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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ANDREAS VESALIUS, MÉDICO FLAMENGO, NASCEU HÁ 500 ANOS

Andreas Vesalius: O precursor da TAC nasceu há 500 anos

Hoje, as modernas tecnologias digitais – TAC e ressonância magnética – permitem ao médico observar a estrutura anatómica do corpo humano em todos os seus detalhes. Isto torna-se fundamental no âmbito da saúde porque o corpo humano é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito da medicina: objeto enquanto os órgãos, os tecidos, as células de que é composto são a sede dos processos patológicos sobre os quais a medicina intervém para curar; sujeito porque representa o trâmite psicofísico através do qual a pessoa vive e exprime a sua condição de doente, dimensão existencial de que a medicina deve igualmente ter em conta se quer restituir a plena saúde ao paciente.

Durante quase 1500 anos, a ideia que o médico tinha do corpo humano foi aproximativa e distorcida, baseada apenas na descrição de textos “eminentes” dos antigos médicos, o grego Hipócrates (c. 460-337 a.C.) e o romano Galeno (c. 129-199 d.C.). A anatomia era apresentada com palavras, redigida essencialmente a partir das investigações efetuadas sobre animais e depois transferidas, por analogia, para o ser humano. Só no Renascimento a renovação cultural da arte e da ciência envolve também a medicina.
Há cinco séculos, a 31 de dezembro de 1514, nascia em Bruxelas o protagonista desta revolução do conhecimento do corpo humano, que abriu as portas ao nascimento da medicina moderna. O flamengo Andreas van Wesel, mundialmente conhecido com o nome latinizado de Andreas Vesalius, é considerado o pai da anatomia pelo seu inovador modo de estudar e ensinar esta disciplina: não só, como até então, por conhecimento indireto (por analogia, dos animais ao homem) e escrita (através da palavra), mas direta (mediante a execução de dissecações de cadáveres) e visual, utilizando a imagem (desenho) como modo de investigação e transmissão do saber.
Após a formação de base realizada em Lovaina e Paris, iniciou em 1537 os estudos em Pádua, cuja faculdade de medicina era considerada a mais importante da Europa. Aqui obtém o doutoramento a 1 de dezembro daquele mesmo ano, e poucos dias depois, reconhecendo a sua mestria, o senado académico confere-lhe a docência de cirurgia. O ensinamento compreendia também as dissertações de anatomia.
Vesalius não se contentou com as tradicionais lições “ex cathedra”, como professor que explicava o corpo humano lendo os antigos textos de medicina. As suas lições provinham sempre do real, com as dissecações que ele próprio executava, evidenciando os detalhes anatómicos observados e sublinhando os erros e incongruências dos escritos do passado. A verdade, frisava, não estava naquilo que durante séculos os textos de Galeno tinham transmitido, mas naquilo que cada um, com os seus próprios olhos, podia diretamente observar no corpo anatomizado que estava diante de si.
Fiel a este princípio, começou a desenhar ilustrações anatómicas a partir das suas dissecações. Depois, para tornar mais eficaz este sistema de transmissão do saber, confiou a tarefa às mãos mais especializadas de verdadeiros artistas, formados no ateliê de Tiziano Vecellio, como Jan Sephan van Calcar, entre outros. Nasce assim o primeiro livro de anatomia moderna, o “De humani corporis fabbrica” (“A fábrica do corpo humano”), completado em 1542 e publicado em sete volumes nos anos seguintes em Basileia, o mais importante centro de difusão livresca do tempo.

 
O texto era complementado com mais de trezentas grandes xilografias, cada qual comentada sinteticamente com poucas palavras explicativas. A utilização das ilustrações como ajuda visível e o uso da impressão como meio de divulgação das suas descobertas são parte essencial da estratégia comunicativa vencedora da obra de Vesalius. A correção dos múltiplos erros de Galeno e a consolidação da dissecação de cadáveres como modos de pesquisa anatómica e de rigorosa verificação da estrutura do corpo humano representam a metodologia inovadora da sua obra científica.
Como bom professor, deu-se conta de que a obra era demasiado extensa e cara para os estudantes. Por isso publicou, com o mesmo editor, um compêndio didático – “De humani corporis fabbrica librorum epitome” – em que as descrições da anatomia humana eram resumidas em poucas páginas e as xilografias foram concebidas de maneira a poderem destacar-se e sobrepor-se.
Contestador, antecipador, inovador, Andreas Vesalius morre a 15 de outubro de 1564 em Zaquintos, próximo da Grécia, na sequência de um naufrágio ocorrido no regresso de uma peregrinação a Jerusalém. Sem o seu trabalho e a sua obra, a medicina moderna teria tardado a nascer e a crescer.
 
Uma mostra patente até 1 de fevereiro de 2015 no Museu de Anatomia da Universidade de Basileia, “De Vesalius à anatomia virtual”, recorda e percorre as etapas históricas do conhecimento do corpo humano, iniciadas precisamente com a impressão, naquela mesma cidade, da obra do investigador. Da exposição do texto do revolucionário médico flamengo até às extraordinárias imagens que se obtêm hoje com os equipamentos que permitem explorar ao vivo e nos mais pequenos detalhes a estrutura anatómica macro e microscópica do ser humano, percorre-se uma viagem fascinante para conhecer, a partir de dentro, a nossa complexa e maravilhosa realidade corpórea.

Vittorio A. Sironie In "Avvenire" Trad.: Rui Jorge Martins Publicado em 30.12.2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

 
 
 
A QUEM O MENINO DEUS DERIGIU O SEU PRIMEIRO OLHAR?
 
 
 
 A quem, Senhor Deus menino,
Dirigir vosso primeiro olhar?
A quem, senão ao rosto quase divino
Da criatura vossa mais perfeita,
A primeira a Vos contemplar:
Vossa Mãe que nos braços Vos estreita
Junto a seu Imaculado Coração,
No ato mais sublime de adoração?
Natal é Deus excelso feito menino,
Deus imenso contido na manjedoura,
Acessível a nós, acolhedor, pequenino.

É a Inocência em missão redentora.
É Deus eterno vivendo no tempo,
Criador de tudo, nascido ao relento,
Olhos humanos, vendo o invisível!
Ó condescendência incompreensível!
Exultemos! O Rei da Glória é nosso irmão:
Sua Mãe é também nossa, na pessoa de João!
Mil coisas antes inexcogitáveis
Tornaram-se agora indagáveis!
Senhora, não Vos surpreende a semelhança
Que Jesus quis ter convosco, por herança?
Senhor, não Vos surpreende a graciosidade
De vossa Mãe, que mais parece uma divindade?
Ao contemplar vosso próprio rosto
Nesse espelho criado a vosso gosto
Para refletir em seu imenso conjunto
Todas as vossas infinitas perfeições,
Dizei-nos quais sentimentos e afeições
Experimentam vossos corações tão juntos,
Olhando-se enlevados e querendo-se bem
Como jamais alguém quis alguém!
Amor materno jamais houve tão ardente!
Filho algum amou sua mãe tão plenamente!
Como se algo no Céu Vos faltasse,
Deus fez da Virgem vosso Paraíso
Para que Ela tanto Vos deleitasse
Que o exílio fosse vantagem, não prejuízo!
Para surpreender-Vos no primeiro olhar,
Deus só não fez vossa Mãe mais perfeita
Porque mais perfeição seria Vos igualar!
E isto, a unidade da Trindade rejeita.
Dissestes que vossas delícias consistem
No convívio com os filhos do homem!
Em vosso convívio inefável com Maria,
Que em vossa humanidade Vos delicia,
Já saboreais as doces e afáveis primícias
Do vosso indizível convívio com os Santos
Que os filhos dos homens Vos darão tantos!
Nas intimidades dessas primeiras carícias
Encontrais, deveras, o que faz vossas delícias!
Ele próprio A criou no Espírito Santo
E A representou maravilhosamente
Em todas as suas obras, certamente
Para, neste olhar, ser Ela vosso encanto!
Dizem que Deus Pai, ao criar Maria,
Esgotou sua inesgotável imaginação.
Ao excogitar a Mãe de vossa dileção,
Teria esgotado também sua fantasia!
É em vossa humanidade, unida à divindade
Na mais perfeita e sublime intimidade
De vossa natureza humana com a divina,
Que essa indizível convivência se sublima!
Sois homem, sem prejuízo da divindade,
Sois Deus, sem prejuízo da humanidade!

  Este sois Vós, ó glorioso Cristo Jesus!
Verdadeiro homem, podeis morrer na Cruz,
Verdadeiro Deus, podeis retomar a vida
E proclamar a inocência redimida!
Um Deus assume a miséria humana
Em tão íntima e profunda união
Que, ao assumir, redime a miséria e sana!
Quisestes nascer de nossa descendência,
Para elevar-nos à inexprimível condição
De pertencermos à vossa divina ascendência!
Nosso gáudio é o do prisioneiro indultado;
Nossa alegria é a do doente incurável, curado!
Nossa gratidão é cantar vossos louvores,
Como outrora cantaram anjos e pastores! 

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2004, n. 36, p. 50-51)

domingo, 28 de dezembro de 2014

QUEM FOI JESUS HISTORICAMENTE FALANDO

Sete perguntas sobre Jesus
 
1. Jesus existiu?; 2. Os Evangelhos são “fiáveis”?; 3. Jesus nasceu no ano zero?; 4. Jesus tinha irmãos e irmãs?; 5. Jesus era um rabi como os outros?; 6. Jesus foi crucificado?; 7. O sudário de Turim é uma “fotografia” de Jesus?
 
1. Jesus existiu?
Sim. A sua historicidade é comummente admitida. Se o Novo Testamento e os escritos dos primeiros Padres da Igreja constituem o material mais abundante para os historiadores, estes apoiam-se também nos testemunhos de autores profanos. Nas "Antiguidades judaicas", o historiador judeu Flávio Josefo (que morreu cerca do ano 100) alude a Jesus no âmbito do processo de Tiago, «irmão de Jesus, chamado o Cristo».
Arquivista na corte do imperador Adriano, Suetónio evoca em "As vidas dos doze césares" «judeus que não cessavam de perturbar a cidade (Roma) por causa de um certo "Christus"». Tácito, outro historiador romano, descreve o incêndio que destruiu Roma em 64, causado, segundo o imperador Nero, pelos cristãos: «Este nome de cristão vem-lhes do nome de Cristo, que foi condenado no reino de Tibério, pelo procurador Pôncio Pilatos (...)».
Encontram-se outras alusões a Cristo e aos seus seguidores no governador Plínio, o Jovem (61-114), no filósofo romano Celso (séc. II) e também no Talmude de Babilónia, que reteve por escrito, no séc. IV, toda a tradição judaica oral: «Na véspera da Páscoa, suspendeu-se Yeshu (...)».
Esta acumulação de testemunhos judaicos e romanos, insuspeitos de simpatias, e até mesmo hostis ao cristianismo, sustenta a convicção dos cientistas quanto à existência histórica de Jesus.
 
2. Os Evangelhos são "fiáveis"?
Sim. «Mas na condição de os analisar com critérios históricos», sublinha Jean-Christian Petitfils, autor de "Jesus", obra que procura esboçar o seu retrato histórico a partir dos recursos da ciência. Com efeito, os Evangelhos apresentam entre si importantes diferenças.
O fio cronológico de Lucas, Marcos e Mateus, por exemplo, não segue o de João. Os primeiros obedecem a um plano linear: a pregação de João Batista, o batismo de Jesus, a pregação na Galileia durante um ano, a subida a Jerusalém, a crucificação e ressurreição; João, por seu lado, refere várias idas e regressos de Jerusalém e a pregação de Jesus dura três anos.
«Os textos de Lucas, Marcos e Mateus foram, na verdade, redigidos por vários autores e relatam a vida de Jesus com um fim didático», sustenta Petitfils. «João, testemunha ocular direta dos acontecimentos, surge como o mais fiável aos olhos dos historiadores.»
Recentemente, descobertas arqueológicas vieram corroborar a existência de personagens e práticas citadas nos Evangelhos. A base de uma estátua com os nomes de Tibério e Pôncio Pilatos foi exumada em Cesareia, atual Israel, em 1961.
«É o primeiro documento epigráfico que diz respeito ao que os cristãos consideram uma referência história maior porque o seu nome é o único mencionado no Credo - "crucificado sob Pôncio Pilatos"», destaca o teólogo Michel Quesnel. Foram também descobertos numerosos túmulos semelhantes ao de Jesus, segundo a descrição dos Evangelhos, escavados em encostas e fechados com uma pedra rolada até à entrada; o corpo envolvido em pano e deposto num leito de pedra.
Jean-Christian Petitfils sublinha também que «numa sociedade em que os textos sagrados se transmitiam oralmente, as técnicas de memorização rabínicas eram suficientemente eficazes para que se possa creditar os Evangelhos com um alto grau de fidelidade».
 
3. Jesus nasceu no ano zero?
Não. Em primeiro lugar porque a contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo não comporta um ano zero. Depois porque o monge Denys le Petit (que morreu em 545), a quem se deve o calendário, errou nos cálculos.
Ao definir o nascimento de Jesus no ano 753 da fundação de Roma, entra em contradição com o que é referido por Lucas e Mateus, que situam a natividade durante o reino de Herodes, o Grande, morto em 750 - ou seja, três anos mais cedo.
«Se se considerar que os seus pais só poderiam fugir para o Egito, para escapar à repressão de Herodes, quando Jesus tivesse alguns meses, senão mesmo alguns anos, o seu nascimento remonta ao ano 5 ou 6 da nossa era», explica Michel Quesnel.
Historiadores há que colocam a hipótese do ano 7 a.C., apoiando-se em cálculos astrológicos para explicar a aparição de uma grande estrela na noite do nascimento.
 
4. Jesus tinha irmãos e irmãs?
Quatro homens são designados como os «irmãos de Jesus» no Novo Testamento: Tiago, o mais conhecido, que se tornará chefe da Igreja de Jerusalém nos anos 50, José, Simão e Judas.
Os seus nomes são citados duas vezes nos Evangelhos: Marcos 6, 3 e Mateus 13, 55. Quanto às «irmãs» de Jesus, os textos nada dizem.
Há três explicações, sintetiza Michel Quesnel. Primeira hipótese: tratar-se-iam de filhos que José e Maria teriam tido após Jesus. Defendida por Helvidius, no séc. IV, é contrariada por uma passagem de Marcos que narra a presença, aos pés da cruz, de «Maria, mãe de Tiago Menor e de José» (15, 40).
Marcos apresenta estes personagens como os «irmãos» de Jesus. Mas para os exegetas, se Tiago e José tivessem nascido da mesma mãe de Jesus, o evangelista teria simplesmente escrito: «Maria, a mãe de Jesus». Tratar-se-ia de outra Maria que não a mãe do Crucificado.
Segunda teoria: os irmãos e irmãs de Jesus designariam parentes próximos. Fortemente defendida no seu tempo por S. Jerónimo, foi sempre a privilegiada pela Igreja católica. O termo "anepsios" remete para o substrato aramaico "hâ", que significa sobrinho, primo, membro de uma mesma família ou de um mesmo clã.
«Na Palestina, naquele tempo, todos eram "irmãos", um pouco como numa aldeia africana», explica Jean-Christian Petitfils.
Por outro lado, antes de morrer na cruz, Jesus confia a sua mãe a João - um dos seus discípulos; se houvesse irmãos ou irmãs de sangue, seria a eles que o cuidado de Maria seria entregue.
Terceira hipótese: os «irmãos» e «irmãs» de Jesus designariam os filhos que José teria de um primeiro casamento. «Várias tradições apócrifas apresentam José como idoso quando toma Maria por esposa», lembra Michel Quesnel. O que a iconografia confirma ao representar José como homem maduro, até envelhecido, ajoelhado diante do presépio.
Esta interpretação goza do favor das Igrejas cristãs orientais.

5. Jesus era um rabi como os outros?
Não. Se Jesus era espiritualmente próximo dos fariseus, uma das três correntes dominantes do pensamento judaico do primeiro século, a sua atitude transgride todas as convenções estabelecidas.
A começar pela maneira de utilizar as «parábolas» - narrativas imagéticas extraídas da vida quotidiana - para apresentar o seu ensinamento moral e religioso. «À exceção de alguns casos no Antigo Testamento, esta forma de expressão não se tinha espalhado. A sua utilização fazia de Jesus um rabi (mestre) inovador aos olhos dos seus contemporâneos», assinala Michel Quesnel.
Os fariseus falavam já da ressurreição e do amor ao próximo. Mas Jesus retoma a mensagem e vai muito mais longe. «Eis alguém que pede, pela primeira vez, para amar os inimigos», realça Jean-Christian Petitfils.
Diferentemente dos profetas que o precederam, Jesus apresenta-se como o Reino que anuncia: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (João 14, 6).
A sua autoridade extraordinária assombra as multidões e escandaliza os meios sacerdotais. «Moisés disse-vos... Mas Eu digo-vos...», insiste publicamente o carpinteiro de Nazaré. Outra transgressão inconcebível aos olhos de um judeu foi a maneira como Jesus chamou a Deus: «Abba» («Pai», em hebraico).
«O que torna o seu ensinamento credível é a sua atitude misericordiosa para com todos aqueles - inimigos, párias - que Ele encontra: uma prostituta, um coletor de impostos, um legionário romano...», aponta Michel Quesnel. Numa palavra, Jesus perdoa. E é isto que faz a diferença aos olhos dos seus contemporâneos.
«Crente ou não, o historiador acaba por ser confrontado com o mistério da sua pessoa», conclui Jean-Christian Petitfils.
 
6. Jesus foi crucificado?
Sim. Neste ponto, os Evangelhos são corroborados tanto por autores profanos como pelo Talmude.
No primeiro século havia duas formas de condenação à morte no Império Romano: a decapitação, reservada aos notáveis, e a crucificação, para as pessoas do povo, suplício particularmente terrífico.

 
Em 1968 foram encontrados os restos de um crucificado num bairro de Jerusalém cujo calcanhar tinha sido atravessado por um prego em ferro com 17 cm.
«Pernas fletidas, tíbias partidas... O estado do esqueleto permitiu reconstituir uma forma precisa de execução aproximadamente correspondente ao suplício descrito nos Evangelhos», afirma Michel Quesnel. Em matéria de crucificação, prática que os romanos teriam tomado dos Partos, existiam muitas variantes. A morte ocorria, geralmente, por asfixia.

7. O sudário de Turim é uma "fotografia" de Jesus?
A incerteza permanece. Muito foi escrito sobre este pano de linho branco de 4,36 x 1,10 m conservado em Turim, atual Itália, que apresenta o desenho de um crucificado que, de acordo com a tradição, teria envolvido o corpo de Jesus no túmulo.
 
Sobre o "Santo Sudário", que será novamente exposto em 2015 e venerado pelo papa Francisco a 21 de junho, os especialistas confrontam-se com duas questões essenciais: a datação - Idade Média ou primeiro século da nossa era? - e o processo como foi feito, em particular a impressão em "negativo", que nunca se conseguiu reproduzir.
Em 1988, a técnica do Carbono 14, bíblia dos arqueólogos, apresentou o seu veredito: o lençol teria sido fabricado entre 1260 e 1390, período que corresponde à sua primeira aparição comprovada (1357) numa igreja de Lirey, no atual departamento de Aube, em França.
Mas a controvérsia não se ficou por aqui. Para os opositores à tese da origem medieval, o sudário remontaria ao século I devido às técnicas de costura, ao fio utilizado e aos detalhes históricos que o sudário revela quanto ao modo como a crucificação foi executada.
Os defensores da autenticidade salientam, ainda, que o material sujeito ao teste do Carbono 14 foi extraído de pontas do sudário, provenientes de um restauro tardio.
E ainda que se trate da "fotografia" de um crucificado, como é verosímil, falta provar, com dados científicos, a quem pertenceu. A devoção, que tem atraído sempre mais pessoas a Turim aquando das ostensões, é outra história.

In "Pèlerin"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 27.12.2014

sábado, 27 de dezembro de 2014

A SIMBOLOGIA DA ÁRVORE DE NATAL

Árvore de Natal - Sinal da vida que não perece
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22 de Dezembro de 2014 / 0 Comentários
 
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Redação - (Segunda-feira, 22- 12-2014, Gaudium Press) -
A árvore de Natal sempre aponta para o céu, e sua ramagem perpetuamente verde lembra-nos Aquele que nos concedeu a vida eterna.
Quando surgiu a árvore de Natal?
A história da festiva árvore começa nas densas florestas da Germânia, no século VIII. O grande São Bonifácio, bispo e apóstolo daquelas terras, havia então trazido um bom número de tribos pagãs ao rebanho de Jesus Cristo. Mas seu labor não era fácil. Por vezes, os conversos, cuja fé ainda era vacilante, recaíam nos perversos costumes de seus antepassados.
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Em certa ocasião, Bonifácio teve de realizar uma longa viagem a Roma, onde fora pedir conselho ao Papa Gregório II. Meses depois, ao retornar à região do Baixo Hesse, com horror surpreendeu alguns nativos que estavam a ponto de realizar um dos holocaustos humanos exigidos pela religião primitiva. Libertando nove meninos que seriam vítimas, o zeloso bispo quis, então, dar um público testemunho de quão impotentes eram os falsos deuses diante do Cordeiro de Deus.
Mandou abater o enorme carvalho de Thor, sob o qual se realizaria o sangrento sacrifício. Os sacerdotes pagãos o ameaçaram de ser fulminado pelos raios do deus do trovão. No entanto, derrubada a árvore, nada aconteceu, para humilhação dos gentios. Os relapsos se arrependeram, então, e muitos idólatras pediram o sacramento do batismo. A queda da árvore de Thor representou a queda do paganismo naquelas regiões.
Os germanos, já então pacificados e convertidos, adotaram o pinheirinho como um símbolo cristão. Ele sempre aponta para o céu, e sua ramagem eternamente verde lembra-nos Aquele que nos concedeu a vida eterna. Sob seus galhos já não há ofertas cruéis, mas sim os presentes em honra de Cristo recém-nascido.
Anos e anos mais tarde, a árvore de Natal transpôs as fronteiras da Alemanha. Nos séculos XVIII e XIX, tornou-se comum entre a nobreza europeia, alcançando as cortes da Áustria, França e Inglaterra, até a longínqua Rússia. Dos palácios difundiu-se pelo povo da Europa e, por fim, nos dias de hoje, a encontramos espalhada por todo o orbe.
No centro da cristandade, em plena Praça de São Pedro, todos os anos, é erguida uma árvore de grandes proporções, elegantemente ornada, segundo é próprio à dignidade do local. Tocado pela sua beleza e simbolismo, o saudoso Papa São João Paulo II a ela se referiu, em dezembro de 2004:
"A festa do Natal, talvez a mais querida à tradição popular, é extremamente rica de símbolos, ligados às diferentes culturas. Entre todos, o mais importante é, sem dúvida, o presépio [...].
Ao lado deste, como nesta Praça de São Pedro, encontramos a tradicional ‘árvore de Natal'. Também esta é uma antiga tradição, que exalta o valor da vida porque na estação invernal, a árvore sempre verde se torna um sinal da vida que não perece. Geralmente, na árvore adornada e aos pés da mesma são colocados os dons de Natal. Assim, o símbolo torna-se eloquente também em sentido tipicamente cristão: evoca à mente a ‘árvore da vida' (cf. Gn 2, 9), figura de Cristo, supremo dom de Deus à humanidade.
Por conseguinte, a mensagem da árvore de Natal é que a vida permanece ‘sempre verde', se ela se torna dom: não tanto de coisas materiais, mas de si mesmo: na amizade e no carinho sincero, na ajuda fraterna e no perdão, no tempo compartilhado e na escuta recíproca. Que Maria nos ajude a viver o Natal como uma ocasião para saborear a alegria de nos doarmos a nós mesmos aos irmãos, especialmente aos mais necessitados". (São João Paulo II, Ângelus, 19/12/2004)
Para que tanto enfeite na árvore de Natal?
A tradição católica assimilou a árvore de Natal com uma nova árvore da vida, aquela do jardim do Éden, lá no Paraíso (Gn 2,9). É costume enfeitá-la com bolas coloridas, como se fossem frutos, e com outros adornos natalinos. Os enfeites alegorizam desejos, virtudes, vínculos e sonhos das pessoas e da cada onde está a árvore de Natal. Já no tempo de São Bonifácio, as árvores de Natal eram enfeitadas com maçãs, evocando a nova frutificação e o antigo pecado original. Ao contrário da história do Éden sobre a serpente e a maçã (do latim: arvore_natal_2.jpg
malum), a árvore de natal passou a evocar vida e salvação, plantada nas casas. As árvores também eram decoradas com velas, representando Nosso Senhor Jesus Cristo, a Luz do mundo. O costume difundiu-se pela Europa. Uma das primeiras registadas dos enfeites é do século XVI e vem da Igreja da Alsácia, na França. As famílias decoravam os pinheiros com papéis coloridos, enfeites, frutas e doces. Espalhada por toda a Europa, a tradição de enfeitar a árvore de Natal chegou ao continente americano por volta de 1800.
Qual o simbolismo das bolas?
Desde o século VI, a tradição da árvore de Natal evolui: trocaram-se as perecíveis maçãs da árvore do Éden por bolas e enfeites, como sinal dos frutos da vida. As tradições familiares variam. Alguns colocam 12 bolas ou múltiplos de doze para evocar os doze apóstolos. Outros colocam 33 bolas, para lembrar os anos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outros adornam progressivamente a árvore de Natal com 24 a 28 bolas, dependendo do número de dias do Advento (do latim, Adventus: chegada). Outros ainda adornam a árvore de uma só vez. Às vezes, as crianças elaboram suas próprias bolas. Em outras famílias, as bolas são colocadas com uma oração ou um propósito em casa uma, até o dia de nascimento de Nosso Senhor. Para certas ordens religiosas, as bolas representam as orações do período do Advento: as azuis são orações de arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de prece.
Por que as bengalas, os 3 sinos e os 7 anjinhos?
Os enfeites da árvore de natal são um espaço de liberdade, arte e poesia para a criatividade familiar. Alguns são tradicionais e merecem destaque. Os 3 sininhos simbolizam a Santíssima Trindade e também costuma adornar a guirlanda do Natal, na entrada das casas. Os 7 anjinhos representamos espíritos angélicos, os anjos dos pequeninos diante de Deus, contemplando e intercedendo por todos (Mt 18,10). As bengalinhas evocam a caminhada, o trabalho de cada um e também o pastoreio de Nosso Senhor, o cajado do Bom Pastor. Também colocam-se pequenos e bonitos pacotinhos e presentinhos dependurados na árvore ou aos seus pés. Eles representam as boas ações e os sacrifícios, os "presentes" que serão dados a Nosso Senhor Jesus Cristo no Natal. (São João Paulo II, Ângelus, 19/12/2004)

 
- Por Evaristo Eduardo de Miranda
Doutor em ecologia, autor do livro "Guia de curiosidades católicas", Ed. Vozes e diretor do Instituto Ciência e Fé.
Dirige a EMBRAPA Monitoramento Ambiental por Satélite, Campinas/SP.
(in Revista Arautos do Ev'angelho, Dez/2007, n. 72)


Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no link http://www.gaudiumpress.org/content/65820-Arvore-de-Natal---Sinal-da-vida-que-nao-perece#ixzz3N7MKaRxU
Autoriza-se a sua publicação desde que se cite a fonte.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

A HERANÇA DOS AFECTOS...

Territórios de afecto

    

     © Fornecido por P3                         
 
Os mapas vivem-se, como os livros, a oratória de Bach ou as telas. Materializam o sonho não de quem a criou, mas de quem as toma por suas. Herdei dos meus pais um mapa do belo, dos territórios do afecto e da pertença. Da terra da infância sustive dentro de mim o odor inconfundível do pão quente ao romper da manhã, o pudim de ovos caseiro no seu abraço de caramelo - o amor declina-se tantas vezes em comida - o reflexo da lua nos carris do eléctrico 18, a interpelação diária do Tejo, azul a dissolver-se nos olhos, as grandes casas imperiais à beira rio, a luz branca de Lisboa.
A vida passa num fósforo quando se vive noutra geografia. Em dezoito anos de ausência, de emigração, compreendi que a felicidade consiste também em travar o tempo e encerrar na concha da mão as memórias, as pessoas de com quem nos importamos, que nos preenchem de uma forma que por vezes as palavras não conseguem explicar. É preciso dizer-lhes os nomes, devagar, ao peso de cada sílaba, nem que seja no Natal.
Gosto desta época do ano. Do perfume do gengibre, do anis, da canela, do cravinho. De se sentir contra o céu da boca as rabanadas molhadas em calda de açúcar. Gosto de ver a casa cheia de brilhos e de abrir os cartões manuscritos de quem não se rendeu ao email.
No meu mapa privado de afectos refugio-me quando a luz se desvanece e entro no mundo de chumbo dos que nasceram do lado equivocado da vida. Entre eles e mim, entre eles e nós, existe apenas um acaso, separam-nos milímetros, mas são maiores do que quilómetros.
Com a família reunida à mesa em Bona, neste prelúdio de Natal, sublinho contrastes, como numa câmara escura. Penso em tantas vidas que com a minha se cruzaram, às vezes por breves instantes, no exercício de ver não apenas olhar, a essência da profissão de jornalista. Nunca conseguirei arrancar de dentro de mim uma mãe que ofereceu o filho bebé. Não queria dinheiro, apenas que o menino tivesse outra vida. Uma existência do lado certo da vida. O coração contraiu-se-me até ficar com a consistência da pedra.
Se me pedissem para traçar o epílogo das tantas viagens que fiz, a favor e contra o sentido de rotação da terra, escreveria que ensinaram a aceitar a imperfeição e, olhando-a nos olhos, a perdoar, a rir sem o remorso da alegria e deixar-se encantar. E mais que tudo a não silenciar a voz em defesa dos direitos humanos mais elementares, aqueles que damos por adquiridos nas nossas vidas confortáveis: brincar, aprender a ler, ter que comer, a ter dignidade, a ser respeitado. Por eles troquei, sem hesitar, o jornalismo pela política de desenvolvimento e pelo desconforto do mundo. Não digo que é fácil, mas apesar todas as incomodidades não trocaria por nada o que faço.
Com a casa posta em silêncio, desligo as luzes da árvore de Natal e faço uma viagem sem distância, a favor e contra o sentido de rotação da terra. Nela rascunho um abraço apertado à família distante, aos amigos de infância polvilhados pelo mundo, mas cuja amizade não mudou de sítio - a tantos reencontrei-os nessa maravilha que é o Facebook - aos amigos da faculdade, das noites mal dormidas entre livros, conversas e promessas de futuro aos que se foram inscreveram na lista de afectos. A amizade é como um jogo de Lego, com múltiplas possibilidades, em permanente construção.
 
Quis partilhar este artigo, porque me fez ir ao sótão das lembranças duma vida
aparentemente esquecida, mas que em épocas como esta do Natal, somos capazes de visualizar, sentir e captar o odor desses tempos de criança, numa envolvência ternurenta, amorosa e sobretudo singela em que todos se tinham como família, se chamavam de tios e tias, de primos e primas... onde o respeito era lei para ser cumprida; a dignidade do ancião era doutrina a ser ensinada aos mais novos. A Moral Cristã e Civilizacional  era cartilha obrigatória. 
 
  Em contraste, HOJE, o ancião é trapo velho! Ninguém se conhece, principalmente, quando a escada para chegar ao poder se coloca  entre e sobre os mais frágeis e desprotegidos sejam eles pais, pessoas vindas do mesmo meio, etc... Aqui fica uma máxima que nestes tempos pouco ou nada vale...
Nema, escrava de Maria, no interior do sótão das lembranças

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

COMO É BOM QUANDO ENCONTRAMOS O MENINO DEUS!

Duas conversões ocorridas no dia de Natal
Diác. Inácio de Araújo Almeida, EP - 2014/12/18            
Jesus, Maria e José no presépio.jpg

Como é bela a conversão de um pecador, arrancado por Deus das trevas da impiedade! Que beleza, também, a de um inocente elevado pela graça para um mais fulgurante esplendor!
Diác. Inácio de Araújo Almeida, EP
Paul_Claudel.jpg
Paul Claudel em março de 1927,
sendo embaixador da França nos Estados Unidos
Paris, 25 de dezembro de 1886. Uma multidão de fiéis acorre jubilosa à Catedral de Notre Dame, para a solene comemoração do nascimento do Menino Deus. Entre eles se encontra um jovem de 18 anos que começara a dar os primeiros passos na carreira de escritor. Lá se dirigia, entretanto, não movido por amor ao Divino Infante, mas pela esperança de encontrar nas cerimônias de Natal algo que lhe inspirasse um bom tema para seus escritos.

Não atingira ainda a idade adulta e já se considerava um ateu convicto. Sua adolescência transcorrera num ambiente de indiferença religiosa e de profunda descrença nas realidades sobrenaturais. Como a maioria das crianças de sua época, havia feito a Primeira Comunhão. Entretanto, aquele encontro com Cristo na Eucaristia "foi ao mesmo tempo o coroamento e o fim de minhas práticas religiosas",1 afirmou.
Algum tempo depois ingressou no Liceu Louis-le-Grand, um dos mais renomados centros de estudos parisienses e um foco de difusão do materialismo em seu tempo. Escreveu ele, a propósito desse período de sua vida: "Eu acreditava que tudo estava submisso às ‘leis' e que este mundo era um inexorável encadeamento de causas e efeitos, o qual a ciência não tardaria a esclarecer plenamente. [...] Além disso, vivia na imoralidade e ia caindo, pouco  a pouco, num estado de desespero. [...] Essa era a infeliz criança que, em 25 de dezembro de 1886, entrou na Catedral de Notre Dame de Paris para assistir aos ofícios de Natal".
"Meu coração sentiu-se tocado, e tive fé"
Louis Charles Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper - assim se chamava esse jovem francês que depois se tornou mundialmente conhecido sob o pseudônimo de Paul Claudel - assistiu sem grande interesse à Missa matutina e retornou à tarde para o Ofício de Vésperas. Postou-se num local de onde podia contemplar num só relance o público e a cerimônia. De pé, apertado no meio da multidão, aguardava com indiferença o início do ato litúrgico que seria acompanhado pelo coro da catedral, reforçado pelo do seminário menor. Quando, no final, os cantores entoaram o Magnificat, aconteceu o maravilhoso fato que mudou os rumos de sua vida. Muito tempo depois, ele narrou com palavras de vivo arrebatamento espiritual esta decisiva graça recebida:
"Num relance, meu coração sentiu-se tocado, e tive fé. [...] Tentando, como tenho feito amiúde, reconstituir os minutos que se seguiram a este momento excepcional, encontro os seguintes elementos que, todavia, formavam um só fulgor, uma só arma da qual Se servia a Providência para atingir e abrir o coração de um pobre filho desesperado: ‘Como são felizes os que creem! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe, está aqui! É alguém, é um ser tão pessoal como eu! Ama-me! Chama por mim!'. Invadiram-me as lágrimas e os soluços, e o suave canto Adeste fideles aumentava minha emoção".3
Início de uma dura e longa batalha
Doce emoção, observa ele, mas mesclada com um sentimento de espanto e quase de horror, ao constatar que permanecia inteiro em sua mente o edifício de erradas concepções filosóficas e preconceitos contra a Religião.
De qualquer forma, de volta ao lar após a celebração litúrgica, abriu uma Bíblia e ouviu pela primeira vez o timbre da "tão doce e inflexível voz" 4 do Livro Sagrado, a qual, desde então, não cessou de ressoar em seu coração. Cada palavra, cada linha, demonstrava com majestosa simplicidade a divindade de Jesus Cristo. "Sim, Jesus era o Filho de Deus. É a mim entre todos que Ele Se dirigia e prometia seu amor. [...] Que me importava o resto do mundo, em comparação com este Ser novo e prodigioso que acabava de me ser revelado?".
Paris_Notre Dame.jpg
Cerimônia litúrgica na catedral de Notre Dame

Assim falava em seu interior o homem novo, mas... o homem velho resistia com todas as suas forças. E essa resistência durou quatro anos, submetendo o jovem literato a uma rude prova em defesa da fé recém-adquirida. A exemplo de Santo Agostinho, Claudel não hesita em externar o que se passava em sua alma:
"Confessarei? No fundo, o sentimento que mais me impedia de manifestar minhas convicções era o respeito humano. A ideia de revelar a todos a minha conversão, de anunciar à minha família que faria abstinência às sextas-feiras, de apresentar-me como um dos católicos tão ridicularizados, tudo isso me causava suores frios. E, por vezes, experimentava uma verdadeira indignação pela violência que assim me era feita. Mas sentia sobre mim uma mão firme".
Nada a estranhar nessa imensa batalha interior, pois - salvo raras exceções, como a de Saulo a caminho de Damasco -, a graça da conversão se efetiva mediante um processo que às vezes perdura toda a vida. Para o novel convertido, a luta foi dura a ponto de arrancar-lhe este significativo comentário: "Os jovens que tão facilmente abandonam a fé não sabem quanto custa recuperá-la".
"O grande livro... no qual fiz meus estudos"
Claudel não conhecia nenhum sacerdote, nem tinha sequer algum amigo católico que pudesse orientá-lo nos primeiros passos rumo a Deus. Empenhou-se então no estudo da Religião, favorecido pela graça e por privilegiada inteligência.Sta Teresinha do Menino Jesus.jpgMenciona os livros que mais o ajudaram nessa caminhada. Entre outros, Elevações sobre os mistérios e Meditações sobre os Evangelhos, de Bossuet; os relatos da Bem-aventurada Ana Catarina Emmerick; Metafísica, de Aristóteles. E acrescenta, transbordante de gratidão: "Mas o grande livro aberto para mim, no qual fiz meus estudos, foi a Igreja. Louvada seja sempre esta grande Mãe majestosa em cujos joelhos tudo aprendi!".
Tudo aprendeu, como? Assim relata ele o efeito produzido em sua alma pela pulcritude das celebrações litúrgicas, cuja magnificência ultrapassava todas as suas imaginações:
"Não conseguia saciar-me por completo com o espetáculo da Santa Missa, e cada movimento do sacerdote gravava-se profundamente no meu espírito e no meu coração. A leitura do Ofício de Defuntos, a do Natal, o drama da Semana Santa, o sublime cântico do Exultet, ao lado do qual me pareciam insípidas as harmonias mais inebriantes de Sófocles e Píndaro, tudo isso me sobrecarregava de respeito e alegria, de gratidão, arrependimento e adoração! Pouco a pouco, lenta e penosamente, floresceu em meu coração a ideia de que a arte e a poesia também são coisas divinas".
Por fim, a segunda Comunhão
Frequentando com assiduidade a Catedral de Notre Dame, quanta "santa inveja" sentia Claudel dos fiéis que comungavam! Ele apenas se atrevia a, nas sextas-feiras da Quaresma, entrar na fila dos que iam beijar reverentemente a coroa de espinhos. Passava-se assim o tempo e sua situação se tornava insuportável. Pedia forças a Deus e vertia lágrimas em segredo, mas não ousava abrir sua alma ao ministro de Deus, na Confissão. Entretanto, a voz da graça conquistava terreno em seu coração, e suas objeções se enfraqueciam. No terceiro ano, conseguiu forças para ajoelhar-se no confessionário da Igreja de Saint-Médard, sua paróquia. Teve ali uma provação a mais: o confessor não estava à altura das necessidades daquela alma. Saiu do confessionário humilhado e enfurecido, e só voltou a ele um ano depois.
Encontrou desta vez um jovem sacerdote misericordioso e caritativo, com o qual pôde abrir-se por inteiro e, por fim, sair com a alma "mais alva do que a neve" (Sl 50, 9). E assim, no Natal de 1890, exatamente quatro anos após a fulgurante graça da conversão, Paul Claudel teve a felicidade de fazer a segunda Comunhão de sua vida.
No mesmo dia de Natal
No mesmo dia de Natal de 1886, em que a Divina Providência tocou de modo irresistível a alma ateia de Paul Claudel, uma adolescente de 13 anos, chamada Marie-Françoise-Thérèse Martin, recebia a graça por ela denominada de "minha completa conversão".
Ainda na flor da juventude, Teresa estava já avançada nas vias da santidade. Como, pois, falar em "conversão"?
Como a própria Santa explica em sua encantadora História de uma alma, tinha ela, desde a primeira infância, a sensibilidade muito à flor da pele. Se lhe acontecia de causar involuntariamente um leve desgosto a alguma pessoa amada, desatava num copioso pranto; e quando, por fim, alguém a conseguia consolar, ela recomeçava a chorar por ter chorado!... Isso, por certo, causava-lhe sofrimento, sobretudo por ver quanto incomodava as pessoas que ela mais estimava.
Deus, entretanto, teve pena dela e operou um pequeno milagre que não só a livrou desse importuno defeito, mas fortaleceu de tal modo sua alma que a partir de então, confidenciou ela, "não saí vencida em nenhum combate. Pelo contrário, andei de vitória em vitória e iniciei, por assim dizer, ‘uma corrida de gigante'".
Começa o mais belo período de sua vida
Essa graça da "completa conversão", ela a recebeu pouco depois de chegar à casa com seu pai e suas irmãs, de volta da Missa do Galo. Apesar de ser já uma mocinha, Teresa era a caçula da família e tinha ainda o "privilégio" de, nas noites de Natal, deixar na lareira um par de sapatos nos quais se colocavam os presentes natalinos.
Seu pai, o Beato Luís Martin, gostava de ver a alegria de sua "rainhazinha" ao tirar cada presente dos sapatos. Nessa noite, porém, querendo fazê-la passar para uma nova etapa de sua vida espiritual, Jesus permitiu que ele - já idoso e tomado de cansaço àquela hora da madrugada - se aborrecesse ante a repetição daquele inocente mas extemporâneo costume infantil e manifestasse desagrado com palavras que fizeram brotar instantaneamente as lágrimas nos olhos da menina. Porém ela logo as reprimiu, comprimiu as fortes pulsações do coração, pegou os sapatos, colocou-os diante do pai e tirou alegremente, um a um, todos os objetos. Surpresos ante tão inesperada mudança, o pai e as irmãs sorriam contentes, e sua irmã Celina julgava estar sonhando.

objetos pertencentes a Santa teresinha.jpg
Nessa noite, Teresinha reencontrara a força de alma que perdera aos quatro anos;começava o
terceiro e mais belo período de sua vida

Objetos pertencentes a Teresa Martin expostos em sua casa natal, em Lisieux
Mas não era um sonho. "Felizmente" - escreve a Santa - "era uma doce realidade. Teresinha reencontrara a força de alma que perdera aos quatro anos e meio e ia conservar para sempre!... Nessa noite de luz, começou o terceiro período da minha vida, o mais belo de todos, o mais cheio das graças do Céu... Num instante, a obra que eu não pudera cumprir em dez anos, Jesus a fez contentando-Se com a boa vontade que nunca me faltara. Como os Apóstolos, podia dizer-Lhe: ‘Senhor, pesquei a noite toda sem nada pegar'. Ainda mais misericordioso comigo do que com os discípulos, Jesus pegou Ele mesmo a rede, lançou-a e retirou-a cheia de peixes... Fez de mim um pescador de alma".
Como é bela a conversão de um pecador, arrancado por Deus das trevas da impiedade ou da lama dos pecados e purificado na pia batismal ou no Sacramento da Reconciliação! Que beleza, também, a de um inocente elevado pela graça, não das trevas para a luz, mas de um esplendor para outro mais fulgurante! Difícil dizer qual das duas conversões é mais bela. São maravilhas da graça complementares, cada qual com seu resplendor próprio.
Pecador ou inocente. Todos nós, sem qualquer exceção, nos enquadramos numa dessas categorias de alma e necessitamos de contínuas conversões. E a noite de Natal é uma excelente ocasião para pedir tal graça ao Menino Jesus, à Virgem Santíssima e a São José.
 (Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2014, n. 156, p. 18 a 21) 

A VISITA INESPERADA QUE MUITOS REJEITAM


É NOITE DA CONSOADA- CELEBRA-SE O ANIVERSÁRIO DO DEUS MENINO


Estamos na última semana de 2014.

As pessoas, actualmente, depois do afogadilho das compras e das prendas, aí estão à volta da mesa para festejar o Papai Noel, enquanto as crianças, ansiosas, querem ver os presentes que estão à volta da árvore de Natal!

Mas esta noite, também se celebra o aniversário do Menino Deus... No meio do montão de compras, será que alguém se lembrou de comprar uma prenda em Sua honra?

Estou só, olhando para o relógio do computador, vejo que neste momento passam alguns minutos da meia noite...

Estão a bater-me à porta... Quem será?

Nem a propósito... Ele aqui está ao meu lado! Vem com ar de um caminhante cansado e abatido pela tristeza que é visível no seu rosto.

Meu Mestre e Senhor, porque vindes com esse ar de tristeza e tão cansado?

-” Hoje já bati a um sem número de portas e a verdade é que ninguém Me convidou para entrar, embora alguns me tenham abrido a porta.

A festa desta noite era para Mim! Mas fecharam a porta na minha cara.

Mas sabes, filha minha, não Me surpreendeu nada, porque fecharam a porta...

Meu Mestre e Senhor! Mas porquê Senhor meu?!
Primeiro, porque nos últimos anos apareceu um velho de barbas e todos o procuram nas grandes superfícies e trazem-no para o colocarem num lugar de destaque. Numa das casas que Me abriu a porta e depois fechou-a, Eu entrei devagarinho, sem fazer ruído e fiquei num cantinho.

Uns partilhavam prendas, outros já embriagados contavam piadas mundanas, não respeitando a inocência das minhas crianças!... Chegou de repente esse velho vestido de vermelho a gritar ho! ho! oh!... Parecia também embriagado, sentou- se pesadamente numa cadeira que já estaria reservada para ele...


Todos eufóricos, principalmente as crianças, gritavam em surdina: papai Noel, papai Noel, papai Noel!!! E ali descobri que a festa era dele e para ele.
Há pouco, quando deram as 12 badaladas, no sino da igreja, foi o maior reboliço: abraços, prendas e mais prendas... Sabes filha minha, que ainda pensei que alguém Me visse e Me oferecesse uma prenda pequena que fosse ou tão só um beijo e um abraço de alguma das minhas crianças! Mas verifiquei que o ruído era tanto e que não havia um sinal sequer para a celebração do Meu aniversário. Então percebi que estava sobrando na festa,  saí sem ruído...

Vi-te sozinha, bati à tua porta. Abriste-ma, aqui estamos neste quarto silencioso, sem prendas nem festa, nem nenhum elemento festivo, reparei que me honras com a Minha imagem de Criança, doada pelo Meu Pai Celeste, aos homens, mas eles esqueceram-se do verdadeiro significado do NATAL.
Segundo, digo-te que cada ano que passar, as festas  hão-de tornar-se mais mundanas, duplicarão para homenagearem o EGO humano, as orgias serão ponto fulcral dessas mesmas folias.
As minhas crianças serão objecto e manipuladas para se tornarem robôs dos humanos.
Cada vez menos pessoas Me hão-de honrar e lembrar desta noite Santa!... Como tu, ainda tenho seguidores que Me dão alegria e Me colocam no centro das celebrações!

Como Eu gostaria que a humanidade se deixasse prender pelo meu Amor Misericordioso e Me deixasse entrar, abrindo-Me a porta de seus corações de pedra, Eu lhes daria um novo coração e eles acreditariam finalmente que Eu, Jesus Cristo, vim do Pai, ao Mundo para salvar a Humanidade inteira!
Fica comigo em silêncio, olhando os Meus olhos. Não procures distrair-te, nem buscar inspiração fora de Mim. Fixa-te em Mim, só em Mim.
Não penses em mais nada senão dulcificar com o teu amor, com o amor que fores capaz, a minha dor e cansaço.
Meu Senhor e Meu Mestre, arrancai do fundos dos nossos corações, todas as suspeitas, indignação, disputa ou cólera, para que possamos conviver sem ofensas à caridade, nem diminuição do amor fraternal. Perdoai, Senhor meu, aos que imploram a vossa misericórdia; dai a vossa graça aos que dela necessitam e aumentai a nossa Fé.
Ó Amor, soberano Amor do meu Senhor, onde estará o coração devoto que saiba glorificar-Vos quanto deve? Seja esse vosso Coração, Senhor meu, que habite sempre em meu coração humilhado!
Nema, escrava de Maria Adaptação de uma pequena história

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O QUE DESEJO NESTE NATAL?

JESUS DIZ-NOS HOJE: "EU CONTO CONTIGO!"
 
QUERES RECEBER A PRENDA MAIS FANTÁSTICA DO NATAL?
 
ABRE O TEU CORAÇÃO E DEUS COLOCARÁ NELE O SEU FILHO JESUS. ASSIM, COM ELE, PODERÁS SEMEAR PAZ, AMOR, FELICIDADE...
 
A TODOS OS MEUS SEGUIDORES E VISITADORES DESEJO UM HARMONIOSO TEMPO DE BEM ESTAR EM COMUNHÃO FRATERNA COM JESUS PRESENTE EM CADA CORAÇÃO, NA FAMÍLIA  E À VOLTA DE TODOS.
 
Nema, escrava de Maria

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

COMO NASCEU O COSTUME DE MONTAR O PRESÉPIO!

O primeiro presépio da História
Victor Toniolo - 2011/12/19
                          
Presepio - Salamanca - Espanha.jpg

Como surgiu o piedoso costume de montar presépios por ocasião do Natal?
Corria o ano de 1223. A neve cobria com seu alvo manto a pequenina cidade de Greccio, no centro-sul da Itália. Os sinos repicavam festivamente, anunciando a noite de Natal.
Todos os habitantes, camponeses em sua maioria, encontravam-se reunidos em torno de São Francisco de Assis, que procurava explicar- lhes o mistério do nascimento do Menino-Deus. Eles ouviam com respeito, mas... não davam mostras de terem realmente compreendido. O que fazer?
São Francisco procurou um modo mais didático de explicar aos iletrados aldeões a história do Natal. Mandou trazerem-lhe uma imagem do Menino Jesus, uma manjedoura, palhas, um boi e um burro. Os campônios entreolharam-se, surpresos, masMadonna delle Ombre? (detalhe), por Fra Angelico - Convento de São Marcos, Florença - Foto Gustavo Kralj.jpg providenciaram tudo sem demora.
Em pouco tempo, o Santo compôs a cena: no centro, a manjedoura com as palhas; no fundo, os dois pacíficos animais. Faltava apenas a imagem do Menino Jesus. Com grande devoção, São Francisco tomou- a nos braços, para depositá-la na manjedoura.
Dá-se então um grande prodígio! Ante os olhos maravilhados de todos, a imagem toma vida e o Menino sorri para São Francisco. Este abraça ternamente o Divino Infante e O deita sobre as palhas da manjedoura, enquanto todos se ajoelhamem atitude de enlevada adoração.
O Menino-Deus sorri uma vez mais e abençoa aqueles camponeses ali prostrados a seus pés.
Poucos instantes depois, havia sobre as palhas uma simples imagem inanimada... Mas na alma de todos permaneceu a recordação viva do Menino Jesus. Ele lhes havia sorrido!
A partir de então, o povo de Greccio montava todos os anos o “presépio de São Francisco”, na cândida esperança de que o  milagre se renovasse. Não foram iludidos em sua esperança. Embora a imagem não mais tomasse vida, a Virgem Maria lhes falava especialmente à alma nessas ocasiões, com graças sensíveis.
Que graças? As graças próprias à Liturgia do Natal.
Só para os aldeões de Greccio? Não! Em todos os presépios do mundo está presente o Menino Jesus — com Maria, sua Mãe, e São José — à espera apenas de que nos acerquemos para, também nós, recebermos um sorriso e uma bênção. É justamente por este motivo que se espalhou por todo o universo católico o costume de montar presépios por ocasião do Natal.
Faça, leitor, como os habitantes de Greccio. Ajoelhe-se piedosamente diante do Menino Jesus no presépio e, por intercessão da Virgem Maria, peça para si e para todos os seus entes queridos esse sorriso que comunica felicidade, essa bênção que transmite paz(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2003, n. 24, p. 50-51)