ALETEIA BRASIL
Mais que a tragédia, é a trajetória da Chapecoense o que comove o planeta
O time humilde do interior do Brasil que, em seis anos, ascendeu imparavelmente da Série D para a Série A no mais fanático por futebol de todos os países da Terra. O time humilde, simbolizado por um indiozinho, que, em seis anos, chegou a superar gigantes nacionais e internacionais para atingir o seu ápice -até agora!- numa final de Copa Sul-Americana contra o atual campeão continental. Por si só, já é um roteiro de filme capaz de atrair a atenção e a admiração não só de um país, mas de um mundo não menos apaixonado pelo esporte das massas.
Do meio da tragédia que ceifou 76 vidas nas montanhas da Colômbia, é a trajetória de “conto de fadas” da Chapecoense que vem se elevando por sobre todo o planeta como uma lenda indelével do esporte mundial.
O mundo ressequido de frustrações, decepções e medos tem sempre sede de histórias de coragem, superação e conquista. O mundo sempre precisou do Davi que vence o Golias, do pequeno que se torna não apenas grande, mas grandioso, porque cresceu com a própria luta e determinação, contrariando com coragem resiliente todo o prognóstico da mediocridade.
Por volta de 2002, 2003, ainda era possível passear pela Avenida Getúlio Vargas, no centro de Chapecó, e ver não apenas torcedores da Chapecoense, mas os próprios jogadores do time vendendo cartelas de rifa aos transeuntes para tentar fechar as contas da associação. Seus diretores se viram tentados não apenas uma vez a literalmente pendurar as chuteiras, entregar os pontos e extinguir aquele time regional, praticamente desconhecido fora de Santa Catarina, que, há menos de 10 anos, esteve a ponto de ser rebaixado até mesmo no campeonato estadual.
Chapecó tem hoje, em 2016, 99 anos de história. É uma cidade cuja trajetória guarda impactantes semelhanças com a do seu time do coração, a ponto de, hoje, cidade e time se confundirem como se fossem um só. Chapecó foi levantada por pioneiros que a construíram no coração do não apenas longínquo, mas quase incomunicado Oeste Catarinense do início do século XX, terra bravia de cuja conquista eles se reconhecem orgulhosamente como os “desbravadores”. É a cada desbravador que Chapecó dedica o seu monumento-símbolo: uma estátua de machado afiado na mão esquerda e com o louro da vitória alçado firme na direita, que se ergue, imponente, no centro da cidade – e que, hoje, veste a faixa do luto.
Foi o espírito desbravador e pioneiro dos seus cidadãos que fez Chapecó não desistir daquele pequeno time regional, de aparência frágil, mas de espírito indômito, porque ele encarnava o mesmo sonho de ascensão e conquistas que tinha transformado a vila insignificante de 1917 na cidade-pólo de uma região que abriga mais de 1 milhão de habitantes não apenas no oeste de Santa Catarina, mas, cruzando divisas, também abraça o sudoeste do Paraná e o noroeste do Rio Grande do Sul.
E, assim como a cidade vem se tornando rica e espalhando os frutos do seu empreendedorismo países afora, sob a inspiração do cooperativismo que a faz crescer enquanto crescem os seus filhos, também a Chape foi aos poucos conquistando no futebol um espaço que muitos dos 140 municípios brasileiros maiores e mais populosos que Chapecó ainda não acariciaram.
Da Série D do Brasileirão em 2009 para a Série C em 2012, da Série B em 2013 para a Série A em 2014, da primeira partida internacional em 2015 para a primeira final Sul-Americana em 2016, deixando pelo caminho times históricos e de orçamento milionário, a saga que os jornais da Europa qualificaram de “conto de fadas” é especialmente inspiradora em tempos de longa e desgastante crise não apenas dos bolsos, mas, principalmente, dos espíritos. É a saga daqueles que decidiram subir e subiram. É a saga daqueles que, mesmo agora, soterrados pelos escombros do pesadelo, do vazio e do absurdo, querem continuar subindo, de pés firmes sobre a terra, mas de olhos fixos no sonho.
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HÁ TAÇAS E TAÇAS, VITÓRIAS E VITÓRIAS! A DE CHAPECOENSE É E SERÁ IMORTAL! |
Não é a tragédia da Chapecoense o que está comovendo o planeta. Não apenas. É a tragédia de um sonho que, para o mundo, parece acabado – mas não para a Chape.
É a trajetória de um Davi que olhou nos olhos de muitos Golias e não teve medo – nem agora, quando o seu coração foi ferido de morte, mas ainda teima em continuar batendo. Como o de Neto. Como o de Ruschel. Como o de Follmann. E como o de todos os outros, que continuarão vivos. Para sempre.
É dessas histórias que o mundo precisa. É por causa dessa história que o mundo se emociona e se arrepia. Porque não é, nem nunca foi, um conto de fadas. É e vai continuar sendo uma história real. É e vai continuar sendo uma história possível. É e nunca vai deixar de ser uma lenda; mas uma lenda viva.
Fonte: Aleteia-Elton Chitolina, Chapecó, 30 de novembro de 2016.