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domingo, 4 de outubro de 2015

POR QUÊ ESTE SÍNODO DA FAMÍLIA?!

Posted: 03 Oct 2015 01:00 PM PDT
«Se não soubermos unir a compaixão à justiça, acabaremos por ser inutilmente severos», afirmou papa na véspera do Sínodo sobre as famílias
«Na “Galileia dos gentios” do nosso tempo reencontraremos a espessura de uma Igreja que é mãe, capaz de gerar para a vida e atenta a dar continuamente a vida, a acompanhar com dedicação, ternura e força moral. Porque se não soubermos unir a compaixão à justiça, acabaremos por ser inutilmente severos e profundamente injustos.»
Se não soubermos unir a compaixão à justiça, acabaremos por ser inutilmente severos e profundamente injustos», afirmou o papa este sábado, no Vaticano, durante a vigília de oração que antecedeu a abertura a abertura do Sínodo dos Bispos.
A 14.ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos vai debater entre hoje e 25 de outubro, no Vaticano, o tema "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo».
No encontro participam 270 "Padres sinodais": 45 de nomeação pontifícia, 54 de África, 64 da América, 36 da Ásia, 107 da Europa e nove da Oceânia. Entre estes, contam-se 74 cardeais - entre os quais o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente -, 181 arcebispos, bispos e patriarcas - incluindo o bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família -, 13 religiosos, dois párocos, 18 casais de esposos e 24 peritos e colaboradores do Secretário-especial - equipa que conta com o padre Duarte da Cunha.
Apresentamos um excerto alargado da intervenção do papa Francisco:
«Recordais a experiência de Elias? O cálculo humano suscita no profeta o medo que o impele a procurar refúgio. Medo. «Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. [...] Andou quarenta dias e qua­renta noi­tes, até chegar ao Ho­reb, o monte de Deus. Tendo chegado ao Horeb, Elias pas­sou a noite numa caverna, onde lhe foi di­rigida a palavra do Senhor: "Que fazes aí, Elias?" (1 Reis 19, 3.8-9). Depois, no Horeb, encontrará resposta não no vento impetuoso que sacode as rochas, não no terramoto nem sequer no fogo.
A graça de Deus não levanta a voz; é um murmúrio, que chega a quantos estão dispostos a escutar a brisa ligeira: exorta a sair, a regressar ao mundo, testemunhos do amor de Deus pelo homem, para que o mundo creia...
Com esta respiração, precisamente há um ano, nesta mesma Praça [de S. Pedro, no Vaticano, antes do início do Sínodo extraordinário, de 6 a 19.10.2014], invocámos o Espírito Santo, pedindo que - sobre o tema da família - os Padres sinodais soubessem escutar e confrontar-se, mantendo fixo o olhar em Jesus, Palavra última do Pai e critério de interpretação de tudo.
Esta noite não pode ser outra a nossa oração. Porque, como recordava o patriarca Atenágoras [da Igreja ortodoxa], sem o Espírito Santo, Deus fica longe, Cristo permanece no passado, a Igreja torna-se uma simples organização, a autoridade transforma-se em domínio, a missão em propaganda, o culto em evocação, o agir dos cristãos numa moral de escravos.
Rezemos, por isso, para que o Sínodo que amanhã [4 de outubro] se abre saiba reconduzir a uma imagem plena do homem a experiência conjugal e familiar; reconheça, valoriza e proponha quanto nela há de belo, de bom e de santo; abrace as situações de vulnerabilidade, que a metem à prova: a pobreza, a guerra, a doença, o luto, as relações feridas e desfeitas das quais brotam aborrecimentos, ressentimentos e roturas; recorde a estas famílias, como a todas as famílias, que o Evangelho permanece "boa notícia" da qual se volta a partir.
Do tesouro da viva tradição os Padres saibam atingir palavras de consolação e orientações de esperança para famílias chamadas neste tempo a construir o futuro da comunidade eclesial e da cidade do homem.
Cada família, com efeito, é sempre uma luz, ainda que pálida, na escuridão do mundo. A própria existência de Jesus entre os homens toma forma no ventre de uma família, no interior da qual permanecerá por trinta anos. Uma família como muitas, a sua, colocada num vilarejo perdido da periferia do Império [Romano].
Charles de Foucauld, talvez como poucos outros, intuiu o alcance da espiritualidade que emana de Nazaré. Este grande explorador abandonou à pressa a carreira militar, fascinado pelo mistério da Sagrada Família, pela relação quotidiana de Jesus com os pais e os vizinhos, pelo trabalho silencioso, pela oração humilde.
Olhando para a família de Nazaré, o irmão Charles percebeu a esterilidade do anseio pela riqueza e pelo poder; com o apostolado da bondade, fez-se tudo para todos; ele, atraído pela vida eremítica, compreendeu que não se cresce no amor de Deus evitando o serviço das relações humanas. Porque é amando os outros que se aprende a amar Deus; é curvando-se sob o próximo que se eleva a Deus. Através da proximidade fraterna e solidária aos mais pobres e abandonados, ele compreende que são precisamente eles que nos evangelizam, ajudando-nos a crescer em humanidade.
Para compreender hoje a família, entremos também nós - como Charles de Foucauld - no mistério da Família de Nazaré, na sua vida escondida, obreira e comum, como é a da maior parte das nossas famílias, com as suas dores e as suas alegrias simples; vida entretecida de serena paciência nas contrariedades, de respeito pela condição de cada um, daquela humildade que liberta e floresce no serviço; vida de fraternidade, que emana do sentir-se parte de um único corpo.
A família é lugar de santidade evangélica, realizada nas condições mais normais. Nela respira-se a memória das gerações e se aprofundam raízes que permitem ir longe. É lugar de discernimento, onde se educa a reconhecer o desígnio de Deus sobre a própria vida e a abraçá-lo com confiança. É lugar de gratuidade, de presença discreta, fraterna e solidária, que ensina a sair de si mesmo para acolher o outro, para perdoar e ser perdoado.
Voltemos a partir de Nazaré para um Sínodo que, mais do que falar de família, saiba colocar-se na sua escola, na disponibilidade a reconhecer sempre a dignidade, a consistência e o valor, não obstante os muitos cansaços e contradições que possam marcá-la.
Na "Galileia dos gentios" do nosso tempo reencontraremos a espessura de uma Igreja que é mãe, capaz de gerar para a vida e atenta a dar continuamente a vida, a acompanhar com dedicação, ternura e força moral. Porque se não soubermos unir a compaixão à justiça, acabaremos por ser inutilmente severos e profundamente injustos.
Uma Igreja que é família sabe colocar-se com a proximidade e o amor de um pai, que vive a responsabilidade de guardar, que protege sem substituir, que corrige sem humilhar, que educa com o exemplo e a paciência. Por vezes, simplesmente, com o silêncio de uma espera orante e aberta.
Sobretudo, uma Igreja de filhos que se reconhecem irmãos nunca chega a considerar alguém apenas como um peso, um problema, um custo, uma preocupação ou um risco: o outro é essencialmente um dom, que permanece tal mesmo quando percorre caminhos diferentes.
É casa aberta, a Igreja, distante de grandezas exteriores, acolhedora no estilo sóbrio dos seus membros e, precisamente por isso, acessível à esperança de paz que há dentro de cada homem, incluindo quantos - provados pela vida - têm o coração ferido e sofredor.
Esta Igreja pode iluminar verdadeiramente a noite do homem, apontar-lhe com credibilidade a meta e compartilhar os passos, precisamente porque ela, primeiro, vive a experiência de ser incessantemente regenerada no coração misericordioso do Pai.»
A "solene inauguração" do Sínodo dos Bispos, instituição que em 2015 assinala 50 anos, decorre neste domingo, com a missa presidida pelo papa Francisco na basílica de S. Pedro, no Vaticano, pelas 10h00 (9h00 em Portugal continental). A primeira reunião de trabalho realiza-se na manhã de segunda-feira.
 Trad. / edição: Rui Jorge Martins 

Publicado em 04.10.2015
Fonte:Pastoral da cultura

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