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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A ARTE E A ARQUITECTURA FORAM E SÃO VEÍCULOS FUNDAMENTAIS NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO!

A beleza do anúncio

 
Em todas as fases históricas do Ocidente, mas também do cristianismo nos outros continentes, a arte na sua multiplicidade foi um dos veículos fundamentais para proclamar simbolicamente os conteúdos da mensagem de fé. Sim, não só essas surpreendentes arquitecturas e admiráveis frescos, mas toda a expressão de arte, de literatura, de música e inclusivamente do cinema, se fizeram vozes para anunciar os grandes temas religiosos, as narrativas bíblicas, as personagens da fé, assim como para conduzir a humanidade «ao eterno do tempo».
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«Se um pagão chega e te diz: “Mostra-me a tua fé!”, tu leva-lo à igreja e mostras-lhe a decoração com que é ornada e explicas-lhe o conjunto dos quadros sagrados.» É verdadeiramente sugestiva esta frase de S. João Damasceno, o cantor do ícone, para definir a função decisiva da arte no primeiro anúncio da fé. Todavia, esta função pode ser cumprida de maneira igualmente incisiva para a catequese, como atesta a “Bíblia dos pobres”, cujas folhas eram constituídas pelas “páginas” coloridas dos frescos nas igrejas ou pelas de pedra dos baixos-relevos e das esculturas. Não foi por acaso que nos Estatutos de Arte dos pintores de Siena do séc. XIV se enunciava: «Nós somos manifestadores, aos homens que não sabem ler, das coisas miraculosas operadas por virtude da fé».
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Em todas as fases históricas do Ocidente, mas também do cristianismo nos outros continentes, a arte na sua multiplicidade foi um dos veículos fundamentais para proclamar simbolicamente os conteúdos da mensagem de fé. Guillaume de Jerphanion intitulou a sua imponente trilogia dedicada às igrejas rupestres da Capadócia “A voz dos monumentos” (1930). Sim, não só essas surpreendentes arquiteturas e admiráveis frescos, mas toda a expressão de arte, de literatura, de música e inclusivamente do cinema, se fizeram vozes para anunciar os grandes temas religiosos, as narrativas bíblicas, as personagens da fé, assim como para conduzir a humanidade «ao eterno do tempo» (Dante, “A Divina Comédia”, Paraíso, XXXI, 38).
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Constituiu-se um verdadeiro quérigma, um anúncio de fé, de moral, de espiritualidade (certamente nem sempre impecável), baseado num imensurável património artístico que se acumulou pelos séculos e que é percetível entrando não só numa catedral ou numa igreja no campo, mas também visitando uma pinacoteca ou navegando na internet. Trata-se de um arco-íris imenso de símbolos, imagens, palavras, sons, uma admirável recolha que infelizmente é demasiadas vezes desfigurada por furtos, espoliações, danos, devastações e sobretudo pela indiferença de certos pastores que deveriam ser os guardadores e os intérpretes desta verdadeira «estética teológica», para usar a célebre fórmula do teólogo Hans Urs von Balthasar.
É por isso significativo poder regressar à reapropriação amorosa destes sinais de arte que continuam a fazer ressoar hoje a sua voz poderosa para dizer Deus de um modo belo. A partir desta base é possível partir para um voo ideal que continue no presente, seguindo as novas “gramáticas” adotadas pelas artes, de modo que o anúncio da fé cristã ecoe e se exprima também de formas inéditas e até surpreendentes. Como dizia Paulo VI a 7 de maio de 1964, na Capela Sistina, é necessário que os artistas voltem a «recolher do céu do Espírito os seus tesouros e os revistam de palavras, de cores, de formas, de acessibilidade».
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Para o confirmar basta só o exemplo da Sagrada Família de Gaudí, em Barcelona: de maneira inesperada, até provocatória e em evolução contínua, o arquiteto catalão confessava que tentou expressar no projeto os três grandes códices da Revelação divina: «O livro da natureza, o livro da Sagrada Escritura, o livro da liturgia».
 Card. Gianfranco Ravasi 
Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
Trad.: Rui Jorge Martins 
Fonte: Pastoral da Cultura-Publicado em 08.09.2016

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