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quarta-feira, 23 de março de 2016

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quarta-feira, 23 de março de 2016

Aviação russa bombardeia hospitais sírios
e força migração de massa

Snapshot do 'El Mundo' de Madri 'cobertura' russa na verdade favorece o avanço do Estado Islâmico
Snapshot do 'El Mundo' de Madri: 'cobertura' russa na verdade
favorece o avanço do Estado Islâmico
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



O Departamento de Estado dos Estados Unidos denunciou mais uma vez um ataque aéreo da Rússia que atingiu um hospital na Síria. Washington pediu a Moscou explicações e uma investigação, informou G1.

Grupos “da sociedade civil síria” alegaram que a Rússia atingiu um ou vários hospitais com seus ataques aéreos sobre o país, explicou o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby.

Os EUA têm “informação operacional que leva a crer que os alvos russos não focaram unicamente o Estado Islâmico (EI), mas também causaram efeitos colaterais e vítimas civis”, acrescentou.

A Sociedade Médica Sírio-Americana, organização sem fins lucrativos, acusou a Rússia de atingir vários hospitais na Síria, incluindo um centro médico em Sarmin, na província de Idlib, que deixou pelo menos 12 mortos em 20 de outubro de 2015.

Dois hospitais e um prédio que abrigava uma escola foram alvos de ataques no norte da Síria, segundo a CNN. Pelo menos 15 pessoas morreram num hospital em Azaz, na província de Aleppo.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que apoia o centro médico da Síria, informou que pelo menos sete pessoas morreram e oito estavam desaparecidas. Cerca de 40 mil pessoas buscam ajuda neste hospital da região de Maaret al Noomane, ao norte de Damasco.

Hospital do Médicos sem Fronteiras bombardeado pela Rússia
Hospital do Médicos sem Fronteiras bombardeado pela Rússia
Pelo menos nove pessoas morreram no ataque a um hospital dos Médicos Sem Fronteiras na região síria de Maarat al-Numan. Mais ao norte, na cidade de Azaz, sete mísseis atingiram um hospital e uma escola, provocando a morte a 14 civis. Ambas as ofensivas estão sendo atribuídas à Rússia, informou a Rádio e Televisão de Portugal.

“Um edifício que abrigava um hospital apoiado pelos Médicos Sem Fronteiras foi completamente destruído por aviões aparentemente russos em Hadye, uma localidade a sul de Maarat al-Numan”, confirmou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, citado pela agência France Presse.

Foi um ataque deliberado contra um estabelecimento de saúde”, declarou o chefe de missão dos Médicos sem Fronteiras em comunicado. “A destruição deste hospital deixa cerca de 40 mil pessoas sem cuidados médicos nesta zona de conflito”, acrescentou.

A escola atingida em Azaz estaria servindo de abrigo a refugiados sírios em fuga. Um habitante contou à Reuters que um outro edifício, no sul da cidade, que também albergava refugiados sírios, foi igualmente bombardeado por via aérea.


O Ministério Russo dos Negócios Estrangeiros culpou a Turquia, mas não negou a intervenção: “Moscou tem sérias preocupações sobre as ações agressivas das autoridades turcas no que diz respeito ao seu estado vizinho”, declarou em comunicado.

O ataque surge poucos dias depois de a comunidade internacional, incluindo a Rússia, ter combinado um cessar-fogo na Síria.

Quase uma centena de colaboradores da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) foram mortos ou feridos desde o início 2015 na Síria, informou “O Estado de S.Paulo”. 

Populares choram vítimas civis feitas pela aviação russa em Ariha.
Populares choram vítimas civis feitas pela aviação russa em Ariha.
A MSF afirmou que em 70 estabelecimentos médicos apoiados por ela ao redor de Damasco e no noroeste da Síria, foram registrados 7.009 mortos e 154.647 feridos de guerra, somente no ano passado.

Entre 30% e 40% dessas vítimas foram mulheres e crianças”, disse Joanne Liu, presidente internacional da MSF, em entrevista coletiva.

“A cínica destruição de hospitais e o assassinato de equipes de saúde priva comunidades inteiras de atendimento médico vital”, lamentou.

Segundo Joanne, que culpou a Rússia e seus protegidos, ataques deliberados contra a infraestrutura civil, incluindo hospitais, tornaram-se rotina.

A organização denunciou ainda que estão sendo criadas as condições para uma catástrofe humana. Trata-se dos deslocados, que fugiram da ofensiva das forças governamentais apoiadas por bombardeios aéreos russos sobre Alepo e se dirigiram rumo a áreas mais ao norte.

“Cerca de 100 mil pessoas estão perto de Azaz (a 30 quilômetros de Alepo). Tentam escapar, mas estão detidas entre a frente de batalha e a fronteira”, disse a diretora de operações da MSF, Raquel Ayora.

Raquel afirmou que as pessoas têm cada vez mais medo de ir aos hospitais, e seu próprio pessoal, que continuou trabalhando durante os quase cinco anos de guerra, chegou a uma “situação limite” e a um estado de “desespero”.

“O povo está amontoado em campos de deslocados muito perto da fronteira turca, esperando que alguma das partes se atreva a chegar à fronteira, o que não é seguro porque cada vez mais há bombardeios mais perto”, explicou Ayora à agência EFE.

Joanne Liu explicou que o nível de violência a que se chegou na Síria “é espantoso e não tem precedentes". “É algo que nunca vimos em 44 anos de existência da Médicos Sem Fronteiras”, acrescentou.
Procura de vítimass em mercadinho arruinado por bombardeio da força aérea da Rússia, em Ariha, província de Idlib.
Procura de vítimas em mercadinho arruinado por bombardeio da força aérea da Rússia,
em Ariha, província de Idlib.

Obviamente, a Rússia negou que sua aviação tenha bombardeado esses hospitais deixando quase 50 mortos, muitos deles crianças, em ataques aéreos a Idleb e Aleppo, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), noticiou G1.

“Desmentimos categoricamente tais acusações, principalmente porque quem as faz não consegue prová-las”, disse o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

Entretanto, os vídeos da propaganda russa sobre sua força aérea na Síria apresentam descargas de bombas indiscriminadas, que só podem cair encima de qualquer um e especialmente em prédios maiores como hospitais. Não há pontaria sobre o Estado Islâmico.

Tal vez temendo ser pego nestes bombardeios cujo maior aporte é estimular a fuga para Europa servem à invasão, Vladimir Putin mandou interrompe-los, embora com termos assaz imprecisos.


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