A cruz de Cristo!
Que mais posso dizer? Não sei orar, não sei o que é ser bom, não tenho espírito religioso, pois estou cheio do mundo.
Só sei
uma coisa, uma coisa que enche a minha alma de alegria, apesar de me ver tão
pobre de virtudes e tão rico em misérias;
Sei
apenas que tenho um tesouro que não trocaria por nada nem por ninguém: a minha cruz, a cruz de Jesus, essa cruz que
é o meu único repouso.
Como
explicar isto? Quem não experimentou, não pode sequer suspeitar do que se
trata.
Ah, se
todos os homens amassem a cruz de Cristo!
Se o mundo soubesse o que é abraçar
plenamente, verdadeiramente, sem reservas, em loucura de amor, a cruz de
Cristo!
Tanto
tempo perdido em conversas, devoções e exercícios que são santos e bons, mas que
não são a cruz de Jesus, não são o que há de melhor.
Pobre
homem que não prestas para nada, que não serves para nada, que arrastas a tua
vida, seguindo como podes as austeridades da regra, contentando-te em esconder
no silêncio os teus ardores:
Ama até à
loucura o que o mundo despreza por não conhecer, adora em silêncio essa cruz,
que é o teu tesouro, sem que ninguém se aperceba.
Medita em silêncio diante
dela nas grandezas de Deus, nas maravilhas de Maria, nas misérias do homem.
Prossegue a tua vida sempre em silêncio, amando, adorando e unindo-te à
cruz.
Que queres mais? Saboreia
a cruz, como disse hoje de manhã o senhor bispo. Saborear a
cruz!
in Escritos
espirituais, 03/IV/1938
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