Fé na universidade: Criadora de cultura e estímulo para a razão
Se no passado se acusava a fé de ser dogmática e absolutista, hoje outras disciplinas acadêmicas correm o perigo de ocupar esses mesmos predicados. Um exemplo? Há alguns anos, 2009, o Papa Bento XVI quis fazer uma exposição académica na grande Universidade "La Sapienza" de Roma, mas não foi possível pelo clima anticlerical, alimentado por um pequeno grupo de professores e alunos. Diante do facto, surgiu espontaneamente a pergunta: Qual a natureza e missão da Universidade? Recusar? Cercear? Cancelar?
Se a Universidade é, por sua natureza, um “espaço plural”, onde são estudados e aprofundados “diversos temas” pelo diálogo, é prepotente e antidemocrático ver uma instituição desse porte posicionando-se ideologicamente contra a sua própria missão, excluindo de antemão uma das partes da possível proposta. O acontecido é significativo por ser uma Universidade, detentora do saber, a colocar-se contra o seu próprio método de buscar a verdade.
Não se pode tirar a Universidade do seu papel de manter uma "reflexão crítica e aberta” em todos os níveis, e não cabe a ela romper o diálogo ou excluir uma das partes. A busca da verdade está nos fundamentos de toda a instituição educacional. É perigoso e até falso ver uma ciência exata ou uma cadeira universitária posicionar-se como a única detentora do conhecimento. O verdadeiro cientista sabe que a sua reflexão apenas chega até um ponto e, provavelmente, poderá ser ampliada por outros conhecimentos ou pontos de vista. A partilha de conhecimentos diversos é o foro íntimo das Universidades.
Qual a missão da Universidade na procura pela verdade? E que papel a ciência desempenha nessa procura? Nenhuma ciência é absoluta e, por conseguinte, ela não pode ser o único critério possível da razão.
Ciência e fé devem relacionar-se e reconhecer-se, caso ambas busquem realmente o bem e a verdade. Uma ciência verdadeira, ciente dos seus limites, é capaz de dialogar com a fé e esta com aquela, sem prejuízo de uma busca honesta e racional. Algumas das nossas Universidades, nesse sentido, são exemplares.
O papel da Universidade é confrontar conhecimentos e competências e posicionar-se contra todo preconceito, também o anti religioso. Quando o diálogo cessa, a história fecha-se e torna-se perigosa.
Vejo o cientista como um colaborador de Deus na criação continuada na história, e não como um concorrente ou usurpador. Quem pensa que “a vida é uma coisa séria” já é implicitamente religioso. Após o inverno da secularização entramos agora num período “pós-secular” e pluricultural, onde o discurso religioso se apresenta ao mundo de diversas formas.
A fé não é um dado fraco, nem para ser vivida entre quatro paredes, mas um estímulo para a razão; cria cultura e concretiza-se no meio do povo. Um estado laico não precisa ser necessariamente ateu e antirreligioso, pois se for democrático respeitará as diversidades culturais e religiosas dos seus cidadãos.
Por cima de toda ciência está a vida que faz aquela possível. Redescubramos, pois, também na Universidade a beleza da fé.
José Ramón F. de la Cigoña
In “Periodista Digital”
Publicado em 19.06.2015
In “Periodista Digital”
Publicado em 19.06.2015
Fonte: Pastoral da Cultura