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terça-feira, 14 de abril de 2015

A LOUCURA DA CRUZ!?

Vede: a Cruz,

Que aos olhos do século parece não ser mais que um símbolo de tristeza, é, entretanto, a obra prima da alegria; e, portanto, a maior das felicidades humanas é essa loucura de que nos fala São Paulo.
O século sempre entendeu esta loucura erradamente, servindo-se dela para zombar da fé, caluniar o cristão e apresentá-lo como o refugo da natureza humana, cuja ciência consiste em bestializar a inteligência, obliterar o sentimento e atrofiar o coração.
Nunca foi esta a doutrina da Igreja, que, bem longe de assim entendê-lo, quando, no século 17, homens saídos de seu seio, mal interpretando as palavras do Apóstolo, fizeram uma guerra encarniçada à ordem natural, à razão humana, ao desenvolvimento da inteligência e às necessidades legítimas do coração, condenou essa doutrina –o Jansenismo – e reprovou a sua moral.
A loucura da Cruz, como a entende a Igreja, não é, pois, a mutilação do homem; não é a renúncia de seus sentimentos, nem do que eleva o seu espírito, dilata o seu coração e alegra a sua vida.
A doutrina da Igreja, é que a Graça não destrói a natureza: purifica-a, aperfeiçoa-a
Santo Agostinho dizia que a Encarnação não é senão um vasto sistema higiênico e curativo para a natureza humana; e, se bem compreenderdes este pensamento do egrégio doutor da Igreja, vós tereis a justa ideia do que seja a loucura da Cruz.
Nas práticas da vida cristã, nas humilhações do homem que quer purificar-se, há uma espécie de loucura; mas loucura somente para os instintos depravados da natureza corrompida.
Como em todo remédio há uma parte por assim dizer ignóbil, vil, desprezível, repugnante à natureza; há também isso no aparelho curativo da Igreja.
O homem é também doente do espírito e do coração; e os remédios de que precisa esta sua enfermidade são como os do corpo, duros, amargos, repugnantes à vaidade e ao orgulho.
É uma loucura humilhar-se, abater-se pedir perdão das ofensas, amar os inimigos?!
Pois é a loucura da Cruz!
É uma loucura ser casto, renunciar aos gozos animais, rivalizar com os anjos?! Pois é a loucura da Cruz! É uma loucura repudiar a avareza a ambição da glória, o furor do bem-estar?! Pois é a loucura da Cruz!
Reparai, porém: esta loucura é um verdadeiro remédio, porque nos despoja do velho homem, restaura as partes nobres da nossa natureza, que só se purifica e regenera pela crucificação, isto é, pelo aniquilamento de suas partes más.
E não foi essa loucura que regenerou o mundo, quando, num momento solene da história, para libertá-lo da gangrena romana, foi preciso lavá-lo no sangue das virgens, dos confessores, dos mártires?! E, hoje, que falta ao nosso século?
É justamente a loucura da Cruz!
Porque o homem moderno é tão vaidoso, tão cheio de ambições, tão sensual, tão rebelde? Porque não ama a Cruz de Jesus Cristo e zomba do cristão que procura reproduzi-la em si? Porque na política a impostura, a mentira, a perfídia?
Na ciência – o orgulho, na literatura – a luxúria, nas artes – a prostituição do belo, o repúdio de todas as formas nobres da imaginação? Porque o estadista, o sábio, o filósofo, o poeta e o artista não conseguem fazer feliz a humanidade moderna?
Percorrei o mundo inteiro, batei a todas as portas; perguntai aos homens, nos palácios ou nas choupanas, se eles são felizes; e um gemido doloroso saído de todos os corações vos responderá: não, não somos felizes.
Mas porque o homem moderno, no meio de tantos esplendores da civilização material, é verdadeiramente desgraçado? Porque ele não ama a Cruz de Jesus Cristo.
Vós, homem moderno, podeis pretender todas as glórias: a de terdes surpreendido, com um pedaço e vidro, o infinitamente pequeno nas profundezas da terra, o infinitamente grande nas profundezas do céu;
A de terdes dado aos vossos olhos o prodigioso óptico poder de verem no solo o arbusto crescer, a verem no espaço o astro girar; a de terdes reunido nas vossas exposições universais as riquezas espalhadas pelo globo;
A de terdes consorciado nos vossos museus as faunas e as floras do mundo inteiro; a de terdes pelejado com os seus ventos e tempestades, medido mesmo a profundeza dos seus oceanos. Há uma glória, porém, que vós não podeis reclamar:
A de terdes medido a inanidade dos vossos prazeres, domado os ímpetos do vosso orgulho, medido a profundeza incomensurável da vaidade universal, que não deixa ver na Cruz de Jesus Cristo a salvação do mundo, e na loucura da Cruz – a sabedoria verdadeira!
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Fonte: retirado do livro “A Paixão” do Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde.

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