Podemos crer no que não vemos? Veja o que diz Santo Tomás
Mas pode alguém objetar: se é insensatez
acreditar naquilo que não se vê, não se deve crer senão naquilo que se
vê.
Respondo a essa objeção com os seguintes argumentos.
Primeiro:
Segundo:
Lê-se, a esse respeito, nas Escrituras: “Foram-te apresentadas muitas verdades que ultrapassam a inteligência do homem”.
Terceiro:
Se o homem não acreditasse senão nas coisas que vê, nem poderia viver nesse mundo.
Quarto:
SÃO TOMÁS DE AQUINO |
Respondo a essa objeção com os seguintes argumentos.
Primeiro:
É a própria imperfeição de nossa
inteligência que desfaz essa dúvida. Realmente, se o homem pudesse por si só
mesmo perfeitamente conhecer as coisas visíveis seria insensato acreditar nas
coisas que não vemos.
Mas o nosso conhecimento é
tão limitado que nenhum filósofo até hoje conseguiu perfeitamente
investigar a natureza de uma só mosca. Conta-se até que certo filósofo levou
trinta anos no deserto para conhecer a natureza das abelhas.
Ora, se nossa inteligência é tão
limitada assim, é muito maior
insensatez não querer acreditar em algo a respeito de Deus a não ser naquilo que
o homem pode conhecer por si mesmo d’Ele.
Lê-se no livro de Jó: “Eis como Deus é
grande e ultrapassa a nossa ciência” (36, 26).
Segundo:
Consideremos, por exemplo, um
mestre que assimilou uma verdade, e de um aluno pouco inteligente que a entendeu
diversamente, porque não a atingiu. Ora, esse aluno pouco inteligente deve ser
considerado como bastante tolo.
Sabemos que a inteligência
dos Anjos ultrapassa a do maior Filósofo, como a deste, a inteligência dos
ignorantes. Portanto, seria tolo se o filósofo que não acreditasse nas coisas
ditas por Deus.
Lê-se, a esse respeito, nas Escrituras: “Foram-te apresentadas muitas verdades que ultrapassam a inteligência do homem”.
Terceiro:
Se o homem não acreditasse senão nas coisas que vê, nem poderia viver nesse mundo.
Pode alguém viver sem acreditar em outrem?
Como podes tu saber que este é teu pai? É, pois, necessário que o homem acredite
em alguém, quando se trata das coisas que por si só não as pode conhecer.
Ora, ninguém é mais digno de Fé do
que Deus. Por conseguinte, os que não acreditam nas verdades da Fé não são
sábios, mas tolos e soberbos. São Paulo refere-se a esses como sendo –
“soberbos e ignorantes…” (1 Tm 6, 4).
Por isso São Paulo diz de si: “sei
em quem acreditei e tenho certeza…” (2 Tm 1, 12). Tudo isso é confirmado no
livro do Eclesiástico “Vós que temeis o Senhor, acreditai n’Ele” (2,
8).
Quarto:
Pode-se ainda responder dizendo
que Deus comprova as verdades da Fé.
Se um rei enviasse suas cartas com
um selo real, ninguém ousaria dizer que
aquelas cartas não vinham do próprio rei. É claro que as verdades nas
quais os santos acreditaram e que nos transmitiram como sendo de Fé Cristã,
estão seladas com o selo de Deus.
Este selo é significado por
aquelas obras que uma simples criatura não pode fazer, isto é, pelos milagres.
Pelos milagres Cristo confirmou as palavras do Apóstolo e dos
santos.
* * *
Fonte: “Sermão sobre o Credo” – São
Tomás de Aquino.
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