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terça-feira, 26 de julho de 2016

A ARTE É E SERÁ SEMPRE UMA OBRA PRIMA! VEJAMOS ESTES MOSAICOS COM 1700 ANOS!

Mosaicos da basílica da Natividade devolvidos ao esplendor [Imagens]

 

Silvia Starinieri, jovem técnica de restauro, estava a passar vagarosamente uma câmara termográfica sobre o suave reboco das paredes da igreja da Natividade, o tradicional local de nascimento de Jesus Cristo, quando observou uma forma intrigante.
À medida que ela e os colegas começaram a raspar meticulosamente o reboco, uma face radiosa emergiu, iluminada a madrepérola. Quando a equipa viu os primeiros mosaicos dourados de um halo cintilante, «foi um momento emocionante», diz Starinieri, de 28 anos.
Debaixo do reboco estava um anjo de quase 2,5 metros de altura, perdido há séculos, mas agora redescoberto e reunido aos outros seis anjos que olham sobre os peregrinos numa das mais antigas igrejas cristãs.
O sétimo anjo foi uma inesperada recompensa para um esforço árduo e longo de anos para salvar da negligência a basílica de 1700 anos. A falta de manutenção deixou os inestimáveis mosaicos da igreja obscurecidos debaixo de camadas de pó e fuligem ou destruídos pela água proveniente do teto furado. Ainda assim, os mosaicos emergiram com tal brilho que é difícil de acreditar que foram criados há quase mil anos.
«Para esta obra precisámos das nossas melhores mãos», afirma Giammarco Piacenti, o responsável da empresa de restauro italiana. Essas habilidosas mãos revelaram novos conhecimentos sobre o artesão que se acredita que criou os mosaicos, e sobre a sua relação com a arte sacra noutros locais de oração na Terra Santa.
 Um restauro urgente
O restauro dos mosaicos é parte da primeira reforma conhecida da venerada igreja desde 1478, e aconteceu em cima da hora. Um responsável do estado palestiniano advertiu que os peregrinos enfrentavam um perigoso colapso das vigas, e em 2012 as Nações Unidas declararam a Igreja como Património Mundial em perigo.
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pressionou os patriarcas cristãos a colocarem de lado as suas diferenças para fazerem entrar, em 2013, a equipa dos mundialmente reconhecidos restauradores italianos, que cedo estavam a trabalhar em turnos durante 24 horas por dia.
Encomendados no séc. XII pelo rei cruzado Amalrico I e pelo imperador bizantino Manuel Commeno I, os mosaicos foram feitos com peças de vidro, madrepérola e pedras locais, com folhas de ouro e prata. As peças foram inclinadas para maximizar o impacto nos peregrinos que as viam de baixo.
Os mosaicos retratam Jesus e os seus antepassados, incluindo José e uma dolorosa Mãe Maria. Comparecem também os 12 apóstolos, incluindo Tomé, com Jesus a puxar a sua mão para a ferida da crucificação. Há também reluzentes santos e patriarcas, e até um filhote de camelo.
As obras são assinadas, em latim e siríaco, por um artista chamado Basilius. Os historiadores suspeitam que se trata do mesmo que ilustrou o Saltério de Melisende, manuscrito iluminado de referência criado no séc. XII para a rainha Melisende de Jerusalém.
«Estes mosaicos lembram a Sicília, Florença e Ravena», assinalou Piacenti, referindo-se aos mosaicos bizantinos presentes em torno do Mediterrâneo. Os restauradores dizem que os mosaicos de Belém têm desenhos de animais e plantas que são impressionantemente semelhantes aos mosaicos da era bizantina de Jerusalém na mesquita de Al Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islão.
 Esplendor antigo e conflito e moderno
Encomendada pelo imperador romano Constantino no séc. IV sobre a caverna que se acredita ter sido o local de nascimento de Jesus Cristo, a igreja original foi destruída por rebeldes samaritanos no séc. VI, e mais tarde reconstruída pelo imperador Justiniano. Desde então a igreja foi erodida por terramotos e exércitos conquistadores. A sua alta porta em arco foi reduzida a 1,2m de altura, tornando-se então a "Porta da Humildade", para impedir a entrada de cavaleiros.
Os restauradores repararam os estragos causados por um morteiro que atingiu o teto durante a guerra de 1967 entre Israel e a Jordânia, mas os buracos de munições de um confronto de 39 dias ocorrido em 2002 entre soldados israelitas e militantes palestinianos permanecerão visíveis.
Durante o conflito de 2014 entre Gaza e Israel, os restauradores não dormiram devido à preocupação causada por 30 recipientes de madeira, cobre, chumbo e outros materiais armazenados no porto israelita de Ashdod. Se fossem atingidos por armas, o custo teria ascendido a milhões de dólares.
Um foguete lançado por militantes em Gaza foi parar perto da residência de Giorgia Zurla, membro da equipa de Piacenti. Ninguém ficou ferido. «Eu não tinha "Cúpula de Ferro", brincou Zurla, referindo-se ao nome do sistema anti-míssil de Israel. «Eu tinha a proteção de Deus.»
Para sustentar o teto, a equipa vasculhou madeireiras à procura de madeira antiga o mais semelhante possível às vigas feitas de cedro do Líbano da era de Justiniano e toros encomendados dos Alpes encomendados no séc. XV.
As restantes partes dos mosaicos do séc. IV parecem estar em excelente condição, afirmam os restauradores. Uma pequena secção é visível sob um chão falso elevado, e os restauradores gostariam de o exibir na sua totalidade debaixo de vidro. Mas primeiro têm de conseguir os 6,7 milhões de dólares necessários para completar o projeto.
Ziad Al-Bandak, conselheiro do presidente palestiniano para questões cristãs, revelou que foram gastos até agora cerca de 10 milhões de dólares no restauro; um milhão foi doado por privados, cristãos e palestinianos muçulmanos de vários pontos do globo.
«No Iraque estamos a testemunhar a destruição de lugares santos», disse Al-Bandak. «Estamos a tentar proteger o berço do cristianismo. Como eu disse ao papa Bento, sou de uma família que estava aqui ao tempo do nascimento de Cristo».
As rivalidades entre os patriarcados cristãos degeneraram algumas vezes em rixas. Mas este ano voltaram novamente a pôr de lado as diferenças para salvar outro santuário perigosamente delapidado: a igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém.
Para a igreja da Natividade, os anos de negligência tiveram um custo irreversível. Os majestosos mosaicos chegaram a cobrir vastas áreas da basílica, com cenas bíblicas e 24 anjos. Os restauradores conseguiram recuperar algumas secções ocultas recorrendo a sofisticada tecnologia termográfica, que deteta pequenas alterações na temperatura entre o reboco, pedra e vidro. Atualmente só uma pequena parte - provavelmente 20 por cento - dos mosaicos sobrevive.
Descobrir uma figura inteira como o anjo perdido pareceu um pequeno milagre para a equipa, assinalou Piacenti. «Finalmente o belo anjo, após séculos de escuridão, pode olhar para baixo, sobre a multidão de peregrinos».
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R.
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Basílica da Natividade | Belém | D.R. 
Anne-Marie O’Connor 
In "National Geographic" 
Trad.: Rui Jorge Martins 
Publicado em 25.07.2016
Fonte: Pastoral da Cultura

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