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terça-feira, 28 de junho de 2016

AINDA SOBRE O BREXIT!

Reino Unido

Brexit: "Saímos de um avião que se vai despenhar. Bom voo"

Um reformado de 78 anos que votou para o Reino Unido sair da UE e um economista de 27 que queria ficar explicam ao JN em Londres o que sucedeu.
"Não há volta. Se a decisão foi pela saída, sairemos". Glenn Jobs, 78 anos, um reformado que enriqueceu com catering, parece decalcar as palavras do primeiro-ministro David Cameron antes de cair na demissão e no referendo que ditou a extração do Reino Unido da União Europeia (52% pela saída, contra 48%; a diferença é de 1,2 milhões num eleitorado de 46 milhões).
Glenn até usou a metáfora do voo de Cameron, mas para a retorcer: "Se quisermos sair de um avião em andamento, podemos sair, mas depois não há forma de voltar a entrar", disse Cameron em campanha, frase que agora Glenn engrossa: "Mas, quem raio é que quer ir num avião que se vai despenhar? Por isso, bom voo para vocês, os da UE. Mas, se fosse eu, via já onde é que estão os paraquedas, isto é, se os houver...".
A seguir desfia o que o Reino Unido vai ganhar: "Soberania, total controlo da migração, regulação económica que faça sentido para nós". E diz o que o irrita ("a eurozona é um desastre") e diz o que o fez mesmo votar para sair: "A crise financeira de 2008, que nos afundou no paquiderme da UE, e a contínua crise de refugiados da Síria, aqui tratada com excesso de liberalidade".
Glenn, que se entretinha na tarde londrina deste domingo a apostar em cavalos e no França-Irlanda ("olha, ganhei três vezes o que pus na vitória dos frogs!"), tem uma família grande de seis votantes. Diz que todos estiveram unidos no não à UE. E agora, Glenn, quem quer a governar? "Fácil: o Boris [Johnson, conservador], ele saberá defender-nos do mal da UE"
Mas eles perderam a cabeça?
"Agora vai ficar tudo mais caro! Isto é muito claro. Não sei onde é que eles tinham a cabeça", diz Luke Wright, 27 anos, financeiro na City e que sabe realmente de números.
"Ora bem, a libra já está a desvalorizar, ontem uma libra valia 1.37 dólares e 1.23 euros. Há um ano valia mais: 1.57 dólares e 1.40 euros. É a maior desvalorização desde 1980!", diz ele a consultar o iPhone. E dá exemplos: "Os ingleses que vão de férias para o vosso solarengo país, o Algarve (são os da classe operária e que ganham menos, não é?), bom, a esses agora vai ficar tudo mais caro, comida, hotéis, entretenimento, tudo, simplesmente porque a libra vai deflacionar".
Luke, que faz parte da geração que votou maioritariamente para ficar na UE (56% na faixa etária 25-49 anos; nos de 18-24 anos foi 75%), continua a informar bem: "Mas aqui os preços também vão subir: tudo o que for importado, comida, eletrónica, roupa, gasolina, vai encarecer, não só pelo embate com o dólar, mas pelas novas taxas alfandegárias que se vão criar - o aumento na gasolina vai ser já sentido porque o crude é referenciado em dólares".
No imobiliário, pode haver um efeito curioso, diz ele: "O preço das casas vai descer, algures entre 5% e 15%, pondo fim à subida contínua desde o século passado. É a única coisa boa que vejo. De resto, o céu parece-me muito carregado para nós", diz Luke que acha que quem votou para sair "não é solidário, não é global e é definitivamente racista".
E conclui a olhar para Oeste: "Isto favorece os populistas e os políticos hipócritas. Já viu que nos EUA pode ficar a mandar Donald Trump e aqui Boris Johnson, dois demagogos sem qualidades? E nem vou falar do cabelo ridículo dos dois!".



Fonte: JN

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