Desinibidos
As pessoas privadas de inibições não são, de todo, as mais amáveis, nem sequer as mais livres. Curiosamente, descubro entre os livros da casa em que estou de férias, com familiares, uma edição das “Minima moralia” do filósofo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969): não sei quando a comprei nem se a li integralmente. Folheio estas páginas um pouco amarelecidas e dou de caras com as muitas reflexões que o filósofo de Frankfurt dedica às contradições da sociedade de massa.
Nos nossos dias, mostrar-se desinibido é quase uma questão de honra. A televisão, a este respeito, é uma escola que não conhece férias. E por esta via é-se convencido de se ser desenvolto, amável, superior e, sobretudo, verdadeiramente livre. Não há necessidade do saber de Adorno para desmentir este lugar-comum que, infelizmente, fascina os jovens e até os mais velhos.
O resultado, com efeito, não é nem amabilidade, mas vulgaridade e imitação. A pessoa torna-se quase como macaco amestrado que repete os gestos extremos de determinado homem de espetáculo ou do personagem de turno. É-se parecido com papagaios aos quais são ensinados palavrões para escandalizar.
Na realidade, os desinibidos fazem pena e aborrecem quando se tem apenas um pouco de gosto e de honestidade intelectual. Por isso, não nos impressionemos por estes anões e bailarinas, e continuemos a conservar o verdadeiro sentido da liberdade, da dignidade, do bom gosto, da beleza, da afabilidade, ainda que seja verdade – como dizia Bacchelli – que «os estúpidos impressionam, mas só pelo seu número».
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
Presidente do Pontifício Conselho da Cultura
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 08.09.2015
Fonte: Pastoral de Cultura
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