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terça-feira, 1 de setembro de 2015

A IMPUREZA NÃO É O QUE ENTRA, MAS O QUE SAI DO CORAÇÃO HUMANO!

Torna o teu coração próximo de Deus e dos pobres
«Naquele tempo, reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e alguns escribas que tinham vindo de Jerusalém. Viram que alguns dos discípulos de Jesus comiam com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. (…)
Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: “Porque não seguem os teus discípulos a tradição dos antigos, e comem sem lavar as mãos?”.
Jesus respondeu-lhes: “Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim’. (…) Vós deixais de lado o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens”.
Depois, Jesus chamou de novo a si a multidão e começou a dizer-lhe: “Escutai-me e procurai compreender. Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro; porque do interior do homem é que saem as más intenções”.» (Marcos 7, 1-8.14-15.21-23, Evangelho do 22.º Domingo do Tempo Comum, 30.8.2015)
Jesus vivia as situações de fronteira da vida, encontrava as pessoas onde estavam e atravessava com elas os territórios da doença e do sofrimento: onde chegava, nas povoações, cidades ou no campo, levavam-lhe os doentes, suplicando-lhe que ao menos pudessem tocar a franja da sua capa. E quantos o tocavam eram salvos (Marcos 6,56). Daqui vinha Jesus, trazendo nos olhos a dor dos corpos e das almas, a par da exultação irreprimível dos curados.
É diante deste Jesus que fariseus e escribas o provocam com minudências: mãos lavadas ou não, questões de vasilhas e de objetos. Compreende-se como a réplica de Jesus é decidida e, ao mesmo tempo, cheia de sofrimento: hipócritas! Vós tendes o coração distante. Distante de Deus e do homem.
O grande perigo, para os crentes de cada tempo, é viver uma religião de “coração distante”, feita de práticas exteriores, de fórmulas recitadas só com os lábios; de se contentar com o incenso, a música, a beleza das liturgias, mas não socorrer os órfãos e as viúvas (Tiago 1,27, 2.ª Leitura).
O perigo do coração de pedra, endurecido, do “coração distante” de Deus e dos pobres, é aquele que Jesus mais teme. «O verdadeiro pecado para Jesus é, antes de tudo, a recusa de participar na dor do noutro» (J.B. Metz) e a hipocrisia de uma relação apenas exterior com Deus.
Ele propõe o regresso ao coração, para uma religião da interioridade. Não há nada fora do homem que nele entrando o possa tornar impuro; são, em contrapartida, as coisas que saem do coração do homem…
Jesus desconstrói todo o preconceito acerca do puro e do impuro, esses preconceitos tão difíceis de morrer. Cada coisa é pura: o céu, a Terra, todo o alimento, o corpo do homem e da mulher. Como está escrito: «Deus viu e tudo era bom».
Jesus bendiz de novo as coisas, incluindo a sexualidade humana, que nós associamos de imediato ao conceito de pureza e impureza, e atribui ao coração, e só ao coração, a possibilidade de tornar as coisas puras ou impuras, de as manchar ou de as iluminar.
A mensagem festiva de Jesus, tão atual, é que o mundo é bom, que todas as coisas são boas, que és livre de tudo o que é aparência. Que deves proteger com todo o cuidado o teu coração porque é nele que está a fonte da vida.
Fora com o supérfluo, os formalismos vazios, tudo o que é entulho cultural, que Ele chama «tradições dos homens». Livre e novo regresso ao Evangelho, que liberta e renova.
Que respiração de liberdade com Jesus: abre o Evangelho e é como um sopro de ar fresco no cinzentismo dos discursos óbvios e habituais. Deixa o Evangelho fluir para seres tocado pela suave brisa de uma perene frescura, um vento criador que te regenera, porque chegaste, regressaste, ao coração feliz da vida.
 
Ermes Ronchi
In
"Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 31.08.2015

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