Herói de Portugal, Guerreiro e Santo: conheça a incrível vida de São Nuno Álvares
29, outubro, 2014 Deixar um comentário
Porém Nuno não se satisfazia com
ser pacato castelão. Lembrava-se do dia em que fora armado cavaleiro, dos
juramentos solenes que fizera, e perguntava a si mesmo: “Passarei toda a vida
assim? Para isto recebi tão solenemente a espada, sobre a qual
fiz tão sérias promessas?”
O Rei D. Fernando, o formoso,
entregara grande parte do reino ao invasor castelhano, sem
qualquer resistência; homem apático, mole, desfibrado, mereceu de Camões o
severo juízo: “um fraco rei faz fraca a forte gente”.
E havia também o “grande desvario”: Fernando
ousara colocar no trono de Sta. Isabel, como Rainha de Portugal, a legítima
esposa de um fidalgo que exilara — D. Leonor Teles, “a aleivosa”.
As guerras tinham esgotado o
tesouro real, levando o Rei a alterar o valor da moeda — espécie de inflação da
época — logo acarretando carestia, câmbio negro e fome.
Em 1373 o exército castelhano
invade o sul do país, a esquadra lusitana é fragorosamente derrotada em Saltes,
Lisboa é cercada. O Rei D. Fernando não tem força moral para
resistir, os fidalgos da fronteira se desinteressam da defesa,
bandeiam-se. O reino agoniza.
Herói da Independência de
Portugal
Nuno, aos 22 anos
de idade, participa da defesa de Lisboa. Uma incursão fora dos muros,
contra as tropas castelhanas que pilhavam os vinhedos, o coloca subitamente, com
seus 50 homens, face a 250 inimigos.
Não conseguindo levantar o
ânimo apavorado dos cavaleiros portugueses com exortações, ele se atirara
sozinho contra os espanhóis.
Ataca-os, é cercado, derrubado e
atacado a lançadas — que entretanto resvalam pela armadura — até que os seus,
arrebatados pela sua coragem, abrem caminho para salvá-lo e lançam-se
sobre os inimigos num ímpeto avassalador, que só termina com a fuga
destes a nado, pelo rio.
Ano de 1384. Para sustentar as
pretensões de D. Beatriz, Castela invade Portugal pelo sul. Nuno acode com um
exército mal formado e desesperançado.
Começa por erguer o ânimo dos
soldados, fazendo-os assistir à Missa em ordem militar,
exortando-os a serem inflexíveis no lutar pela causa justa, dando ele próprio o
exemplo ao afirmar que não reconhece como tais a dois irmãos seus, que marcham
na vanguarda do exército inimigo.
Mais tarde se poderá dizer
que os acampamentos de seus comandados mais pareciam mosteiros de religiosos
reformados, tal a ordem e a piedade que neles dominavam.
No campo de Atoleiros os dois
exércitos se defrontam. Nuno forma os seus num quadrado cerrado, ponteado de
lanças. Contra este se atira a cavalaria castelhana, e atrás dela a peonagem,
sem conseguir varar a muralha que as lanças formam, enquanto de dentro chovem
flechas e pedras.
Aos poucos o ímpeto do invasor vai
arrefecendo, e então o jovem capitão ordena o ataque. Abre-se o quadrado e
dispara a cavalaria portuguesa, animada por D. Nuno, que se
atira sobre os castelhanos até desbaratá-los completamente.
Para agradecer à Mãe de Deus a vitória,
Nuno vai em peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Assumar e encontra-o
profanado, transformado em estrebaria. Com suas próprias mãos ele o limpa e o
entrega novamente ao culto.
A vitória de Atoleiros desanima os
invasores, que levantam o cerco de Lisboa e se retiram de
Portugal.
Novamente Castela invade Portugal,
agora pelo norte. São 30 mil homens contra os 8 mil de que dispõe D. João I. O
conselho real recomenda não dar combate. Colérico, Nuno abandona a
corte, até obter do Rei a permissão de ir ao encontro do
invasor.
Nos campos de Aljubarrota vai se
travar a batalha decisiva para a soberania de Portugal, (com uma táctica, chamada táctica do quadrado.)
É o dia 14 de agosto,
vigília da Assunção. O Bem-aventurado forma seus homens numa
garganta estreita, oferecendo assim pequena frente ao ataque. Ao meio-dia surge
o exército inimigo, tendo a flor da nobreza e o próprio Rei D. João.
TÁCTICA DO QUADRADO QUE DEU A VITÓRIA DECISIVA AO PAÍS |
Só às seis horas os gritos de
guerra cortam o ar, e a cavalaria castelhana arremete em disparada contra a
muralha formada pelos portugueses. Estes resistem firmes sob o comando do
Condestável.
Nova carga, e a ala esquerda
começa a ceder. Nuno voa para lá, reanima os soldados e recupera a
posição. Entrechocam-se as lanças, saltam os cavalos, bradam os
guerreiros, clamam os feridos, e no fragor da batalha os espanhóis começam a
recuar. Neste momento, novamente o Condestável ordena o ataque.
Abrem-se as fileiras, e ele rompe
à frente dos cavaleiros sobre o inimigo, que não mais lhes resiste. Aos poucos o
recuo vai se transformando em fuga desabalada, enquanto os portugueses
gritam vitória pelos campos, que o sol do crepúsculo ilumina docemente.
Em menos de uma hora fora ganha a batalha decisiva.
Aproveitando o ímpeto vencedor,
Nuno atravessa a fronteira e invade Castela, em busca do exército que ele quer
desbaratar completamente. Conquista facilmente Parra, Zafra, Fuente del Maestre,
Usagre e Vila Garcia.
Por fim oferecem-lhe combate em
Valverde. Forma seu quadrado clássico, mas ao invés de esperar na defensiva,
investe em bloco contra os outeiros em que se entrincheiram os
inimigos.
Ao contrário das anteriores, a
batalha é longa, já dura dois dias. Dois dos outeiros são conquistados, o
terceiro resiste firme. Neste momento o Condestável desaparece.
Desconcertados, seus cavaleiros o
procuram. Teria morrido? Afinal Ruy Gonçalves encontra-o atrás de umas pedras,
rezando.
Pede, insiste que venha logo, que os
portugueses vão ser dispersados. “Ainda não é o momento — responde D. Nuno —
deixai-me terminar de orar”. E permanece longo tempo ainda em oração.
Depois levanta-se, o rosto
iluminado, os olhos brilhantes. Monta a cavalo e se atira como uma
flecha no meio dos inimigos, abre caminho impetuosamente, e sem que o consigam
deter, atinge a bandeira do Mestre de Santiago, comandante castelhano.
Atrás dele os portugueses,
eletrizados pela sua audácia, irrompem igualmente por entre os adversários.
Atônitos, estes debandam sem esboçar mais qualquer resistência.
A vitória de Valverde consolidou
definitivamente a independência de Portugal.
Nos anos que se sucederam, D. Nuno
ocupou-se em reorganizar de forma estável e definitiva o exército português. Fez
edificar várias igrejas em honra da Virgem, sendo a mais importante a de Nossa
Senhora do Vencimento, em Lisboa.
Herói na Vida
Monástica
Foi nesta igreja, confiada aos
padres carmelitas, que ele se apresentou em 1423 pedindo para ser admitido como
irmão donato na Ordem.
E como o Superior, Padre Afonso da
Alfama, insistisse em recebê-lo ao menos como irmão leigo, numa posição um pouco
menos desconforme à sua dignidade, respondeu: “Vim à Religião para me empregar
nos humildes ministérios dos que professam a vida ativa, e não quero
outro hábito que o dos serventes“.
A 15 de agosto de 1423, 38º
aniversário da batalha de Aljubarrota, D. Nuno Álvares Pereira, Condestável de
Portugal, professou votos solenes perante a comunidade dos frades, o Rei, a
família real e toda a corte. Recebendo o hábito carmelita, passou a se chamar
simplesmente Frei Nuno de Santa Maria.
Nos anos que passou no convento,
sua pureza imaculada, seu amor à oração, sua devoção ao Santíssimo Sacramento, a
dureza com que mortificava seu corpo inocente, e sobretudo sua caridade,
empenhada em servir aos pobres com a mesma dedicação com que antes combatia os
inimigos, tornaram-no querido por toda a população de Lisboa.
A vida religiosa em nada abateu seu ânimo
guerreiro.
Visitado pelo embaixador
castelhano, este perguntou-lhe se haveria alguma coisa que o levasse novamente a
pegar em armas, ao que o Bem-aventurado respondeu: “Se o Rei de Castela outra
vez mover guerra contra Portugal, enquanto não estiver sepultado servirei
juntamente à Religião que professo e à Pátria que me deu o ser”.
Afastando em seguida o escapulário, abriu o
hábito e mostrou por baixo deste a couraça de
cavaleiro.
Quando se preparava nova expedição
militar a Ceuta, que não chegou a se concretizar, Frei Nuno dispôs-se a
participar desse que prometia ser um duro feito de armas.
Alguns frades chamaram-lhe a
atenção, dizendo que aos 70 anos já não teria mais o vigor de um jovem
cavaleiro. O venerável ancião tomou de uma lança e violentamente arremessou-a,
do alto da colina em que estava, noutra em frente: a arma cravou-se a
fundo numa árvore e ali ficou vibrando.
Ante a surpresa dos assistentes,
disse calmamente:
“Em África a poderei meter, se for ainda
necessário que eu exponha a vida em perigos, em honra da Pátria ou em defesa da
Religião”. Daí se originou o dito “meter uma lança em África”, significando
praticar feito valoroso.
Oito anos viveu Frei Nuno no
Carmo. No dia em que se assinava a paz definitiva entre Castela
e Portugal, paz que ele conquistara com seu rijo ânimo e sua rija espada, teve
um ataque repentino de febre.
Sentindo próximo o fim, comungou
pela última vez, renovou os votos, renunciou novamente a todos
os seus bens e pediu apenas como esmola “uma mortalha e uma cova para o corpo”.
Recebeu a visita do Rei, que chorando o abraçou afetuosamente.
No dia 1º de novembro de 1431,
festa de Todos os Santos, Nuno recebeu o Extrema Unção. Pediu, num último
murmúrio, que lhe lessem a Paixão segundo S. João. Durante a leitura, entrou em
agonia.
E no momento em que se pronunciavam as
palavras de Nosso Senhor a Maria Santíssima. — “Ecce filius tuus” — cerrou
docemente os olhos.
São, actualmente, estas almas heróicas e santas que o meu país nos delegou, que lá dos Céus nos guardam e nos ajudam a caminhar firmes na fé e a enfrentar os inimigos de Deus e da Pátria amada, chamada de Terras de Santa Maria!
São Nuno de Santa Maria rogai e velai por Portugal e pelos países que lutam pelo Reino de Jesus Cristo a Quem servistes até ao fim da vida!
Nema, escrava de Maria
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