MIRIAM DIEZ BOSCH Miriam Diez Bosch | Maio 24, 2017
Os cátaros – realidade ou lenda?
Sua doutrina, resumida em 10 pontos
Daniel Gonzalez Acuna/NurPhoto
|
Corria o século XII e na Europa surgiram alguns clérigos que pregavam por conta própria. Chamavam-se “bons cristãos”. Eles renunciaram à Igreja. Este movimento, o catarismo, enraizou-se em algumas partes do velho continente até o século XIV. França, Renânia, Itália, Bélgica, Inglaterra, Catalunha e a Coroa de Castela são os pontos no mapa onde eles estavam presentes.
França: Rota dos Cátaros, ao seu gosto . |
Que eram? Por que eles se revoltaram? O que defendiam?
Sergi Grau Torras é doutor em Filosofia e licenciado em História. Especialista em catarismo, é autor do livro La invención de los cátaros (Angle Editorial, 2016). Ele assegura que foi construída uma imagem em torno dos cátaros que tem convencido, mas “tem pouco a ver com a realidade”. Seu objetivo é contar a história real a partir de tudo o que permanece documentado.
Cátaro vem do grego puro, limpo
“Os cátaros foram cristãos que renunciaram à liturgia, à hierarquia e à Igreja e que se apresentavam como uma alternativa”, explica. Sergi Grau destaca 10 características que nos permitem esclarecer as ideias sobre o catarismo e distinguir a realidade da ficção:
- Renegam o batismo. Eles acreditavam que é necessário ter a consciência de se tornar parte da Igreja. Seu ritual era uma espécie de batismo espiritual que consistia na imposição das mãos, momento a partir do qual se convertiam em “bons cristãos” e deviam cumprir fielmente o Evangelho. Segundo eles, a Igreja havia perdido este valor.
- Pregam em pares. Cumprir o Evangelho significa também pregá-lo. Eles faziam isso em pares e de forma itinerante. Os cátaros não estavam sempre em um lugar físico particular, pois acreditavam que Deus estava onde eles estavam.
- Acreditam na reencarnação. Entendem que “a alma não morre, mas passa de corpo a corpo”.
- Apresentam outra visão da origem do mal no mundo. Trata-se de um novo caminho para a salvação da alma e uma nova reflexão. Defendem que o mal vem de outro Deus que não tem nada a ver com cristianismo, mas surge a partir de uma criação demoníaca.
- A mulher tem um papel importante e pode pregar. De acordo com Sergi Grau, “as mulheres viram os cátaros como um grupo onde podiam desenvolver a religião como faziam os homens”.
- Contam com uma sólida formação. Vale destacar que eles traduziram a Bíblia ao catalão, ao castelhano e ao francês.
- Seu tesouro: o Santo Graal. Diz a lenda que esta igreja guardava o Santo Graal no Mosteiro de Montsegur, na Catalunha (Espanha).
- Cinco documentos são preservados, dos quais três se referem a cerimônias: A Ceia Secreta, O livro dos dois princípios, O ritual occitano de Lyon, O anônimo e Summa Catharis.
- Sua herança: a pregação. Apesar de serem considerados hereges, o catolicismo partilha com eles a importância da pregação – e sua arma principal para neutralizar os cátaros era, precisamente, a pregação, como mostra a vida de São Vicente Ferrer.
- Um cátaro contemporâneo é Juan de San Grial. Trata-se do russo Johann Bereslavskiy, fundador da nova escola cátara, e está em constante contato com líderes das diferentes religiões cátaras em todo o mundo, bem como personagens intelectuais proeminentes, como mestres do sufismo e do budismo zen. Em 2001, este místico recebeu o Prêmio da Paz Albert Einstein.
Sem comentários:
Enviar um comentário