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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SER JORNALISTA EM PORTUGAL: NEM INFERNO NEM PARAÍSO

SER JORNALISTA EM PORTUGAL: NEM INFERNO NEM PARAÍSO
 
REFLEXÃO PESSOAL
 Estando eu a tentar organizar o meu sótão das minhas pastas cujos conteúdos ainda permanecem intactos e dos muitos livros dos quais ainda não me desfiz, pois todos os manuais escolares já foram enviados para as entidades que necessitavam deles, dei comigo a tirar o pó de uma pasta de Jornalismo( pois tudo na biblioteca estava e está organizado por temas ou nomes). E ao ver ou melhor rever os trabalhos da Disciplina de Introdução ao Jornalismo, que leccionei por alguns anos, mas depois foi retirada do Sistema de Ensino, fixei-me num dos testes que fizera para os alunos de 10º e 11º que haviam escolhido essa disciplina, e... como se escreve hoje o que é memória amanhã, não me contive e escolhi dois textos que utilizei  na época, para testes, para mostrar um pouco acerca do jornalismo de então na opinião de dois directores: Jean-François Leven, Director da delegação da AFP em Portugal e Patrick Nicholas Reyna  Chefe da delegação da AP em Lisboa.( Estávamos nos finais da década de oitenta)

Artigo de Jean- François
« O duplo aspecto da imprensa portuguesa, rica na quantidade dos títulos e pobre em meios materiais, repercute-se no estatuto e na actividade dos jornalistas, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Depois de um ano em Portugal como director da delegação.....em Lisboa, parece-me que há uma lição a tirar sobre as possibilidades que este país oferece aos jornalistas.
   A vida do jornalista  em Portugal já não é o inferno que foi até 1974, quando a censura reinava, mas ainda não é o paraíso que a democracia recuperada prometia. Portugal, e nomeadamente o sector da imprensa, tem os defeitos ... das suas quantidades: não há propriamente, segundo me parece, uma tradição de informar em Portugal, nem nas administrações, nem nas empresas, nem nos partidos políticos, nem mesmo por vezes, nos órgãos da imprensa. Neste caso o jornalista perde muitas vezes o seu tempo a encontrar a pessoa qualificada ou que esteja habilitada a falar. Quando o jornalista a encontra, acontece muitas vezes que faltam estatísticas ou referências.
   A amabilidade que dispensa aquele que dá as informações a um jornalista que num português balbuciante o assalta com perguntas, não chega a suprir as deficiências da informação. Falta muitas vezes a rapidez essencial para os órgãos de imprensa internacionais e especialmente para as  agências.
   Ainda não se chegou à conclusão em Portugal de que vale muito mais uma informação parcial a tempo e horas do que uma notícia completa já fora do tempo.»

 Por que escolhi este texto? Talvez a duas décadas e meia de distância, já nem um profissional de imprensa escrita será capaz de responder! Nessa época, uma notícia, era Notícia na hora... 24 horas depois já estava "fora do tempo", como conclui o autor do artigo.
 Artigo de Patrick Nickolas
« Nas horas de ponta, os jornais estão em evidência nos autocarros, nos eléctricos, nos comboios e nas movimentadas ruas portuguesas e americanas.
Entram igualmente nos escritórios, nos cafés, nos "snack-bars" a todas as horas do dia. Portugueses e norte-americanos ligam os seus rádios, de hora a hora, para ouvir as notícias. Ou, então, tomam conhecimento dos acontecimentos do dia, através da televisão.
  Mas o leitor português, bem informado, pode em qualquer altura, conhecer os assuntos com interesse de qualquer continente, enquanto os americanos estão geralmente, ao corrente somente de dois ou três desses mesmos acontecimentos.
   Nos dois países, podem-se encontrar notícias diferentes nos respectivos jornais. rádios ou televisões. A maior diferença que existe, entre eles, está no facto de os mass media em Portugal publicarem um maior número de notícias internacionais do que os americanos, o que poderá constituir um bom exemplo para os jornalistas de além-atlântico.
  Por outro lado, alguns jornais em Portugal tendem a seguir um rumo editorial muito próximo do partido político da sua simpatia. Tais jornais também existem nos Estados Unidos. Mas o leitor português interessado em obter uma visão completa de um determinado acontecimento, terá, por vezes, que ler pelo menos dois ou três o mesmo quatro ou cinco jornais diferentes.
  É também verdade que nos Estados Unidos, com os seus dois partidos principais, existem jornais com preferências para um ou outro lado. Muitos desses  mesmos jornais mudam frequentemente de partido.
No entanto, a política geral na informação, requer normalmente uma investigação à declaração de uma determinada individualidade do seu partido ou da chefia de um grupo. Assim como também a uma contra- declaração do partido ou grupo oponente.»
 
Este segundo artigo expõe a notícia tendenciosa, pois uma notícia para o ser o jornalista tem de ter atenção ao conteúdo escrito com precisão e isenção. Duas características que quem escrevia tinha de ter presentes... E HOJE??? Será que o jornalista ainda sabe escrever com isenção?
Passámos o século e já vamos a caminho da terceira década! Fica a dúvida...Os meios de comunicação continuarão a informar com verdade e isenção!? Quem escreve é capaz de calar as suas preferências, para dar a conhecer os eventos com exatidão, mesmo pondo em causa a sua pessoa!?
 Nema, escrava de Maria

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