domingo, 28 de junho de 2015
A Cidade do Pavão
A umas léguas de Paleacate, porto da costa de Coromandel, no meio das brenhas da vegetação tropical, encontrava-se no século de quinhentos uma cidade morta e deserta.
[Nota: Costa de Coromandel é o nome dado à faixa marítima de Tamil Nadu, no sudeste da Índia, banhada pelo oceano Índico. Em Chenai, antiga Madrás se venera o túmulo de São Tomé Apóstolo]
Grande cidade, evidentemente, a julgar pelos montões de pedras, ricamente esculpidas, e colunas ornadas de finos lavores, que se viam espalhadas pelo matagal – ruínas de templos, palácios e outros edifícios imponentes, agora a esboroar-se debaixo do sol escaldante do Estio e chuvas da monção.
Cidade destruída pela invasão das hordas muçulmanas – diziam alguns –, devassada por uma incursão catastrófica do mar que tragou a população e arrasou as casas – opinavam outros.
Fosse como fosse, muito se contava do esplendor antigo de Meliapor, dos seus trezentos templos e maravilhosos paços.
O seu nome significava Cidade do Pavão, porque entre as aves outra não há mais formosa do que o pavão.
Não era todavia para contemplar restos de glórias transactas, que os viajantes ainda visitavam a Cidade do Pavão. Era que sobre estas ruínas pairava uma auréola de santidade.
Corria fama por todo o Oriente de que a extinta Meliapor guardava as relíquias dum santo.
Diziam-no gentios e muçulmanos com a mesma convicção, e os cristãos das antigas igrejas da Ásia afirmavam, como sabido e certo, que aqui veio, pregou, e morreu martirizado, o Bem-aventurado Apóstolo São Tomé.
Imaginemos pois o alvoroço sentido por meia dúzia de portugueses, quando, em 1517, tendo desembarcado em Paleacate, uns armênios ali residentes se ofereceram para guiá-los à sepultura de São Tomé.
[Nota: Costa de Coromandel é o nome dado à faixa marítima de Tamil Nadu, no sudeste da Índia, banhada pelo oceano Índico. Em Chenai, antiga Madrás se venera o túmulo de São Tomé Apóstolo]
Grande cidade, evidentemente, a julgar pelos montões de pedras, ricamente esculpidas, e colunas ornadas de finos lavores, que se viam espalhadas pelo matagal – ruínas de templos, palácios e outros edifícios imponentes, agora a esboroar-se debaixo do sol escaldante do Estio e chuvas da monção.
Cidade destruída pela invasão das hordas muçulmanas – diziam alguns –, devassada por uma incursão catastrófica do mar que tragou a população e arrasou as casas – opinavam outros.
Fosse como fosse, muito se contava do esplendor antigo de Meliapor, dos seus trezentos templos e maravilhosos paços.
O seu nome significava Cidade do Pavão, porque entre as aves outra não há mais formosa do que o pavão.
Não era todavia para contemplar restos de glórias transactas, que os viajantes ainda visitavam a Cidade do Pavão. Era que sobre estas ruínas pairava uma auréola de santidade.
Corria fama por todo o Oriente de que a extinta Meliapor guardava as relíquias dum santo.
Diziam-no gentios e muçulmanos com a mesma convicção, e os cristãos das antigas igrejas da Ásia afirmavam, como sabido e certo, que aqui veio, pregou, e morreu martirizado, o Bem-aventurado Apóstolo São Tomé.
Imaginemos pois o alvoroço sentido por meia dúzia de portugueses, quando, em 1517, tendo desembarcado em Paleacate, uns armênios ali residentes se ofereceram para guiá-los à sepultura de São Tomé.
Partiram todos a pé, e andaram seis jornadas até chegar à cidade abandonada.
No meio das ruínas, foi-lhes apontado um modesto edifício – o único ainda de pé, antigo e danificado, apresentando a forma de igreja cristã com abóbada alta e coruchéu, e tendo três portas de madeira lavrada.
Aí, encontraram um velho indiano, meio cego, e evidentemente pobre. Era – dizia – o guardião desta casa, quem a varria e limpava, como o tinham já feito seus pais e avós e granjeava algumas esmolas para pagar o azeite da candeia, que acendia quando chegavam peregrinos.
Alumiados por esta, os portugueses penetraram no interior cheio de sombras, entre as quais descortinaram três naves e uma capela-mor, com cinco pavões esculpidos e cruzes gravadas nas paredes circundantes.
Em duas capelas laterais, viam-se duas sepulturas, cada qual do tamanho do corpo de um homem. Do lado direito, informaram os armênios, jazia o Apóstolo Bem-aventurado, e, à esquerda, estava enterrado o companheiro, São Matias.
Rogaram então ao velho que lhes narrasse tudo quanto sabia da história estranha deste lugar sagrado, e ele, de boa vontade, anuiu.
Havia muitos e muitos anos – talvez uns mil e quinhentos –, dizia o seu pai, que o ouvira de seus bisavós, os quais por sua vez o tinham ouvido aos antepassados, e o mesmo contavam os mais antigos desta terra – que em Paleacate desembarcaram dois estrangeiros, oriundos de terras remotas e então chegados da China.
Andando na praia, eles viram os elefantes do rei a puxarem com toda a força um pau enorme, lançado pelo mar, sem que o conseguissem. O principal dos recém-vindos pediu ao rei que lhes desse o lenho.
“Leva-o – respondeu ele, a rir – se puderes com o peso!”
Então, perante o espanto de todos, o homem desapertou o cinto, amarrou-o ao pau, que primeiro benzeu, e, tranquilamente, sem o menor esforço, foi-o levando atrás de si umas doze léguas, sertão dentro.
No meio das ruínas, foi-lhes apontado um modesto edifício – o único ainda de pé, antigo e danificado, apresentando a forma de igreja cristã com abóbada alta e coruchéu, e tendo três portas de madeira lavrada.
Aí, encontraram um velho indiano, meio cego, e evidentemente pobre. Era – dizia – o guardião desta casa, quem a varria e limpava, como o tinham já feito seus pais e avós e granjeava algumas esmolas para pagar o azeite da candeia, que acendia quando chegavam peregrinos.
Alumiados por esta, os portugueses penetraram no interior cheio de sombras, entre as quais descortinaram três naves e uma capela-mor, com cinco pavões esculpidos e cruzes gravadas nas paredes circundantes.
Em duas capelas laterais, viam-se duas sepulturas, cada qual do tamanho do corpo de um homem. Do lado direito, informaram os armênios, jazia o Apóstolo Bem-aventurado, e, à esquerda, estava enterrado o companheiro, São Matias.
Rogaram então ao velho que lhes narrasse tudo quanto sabia da história estranha deste lugar sagrado, e ele, de boa vontade, anuiu.
Havia muitos e muitos anos – talvez uns mil e quinhentos –, dizia o seu pai, que o ouvira de seus bisavós, os quais por sua vez o tinham ouvido aos antepassados, e o mesmo contavam os mais antigos desta terra – que em Paleacate desembarcaram dois estrangeiros, oriundos de terras remotas e então chegados da China.
Andando na praia, eles viram os elefantes do rei a puxarem com toda a força um pau enorme, lançado pelo mar, sem que o conseguissem. O principal dos recém-vindos pediu ao rei que lhes desse o lenho.
“Leva-o – respondeu ele, a rir – se puderes com o peso!”
Então, perante o espanto de todos, o homem desapertou o cinto, amarrou-o ao pau, que primeiro benzeu, e, tranquilamente, sem o menor esforço, foi-o levando atrás de si umas doze léguas, sertão dentro.
Um santo, sem dúvida nenhuma! clamou a multidão, e onde parou com o lenho, o rei deu-lhe licença para fazer casa.
Todo o povo acorreu a ajudar. Queriam ser pagos em dinheiro ou em mantimentos? – perguntou o santo.
Aos que diziam dinheiro ele dava cavacos da obra, que se tornavam moedas; aos que optavam por comida, enchia as abas de areia, que logo se transformavam em arroz!
Assim a casa ergueu-se depressa, o santo ficou lá a viver, pregou o Evangelho e fez grandes milagres na terra.
O próprio rei converteu-se e foi baptizado com toda a família e muitos dos súbditos, apesar da oposição furiosa dos brâmanes.
Estes conseguiram provocar um motim contra o pregador das novas doutrinas, fazendo-o apedrejar e atravessar por uma lança. Isto conforme os mais entendidos.
O povo, todavia, contava a coisa de outra maneira!
O santo costumava ir rezar para o ermo da serra e – certamente para que não o incomodassem – transformava-se muitas vezes num pavão.
Ora aconteceu, certo dia, que um caçador, deparando com um grupo de lindos pavões no cume da montanha, atirou com a lança ao mais formoso.
Qual não foi o seu espanto quando viu a bela ave tomar a forma de homem – de um homem ferido de morte!
Quisera fugir, mas o santo deteve-o. que não se assustasse – pois a sua morte era da vontade do Senhor.
Que chamasse mesmo os seus discípulos para que o enterrassem na sua casa.
Assim se cumpriu e, desde então, todo o povo venerava esta sepultura, onde achava cura milagrosa para os seus males.
Todo o povo acorreu a ajudar. Queriam ser pagos em dinheiro ou em mantimentos? – perguntou o santo.
Aos que diziam dinheiro ele dava cavacos da obra, que se tornavam moedas; aos que optavam por comida, enchia as abas de areia, que logo se transformavam em arroz!
Assim a casa ergueu-se depressa, o santo ficou lá a viver, pregou o Evangelho e fez grandes milagres na terra.
O próprio rei converteu-se e foi baptizado com toda a família e muitos dos súbditos, apesar da oposição furiosa dos brâmanes.
Estes conseguiram provocar um motim contra o pregador das novas doutrinas, fazendo-o apedrejar e atravessar por uma lança. Isto conforme os mais entendidos.
O povo, todavia, contava a coisa de outra maneira!
O santo costumava ir rezar para o ermo da serra e – certamente para que não o incomodassem – transformava-se muitas vezes num pavão.
Ora aconteceu, certo dia, que um caçador, deparando com um grupo de lindos pavões no cume da montanha, atirou com a lança ao mais formoso.
Qual não foi o seu espanto quando viu a bela ave tomar a forma de homem – de um homem ferido de morte!
Quisera fugir, mas o santo deteve-o. que não se assustasse – pois a sua morte era da vontade do Senhor.
Que chamasse mesmo os seus discípulos para que o enterrassem na sua casa.
Assim se cumpriu e, desde então, todo o povo venerava esta sepultura, onde achava cura milagrosa para os seus males.
(Autor: Elaine Sanceau, “Recortes de pequena história”)
Nota: quando do tsunami de dezembro de 2004 que devastou toda aquela região, o templo que guarda supostas relíquias ficou imune às ondas gigantescas que destruíram todas as construções adjacentes.
Uma antiga tradição afirmava que um poste fixado pelo apóstolo limitaria até o fim dos tempos as águas, que jamais o ultrapassariam.
Este poste existe até os dias atuais e se localiza exatamente na porta principal da igreja que guarda suas relíquias.
Isto deixou os sacerdotes hindus desconcertados e os mesmos prometeram não mais perseguir e discriminar os cristãos daquelas plagas.
Fonte: Wikipedia, verbete São Tomé.
Uma antiga tradição afirmava que um poste fixado pelo apóstolo limitaria até o fim dos tempos as águas, que jamais o ultrapassariam.
Este poste existe até os dias atuais e se localiza exatamente na porta principal da igreja que guarda suas relíquias.
Isto deixou os sacerdotes hindus desconcertados e os mesmos prometeram não mais perseguir e discriminar os cristãos daquelas plagas.
Fonte: Wikipedia, verbete São Tomé.
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