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sábado, 21 de janeiro de 2017

FOI HÁ 35 ANOS QUE A VOZ DA CANTORA SE CALOU MAS A VOZ DE ARTISTA NÃO MORREU CONTINUA PERPETUANDO A SUA GRANDEZA

A maior cantora do Brasil morreu numa manhã de sol  há 35 anos

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A irascível Elis Regina, intérprete reverenciada pelos parceiros musicais e adorada pelos fãs, está a ser retratada em musical e em filme.
Na noite de 18 de janeiro de 1982, Elis Regina recebeu amigos para jantar na sua casa na Rua Melo Alves, em São Paulo, incluindo o namorado da época, o advogado Samuel McDowell. Ao longo do serão todos foram saindo, até McDowell, porque a cantora queria concentrar-se nas músicas do disco que se preparava para gravar. Horas depois, já manhã de sol, McDowell ligou para Elis. Assustou-se porque no final do telefonema ela mais balbuciava do que falava. Correu para o apartamento, arrombou duas portas e encontrou-a inanimada no quarto. Chamou uma ambulância, que a conduziu ao Hospital das Clínicas, onde chegou morta, aos 36 anos, vítima de overdose de cocaína e álcool. Morria a maior cantora do Brasil. A maior cantora do Brasil? E Gal? E Bethânia?
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Há dois anos, o jornal Zero Hora, da mesma Porto Alegre onde Elis Regina Carvalho Costa nasceu em 1945, convidou críticos a responder àquela pergunta: a maioria escolheu Elis sem hesitar, a minoria diplomática equiparou-a às duas citadas acima. Júlio Maria, biógrafo da cantora e crítico de música no jornal O Estado de S. Paulo, conta que um dia Caetano Veloso, irmão de Maria Bethânia e quase irmão de Gal Costa, lhe disse "Elis foi a maior". A revista Rolling Stone elegeu-a melhor voz feminina do país, em 2013. Noutra sondagem, colocou-a em 14.º - a primeira mulher - na lista dos principais artistas da música brasileira. Foi ela a primeira pessoa a inscrever a sua voz como se fosse um instrumento na Ordem dos Músicos do Brasil. Compararam-na nos EUA a Ella Fitzgerald, a Billie Holiday, a Sarah Vaughan. Aclamaram-na enquanto intérprete de samba, jazz, rock, bossa nova, de música popular brasileira (MPB).
"Desde a sua morte, num país onde surgem duas novas cantoras por dia, jamais surgiu outra à altura de Elis Regina; mesmo antes da sua existência, jamais houve uma cantora no país à altura de Elis Regina", afirma Júlio Maria. Outros críticos falam em técnica, em afinação, em extensão de voz como pontos fortes. Há quem cite a alma.
Elis começou a cantar aos 11 anos na sua cidade natal, aos 16 gravou o primeiro disco, antes dos 20 já tinha a agenda lotada em espetáculos no Rio de Janeiro e em São Paulo e era atração de programas de televisão. Ganhou festivais - a sua vitória num, em que cantou Arrastão, de Vinícius de Moraes e Edu Lobo, foi considerado o marco inaugural da MPB - e fez parcerias antológicas com todos os ícones nacionais, como Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e outros. Aos 36, estava no auge.Por causa do mito, atrizes experimentadas como Andreia Horta e Laila Garin, que a interpretam respetivamente no filme Elis e na peça de teatro Elis, a Musical, relatam o medo que sentiram. "Sonhava com ela, sonhava que estava falando com quem a conheceu", disse uma; "eu não sonhava porque nem conseguia dormir", afirmou outra.
https://youtu.be/9jaXO0KNpdI
Porque o peso da personagem Elis vai além da música. Numa época de machismo exacerbado, escolheu ter controlo pleno da sua carreira. Em plena ditadura militar - 1964-1985 - fez ferozes críticas ao regime e participou em movimentos de renovação política e cultural. Casou duas vezes, com o músico Ronaldo Bôscoli, pai do seu primeiro filho, o produtor João Marcelo Bôscoli, e com o pianista César Camargo Mariano, pai dos cantores Maria Rita e Pedro Mariano , além de ter mantido outras relações tempestuosas porque na sua vida tudo era algo tempestuoso.
https://youtu.be/eCRewFutsNc
Ganhou de Vinícius de Moraes a alcunha de Pimentinha por ferver em pouca água - os amigos referem-se a ela como "geniosa", "revoltada", "contraditória", "agitada", "exigente". "Se ser geniosa e exigente e não gostar de ser passada para trás é ser mau carácter, então eu sou", disse a própria numa entrevista. E noutra: "Viver como um kamikaze é o que me faz ficar de pé." Ficou de pé até aquela manhã de sol de 19 de janeiro de 1982. A voz de Elis, porém, resiste. Como disse o produtor Walter Carvalho muitos anos após a sua morte, "a Elis Regina está cantando cada vez melhor".
Em São Paulo
Fonte: DN

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