O milagre do impossível!
Não são festas a levar com ligeireza, o Natal e a Passagem de Ano! Deveriam solicitar reflexões profundas, e não estimular, ao contrário, esquecimentos ou pantominas favorecidas pela euforia da festa. Conheci e conheço pessoas que enfrentam a última noite do ano em solidão, fechando-se num quarto a escutar música não evasiva e a refletir sobre a sua razão de estar no mundo, prestando contas do que fizeram durante o ano que morre e meditando nos propósitos para enfrentar aquele que nasce, o que pedir a si próprio para o não viver passivamente.
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Há certamente uma razão profunda nos Evangelhos para que, a seguir ao nascimento de Jesus, faça seguir o massacre dos inocentes. Logo depois da esperança do resgate, o Recém-Nascido que indica o caminho da libertação do Mal, eis que regressa a história, a violência do poder que refuta o Bem porque sabe que não serve para o sistema que construiu ou sobre o qual se instituiu.
Talvez seja inoportuno, nos dias antes do Natal, recordá-lo, mas assim é, e todos o sabemos muito bem. Após o Natal, no calendário chegam rapidamente o fim do ano velho e o início do ano novo, uma sequência ritual que volta a propor a esperança num mundo melhor para cada um e para todos.
Não são festas a levar com ligeireza, o Natal e a Passagem de Ano! Deveriam solicitar reflexões profundas, e não estimular, ao contrário, esquecimentos ou pantominas favorecidas pela euforia da festa.
Conheci e conheço pessoas que enfrentam a última noite do ano em solidão, fechando-se num quarto a escutar música não evasiva e a refletir sobre a sua razão de estar no mundo, prestando contas do que fizeram durante o ano que morre e meditando nos propósitos para enfrentar aquele que nasce, o que pedir a si próprio para o não viver passivamente.
O Natal e a Passagem de Ano estimulam em alguns uma amarga consideração sobre as falhas, sobre as dificuldades em estar à altura das tarefas que se deveriam assumir para combater o Mal, para defender o Bem. E, sobre isto desejo insistir, para enfrentar o presente como o futuro numa visão não individualista, pensando nas tragédias da história de hoje e naquelas da história de sempre.
Dizia-se, no passado, que o contributo de cada pessoa para a mudança, para a vitória do Bem sobre o Mal da história (provavelmente impossível), que a nossa ação pela justiça devia ter em conta não só os vivos, que ela devia ter também a função de “libertar” até o passado, de resgatar a pena das milhões de vidas vividas pouco ou vividas mal, de dar um sentido ao seu sofrimento e à sua amarga passagem sobre a Terra.
E isto faz-nos pensar, em particular, precisamente nos Inocentes, nas crianças cujo massacre, no mundo, nunca teve fim, e que hoje continua a ocorrer. Deveria ser este o nosso propósito prioritário, na passagem para um novo que nasce e um velho que morre: um mundo em que se possa assistir ao milagre do impossível, aquele em que o lobo se deita com o cordeiro, augurando aos cordeiros/crianças que possam ter uma vida longa, plena, útil, serena, e lutando para que tal se possa realizar.
Fonte: Pastoral da Cultura
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