bergoglio realçou ainda a responsabilidade do clero de "cuidar da família", mas alertou também que os membros da Igreja podem ter a "tentação de apoderar-se" da sociedade.
"O sonho de Deus sempre se enfrenta com a hipocrisia de alguns dos seus servidores. Podemos frustrar o sonho de Deus se não nos deixarmos guiar pelo espírito Santo", disse.

Na assembleia extraordinária do sínodo dos bispos, que decorre até 19 de Outubro, participam 253 pessoas, entre bispos, presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, chefes de igrejas católicas orientais e membros da Cúria Romana.
 
  ORAÇÃO
 
JESUS!
TU ÉS O BOM PASTOR, QUE CONDUZES AS TUAS OVELHAS
ÀS PASTAGENS VERDEJANTES.
TOMA-ME, ENTRE AS TUAS OVELHAS,
COMO A MAIS FRACA, A MAIS DÉBIL,
AQUELA QUE PRECISA DE CUIDADOS ESPECIAIS,
SEM OS QUAIS SUCUMBE AO PRIMEIRO EMBATE E MORRE.
PEGA EM MIM AO COLO E CUIDA DE MIM,
PORQUE PRECISO DE TI. EU CONFIO EM TI!
SÓ EM TI ME ABANDONO, ESPERANDO NA TUA MISERICÓRDIA.
SEI QUE VELAS POR MIM, E POR ISSO, ESTOU TRANQUILA.
JESUS DÁ-ME A VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA.
ABRE-ME O TEU CORAÇÃO
E AÍ, FAZ-ME MERGULHAR NO TEU AMOR.
NO TEU AMOR INFINITO E A PERMANECER OCULTA
ÀS SEDUÇÕES DO MUNDO PERVERSO E DECADENTE...
FORTALECIDA POR TI, SEREI SUFICIENTEMENTE FORTE
PARA PERMANECER TUA ESCRAVA, MARCADA PELA TUA CRUZ.
ASSIM SEJA!
Nema, escrava de Maria
 

ROSÁRIO AO VIVO NO MÉXICO

Fiéis mexicanos se reúnem para rezar o tradicional Rosário Vivo
1 de Outubro de 2014 / 0 Comentários
 Cidade do México - México (Quarta-feira, 01-10-2014, Gaudium Press) Por ocasião do mês do Rosário, comemorado no mês de outubro, e por ocasião da solenidade de Nossa Senhora do Rosário -festividade que se celebrará no próximo dia 07-, a Arquidiocese do México realizará o tradicional.
Rosário Vivo, evento massivo que ocorre há 23 anos.

Rosário Vivo de 2013.jpg
Imagens do Rosário Vivo de 2013, que esteve marcado nas celebrações do Ano da Fé
A data para este encontro será o próximo sábado, 11 de outubro, no grande Estádio Azul da Cidade do México, onde se espera a numerosa participação dos fiéis dos oito vicariatos episcopais da Arquidiocese capitalina, assim como a presença do Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo Primaz do México, que mais uma vez presidirá o evento mariano.
De acordo com Dom Pedro Agustín Rivera, Capelão do Templo Expiatório a Cristo Rei -antiga Basílica de Guadalupe- e responsável da Comissão de Eventos Evangelizadores Massivos da Arquidiocese do México, o propósito do Rosário Vivo é animar a Fé, assim como o amor a Jesus através da Santíssima Virgem, assim como orar pelas necessidades do país e do mundo. "O Santo Rosário nos unirá e capacitará para pedir fervorosamente por todas as famílias, por nossa Pátria e pela continuidade do projeto missionário em nossa Arquidiocese", acrescentou.
"Com a alegria do Espírito ao encontro das novas gerações" será o lema do encontro que neste ano de 2014 elevará a Deus uma oração especial pela paz no mundo e os cristãos que são perseguidos pela sua fé, pedindo a mediação da Virgem Maria.
Como já antecipou Dom Pedro Agustín Rivera ao convidar os fiéis da Diocese para que se unam ao encontro de Fé, espera-se que o Santo Padre Francisco envie uma mensagem aos capitalinos por ocasião da festa mariana, como já ocorreu nas outras edições do encontro, onde se fez a leitura das mensagens dos pontífices.
O evento será iniciado às 16h com um momento de louvor através da oração, o canto, a música e a pregação. Às 18h o Cardeal Rivera presidirá a oração do Santo Rosário, e às 19h, a Adoração Eucarística, que seguirá com a procissão e a Bênção com o Santíssimo Sacramento.
Entre os convidados se contará com a presença do Padre Álvaro Lozano Platanoff, Diretor da Comissão de Cultura da Arquidiocese do México, que fará referência à importância da inclusão dos leigos no projeto missionário da Arquidiocese. Também acompanhará aos milhares de fiéis Alejandra  María Sosa, escritora católica, que oferecerá uma reflexão sobre a alegria da Nova Evangelização; assim como a Associação de Artistas de Missionários Eucarísticos, que farão a animação musical, além de vários fiéis que compartilharão seus testemunhos sobre a tarefa evangelizadora.
Como um gesto de solidariedade está se animando aos capitalinos que participem do Rosário para que doem algum alimento não perecível que logo será entregue aos mais necessitados através das iniciativas que adianta a Cáritas da Arquidiocese do México.
O Rosário vivo é um dos três eventos multitudinários que ocorrem anualmente na jurisdição eclesial mexicana. Os outros dois são a peregrinação anual à Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe e a festa de Corpus Christi. (GPE/EPC)
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QUEM OUSA DIZER QUE DEUS NÃO EXISTE?!

Na vinha de Deus, a colheita é de justiça e paz: Meditação sobre o Evangelho de Domingo(05-10-2014)







Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe.
Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo.
Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: “Respeitarão o meu filho”. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: “Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança”. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?».
Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo».
Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos”? Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos». (Mateus 21, 33-43, Evangelho do 27.º Domingo do Tempo Comum)
 
O homem dos campos, o nosso Deus camponês, olha para a sua vinha com os olhos do amor e rodeia-a de cuidados: que coisa pode ser feita por ti que Eu não tenha feito? Canto de amor de um Deus apaixonado, que faz por mim o que nunca ninguém fará.
Que colheita espera o Senhor? Isaías: esperava justiça, esperava retidão, não mais os gritos dos oprimidos, não mais sangue. O fruto que Deus espera é uma história que não gere mais oprimidos, sangue e injustiça, fugas desesperadas e náufragos.
Nas vinhas o tempo é da colheita. Para nós é-o cada dia: vêm pessoas, procuram pão, Evangelho, justiça, coragem, um raio de luz. O que encontram em nós? Vinho bom ou uva amarga?
A parábola caminha, no entanto, para um horizonte de amargura e violência. Em contraste com a baixeza dos vinhateiros emerge a grandeza do meu Deus camponês (Veronelli dizia que chamar «camponês» é o mais belo cumprimento que se pode fazer a alguém), um Senhor que não se rende, que nunca é escasso de maravilhas, que não desiste e recomeça depois de cada recusa a envolver o coração com novos profetas e servidores, e por fim com o Filho.
Este é o herdeiro, matemo-lo e ficaremos nós com a herança! A parábola é transparente: a vinha é Israel, os vinhateiros ávidos são as autoridades religiosas, que matarão Jesus como blasfemo. A motivação é a mesma: interesse, poder e dinheiro, ficar com a colheita e a herança.
É a voz obscura que grita em cada um de nós: sê o mais forte, o mais astuto, não te importes com a honestidade e serás tu o chefe, o rico, o primeiro. Esta embriaguez por poder e dinheiro é a origem de todas as vindimas de sangue da terra.
O que fará o proprietário? A resposta das autoridades é segundo a lógica judiciária: uma vingança exemplar, novos vinhateiros, novos tributos. A sua ideia de justiça funda-se na eliminação de quem comete erros. Jesus não está de acordo. Ele não fala de fazer morrer, nunca. O seu propósito é fazer frutificar a vinha: será dada a um povo que produza frutos.
A história perene de amor e traição entre Deus e o homem não terminará nem com um fracasso nem com uma vingança, mas com a oferta de uma nova possibilidade: dará a vinha a outros.
Entre Deus e o homem as derrotas servem apenas para realçar melhor o amor de Deus. O sonho de Deus não é nem o tributo finalmente pago nem a condenação a uma pena exemplar para quem errou, mas uma vinha, um mundo que não amadureça mais cachos vermelhos de sangue e amargos de lágrimas, que não seja uma guerra perene pelo poder e pelo dinheiro, mas que amadureça uma vindima de justiça e de paz, a revolução da ternura, a tríplice cura de si, dos outros e da criação.

 P. Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: SNPC/rjm
Publicado em 04.10.2014

QUEM NÃO CONECE A MAFALDA????? fAZ 50 ANOS!

Mafalda fez 50 anos mas continua uma criança

Vestido aos quadrados, bandolete entre os cabelos e os inevitáveis brincos. Nem mesmo quando cumpre os afazeres domésticos, Raquel - mãe burguesa modelo - renuncia a uma nota de elegância. Está a preparar-se para passar a ferro quando, inesperadamente, a filhota se coloca atrás de si. Não dá conta dela, até que é atingida por uma das habituais estocadas verbais: «Mamã, porque é que há gente pobre?».
Meio século e centenas de vinhetas não mudaram Mafalda. A menina morena e espevitada de Buenos Aires continua a provocar com as suas frases ingénuas e, ao mesmo tempo, embaraçantes. Porque a pequena ainda não aprendeu as regras da convivência e do politicamente - ou socialmente - correto. O mundo adulto é para ela um mistério a explorar. E para o fazer interroga, com a desmesurada liberdade dos seus seis anos, pais, professores, vizinhos. As perguntas são tão concretas que parecem absurdas. Ou talvez absurda seja a hipocrisia atrás da qual os "grandes" escondem as suas contradições. Em 2014 como em 1964.
Era o dia 29 de setembro quando na revista "Primera Plana" apareceu pela primeira vez a sua cabeleira rebelde. A desenhá-la estava a mão de Joaquín Salvador Lavado Tejón, "Quino" como nome artístico. «Sim, Mafalda é mesmo uma chata», ri o autor que, aos 82 anos, é um dos mais célebres desenhadores latinoamericanos vivos. Também - e em boa parte - graças àquela «chata».
O primeiro livro de Mafalda, publicado na Argentina em 1966, esgotou em quinze dias. Em meio século, as suas tiras - publicadas em 50 países e traduzidas em 20 línguas - venderam 50 milhões de cópias.
O dado mais surpreendente é que continuam a vender. Mafalda não envelheceu. É impressionante como as suas «perguntas inconvenientes» parecem escritas precisamente para realçar os contrassensos da nossa sociedade.
«Nunca imaginei que pudesse permanecer tão atual. Quando parei de a desenhar, em 1973, não pensava que Mafalda pudesse continuar a ter um tal sucesso. Surpreende-me o afeto que as pessoas nutrem ainda em relação a ela. As crianças, sobretudo... O que, por um lado, me alegra. Por outro, no entanto, entristece-me. Quer dizer que o mundo, as suas injustiças, as desigualdades, os conflitos - problemas, em suma, que Mafalda denunciava há meio século - permaneceram imutáveis. Na verdade, se alguma coisa mudou, foi para pior... Mas eu sou um pessimista.»
E no entanto, ao lê-la, não se diria. Mafalda tem um toque poético mesmo quando diz e mostra o que não queremos ver... Precisamente pelo seu conteúdo social, muitos consideram-na uma banda desenhada para adultos. Está de acordo?
«Sim. Como, de resto, também o Snoopy e a Pantera Cor de Rosa não são bandas desenhadas para crianças. Limitei-me a meter na boca de uma menina de seis anos conceitos simples e, por isso, subversivos.»
«A Mafalda foi criada para publicitar uma nova linha de eletrodomésticos chamada Mansfield. A agência Agnes Publicidad entregou o trabalho a Miguel Brascó, mas como ele tinha outros compromissos, passou-o a mim. Isto foi em 1963. Mas a campanha nunca se fez e as oito tiras que desenhei ficaram guardadas numa caixa. Até que no ano seguinte Julián Delgado, secretário de redação da "Primera Plana", me pediu uma pequena história. Então resgatei essas tiras, e bom, foi assim que tudo começou.»
Quino desejava que Mafalda fosse absolutamente reconhecível, e para tal escolheu a sua massa de cabelos negros e largos.
Recorda-se da primeira vez que a desenhou?
«Sim. Foi no meu apartamento, na rua Cile, 371, no coração do bairro histórico de San Telmo, em Buenos Aires. Defronte está agora uma estátua sua, com as palavras: "Aqui viveu Mafalda".»
Sinal de quanto esta personagem é importante para a Argentina... E não só. Sabe que o papa Francisco, quando era ainda cardeal, citou uma tira da Mafalda?
«Disseram-mo e isso deixou-me espantado. Em 2009, o então arcebispo de Buenos Aires repreendeu alguns dirigentes da Cáritas local por terem festejado um aniversário num restaurante de luxo. Então exortou-os a não fazerem como a Susanita, a amiga de Mafalda.»
Banda desenhada
A intervenção de Bergoglio ocorreu no canal da arquidiocese: «Num dos centros [Cáritas] fizeram uma festa para um colaborador. A festa foi preparada num dos 36 restaurantes de luxo que há em Puerto Madero, em Buenos Aires, onde a refeição mais económica custa 250 pesos; 36 restaurantes que estão a um km do tugúrio de uma Villa Miseria. Se tu entras no âmbito da solidariedade da Cáritas, os teus hábitos devem mudar. Não te podes permitir certos luxos que te concedias antes da tua conversão».
A propósito de comida... Ficou célebre o ódio de Mafalda à sopa. Partilha-o?
«Não, eu gosto. Não gostava quando a minha mãe, era eu pequeno, me obrigava a comê-la. A sopa tornou-se, na banda desenhada, a alegoria de todos os regimes militares que tivemos de sofrer na América Latina. A eliminação que fizeram de toda a liberdade, com a violência e a repressão, foi repulsiva. Como a sopa para as crianças.»
Porém, durante a última feroz ditadura na Argentina, de 1976 a 1983, a "subversiva" Mafalda não foi censurada...
«Isso diz muito de quanto os militares percebiam de arte...»
 
Entrevista e depoimento: Avvenire, www.todohistorietas.com.ar
Edição e tradução: Rui Jorge Martins
Publicado em 03.10.2014