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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O ORGÃO: UM INSTRUMENTO DE GRANDE VALOR NAS IGREJAS

Novas igrejas de todos os tempos: Órgão, o instrumento que pode nascer da arquitetura

Tema: Arte

ImagemÓrgão Silbermann | Hofkirche, Dresden, Alemanha | Séc. XVIII | Foto esquerda: Thomas Augustin | CC BY-SA 3.0 | Foto direita: Timo Sack | CC BY-SA 2.5
 
O órgão é um instrumento de grande valor artístico na vida da Igreja, quer a nível sonoro, onde se encontra a sua principal função, quer a nível visual, onde também é importante refletir sobre o seu papel. Dos diversos tipos de órgãos que podemos encontrar, será talvez possível dividi-los em duas grandes categorias – os instrumentos que nascem da arquitetura – cuja conceção parte primariamente de uma compreensão do contexto em que são construídos – e os instrumentos que se assumem como  elementos mais independentes da arquitetura.
Acerca do primeiro caso, sobre o qual aqui nos concentramos, destaca-se primariamente a capacidade que estes têm de consolidar e expandir as ideias expressas pela arquitetura. Por vezes são peças de destaque no contexto do edifício, mas são-no sempre mantendo esta consonância com o que a arquitetura procura transmitir. Abaixo abordaremos dois instrumentos históricos e, seguidamente, quatro instrumentos contemporâneos, tentando encontrar matéria para reflexão adicional.
O órgão da Hofkirche de Dresden (Alemanha, séc. XVIII), construído por Gottfried Silbermann entre 1750 e 1755, surge no coro alto e aparenta ser um elemento de apoio à verticalidade expressa pela arquitetura, com uma composição de fachada onde a disposição dos tubos destaca o aumento de altura ao centro, auxiliada inclusive pela cor que se mistura com as paredes. A colocação do instrumento, totalmente apoiado no coro alto e sem elementos salientes ou suspensos, parece ajudar a enfatizar o peso que os pilares da própria igreja transmitem, pela sua espessura e regularidade.

Já o órgão (séc. XVIII) da Archikatedra Oliwa (Polónia, séc. XVI), do organeiro Johann Wilhelm Wulff, tem um formato totalmente diferente com um desenvolvimento da caixa do órgão em formato côncavo, rematando a nave e encaminhando o olhar para o vitral no seu centro, representando a Virgem Maria. A colocação do órgão, em paralelo com o vitral que remata o altar no extremo oposto da nave, sugere uma atração para o centro da nave, entre dois pólos de grande intensidade, para um acolhimento no interior da igreja.
ImagemÓrgão Wulff | Archikatedra Oliwa, Gdansk, Polónia | Século XVI Foto esquerda: Diego Delso | CC BY-SA 3.0 | Foto direita: Julo | D.Púb.
 
Na contemporaneidade existem também variados exemplos de instrumentos cuja linguagem se adapta à do edifício onde se inserem, procurando uma complementação da arquitetura, muitas vezes através de uma linguagem mais geométrica.
O órgão da igreja do Sagrado Coração de Jesus (Nuno Portas e Nuno Teotónio Pereira, 1962-1970) assume um pouco do despojamento procurado pela arquitetura, libertando-se da caixa de ressonância (apesar do resultado sonoro negativo que acaba por sofrer) e procurando uma linguagem mais geométrica e abstrata pela disposição dos diversos tipos de tubos.
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Órgão Alfred E. Davies & Son | Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Lisboa | 1962-1970 | Fotos: João Valério | CC BY-SA 3.0
 
O órgão da Fronleichnamskirche, em Aachen (Rudolf Schwarz, 1929-1930) apresenta uma caixa cuja geometria similar à nave e aos vãos segue a ortogonalidade muito estrita da arquitetura e limita a não-ortogonalidade dos tubos ao seu perímetro.
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Órgão Stahlhuth | Fronleichnamskirche, Aachen, Alemanha | 1929-1930 | Foto esquerda: Florian Monheim | D.R. | Foto direita: Norbert Schnitzler | CC BY-SA 3.0
 
Na Annakirche, em Düren, (Rudolf Schwarz, 1954-1956), o primeiro órgão (substituído em 2010) nascia como corpo que irrompe da parede, como uma planta que desabrocha entre as rochas, suspendendo-se e assumindo na cor da madeira uma relação com a pedra, ao mesmo tempo que a composição diagonal da caixa evidenciava a harmonia entre os pesos visuais desiguais das duas paredes – uma mais etérea, de vidro, e uma de maior densidade, de pedra – que apesar de distintas se equilibram.
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Órgão | Annakirche, Düren, Alemanha | 1954-1956 | Foto esquerda: Norbert Schnitzler | CC BY-SA 3.0 | Foto direita: Moritz Bernoully | CC BY-SA 3.0
 
A Herz-Jesu-Kirche de Munique (Allmann Sattler Wappner, 1997-2000) continua, já neste século, a tradição de pensar o órgão em função da arquitetura, propondo um instrumento de grande ortogonalidade onde apenas as variações dimensionais nos pés dos tubos criam ligeiras gradações nos reflexos da fachada do órgão.
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Órgão Woehl | Herz Jesu Kirche, Munique, Alemanha | 1997-2000 | Foto esquerda: Guido Wörlein | D.R. | Foto direita: Martin Falbisoner | CC BY-SA 4.0
 
Qual o papel visual do órgão na arquitetura contemporânea de igrejas? Continua a ser-lhe atribuído um papel significativo ou é antes um elemento que apenas é pensado após a construção, retirando-lhe capacidade expressiva? Como pensar o órgão atualmente?
 
João Valério Publicado em 15.02.2015
 Fonte: Pastoral da Cultura

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