26 FEVEREIRO, 2016
Das declarações ambíguas e polêmicas.
Por Hermes Rodrigues Nery | FratresInUnum.com
Uma das estratégias de manipulação midiática apresentadas por Noam Chomsky é a da gradação, que “para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas”, pois as medidas para uma revolução não podem ser “aplicadas de uma só vez”. De alguma forma, as declarações informais do papa Francisco, a bordo do avião de volta de suas viagens, fazem lembrar a estratégia de Chomksy. Nunca foi preciso sacerdotes e leigos comprometidos com a Igreja terem de sair nas redes sociais explicando aos fiéis atônitos diante de uma declaração ambígua e desconcertante, de que não era bem isso que o papa queria dizer, que a mídia deturpou suas palavras, de que jamais ele contrariou a doutrina católica, de que é preciso entender o contexto, etc. Desde o impacto da declaração “quem sou eu para julgar?”, quando indagado sobre o homossexualismo, essa parece ser uma tônica, enquanto estratégia, não apenas em entrevistas informais a bordo do avião, mas até nas concedidas para a imprensa, como, por exemplo, as que ele deu para Antonio Spadaro, em La Cività Cattolica.
As questões polêmicas não causaram inquietação nos que estão fora da Igreja, pelo contrário, seus conhecidos adversários ficaram satisfeitíssimos com a abordagem de tais declarações, comemoram até, e imediatamente publicaram em seus blogs, jornais e demais periódicos, editoriais elogiosos. A devastação é causada dentro da Igreja, em que, por durante dias consecutivos permanece a discussão sobre o que ele quis dizer exatamente com isso ou aquilo, até que a maioria dos jornais e sites católicos acomodam a situação, buscando de todas as formas dar razão ao que, em certos casos, fica muito difícil defender, especialmente por nós, católicos apostólicos romanos que amamos a Igreja.
E então, foi doloroso ter visto a sua declaração, no retorno do México à Itália, quando afirmou uma imprecisão histórica ao falar sobre contraceptivos, dando a entender que Paulo VI havia aprovado o uso de anticoncepcionais, no caso das freiras violentadas no Congo Belga, quando, na verdade, o papa Montini jamais fizera aquilo e, pelo contrário, foi categórico em condenar os contraceptivos na Humanae Vitae, alguns anos depois. O engano histórico, tantos dias depois, ainda não foi reparado pela sempre ágil (quando convém) Sala de Imprensa da Santa Sé. E mais: de ter feito questão de se encontrar com o Patriarca Ortodoxo Russo, em Cuba (dias depois, a presidente Dilma Roussef disse ter se sentido honrada com a sua presença no Palácio do Planalto), em que, juntamente com Kiril, reforçou a estratégia geopolítica de Putin (o eixo russo-chinês, do qual a “Pátria Grande” está alinhada, com o internacionalismo de esquerda), isolando ainda mais os greco-católicos ucranianos, e mesmo os católicos russos, afirmando ainda na mesma entrevista que agora seu maior sonho é visitar a China.
Em um discurso firme, o papa Francisco reiterou que continuará levando à frente a reforma da Igreja Católica e cobrou dos membros da Cúria romana uma “moral ... |
Não foram poucas as mensagens recebidas in box do facebook, de muitas pessoas indagando sobre o que dizer aos catequizandos sobre essa ou aquela declaração, e como se defender daqueles que dizem que estamos querendo ser mais católicos que o próprio papa, quando queremos apenas ensinar o que realmente está no Catecismo da Igreja Católica. E então os rótulos de conservadores, restauracionistas e tudo mais são atirados para todos os cantos, no intuito de frear ou neutralizar os que apenas querem ser fiéis à sã doutrina católica, nesses tempos cada vez mais difíceis, de muita provação. Outro dia, numa visita a uma paróquia, um padre pedindo uma opinião minha sincera sobre determinadas declarações e até atitudes, como aquela de ter aceitado o abominável presente de Evo Morales, com Cristo crucificado numa foice e martelo, a resposta que podemos dizer é da nossa convicção da promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo de que a Igreja sempre terá a proteção do Espírito Santo, e de que rezamos por Francisco e nos empenhamos em compreender tudo o que está acontecendo. E mesmo assim vieram tantos outros questionamentos. O sacerdote confidenciou que tem sido muito difícil explicar aos fiéis sobre tantas coisas, e que os próprios fiéis, muitos deles bastante simples, sentem que alguma coisa não bate, não encaixa, mas eles não sabem dizer o que afinal acontece. “O fato é – disse-me ele – que a revolução em curso é inevitável, e não sabemos que efeitos terá”. E as declarações dadas “em contas gotas” vão diluindo toda e qualquer resistência, porque esta e outras estratégias, como as apresentadas por Chomsky, dão “mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.” E prosseguiu: “Pois mudanças estão sendo preparadas, desde o primeiro dia, e muitos trabalhando com afoiteza, para que no momento oportuno, os próprios católicos estejam prontos para aceitá-las. Por isso, as declarações ambíguas não parecem ser tão espontâneas assim, mas calculadas, como uma estratégia de gradação, a preparar a revolução, que ninguém sabe exatamente para onde querem levar a Igreja.”
Enquanto isso, continuaremos rezando pelo papa Francisco, como ele nos pediu, desde o primeiro instante.
Fonte: FratresInUnum.com
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