Um dia dialogava com o meu amigo filósofo, não crente, Norberto Bobbio. Disse-me ele: «Mas onde está Deus? Se permite guerras, terramotos, fome, onde está?» Diante de uma pergunta destas achei-me a defender Deus. «Posso fazer uma reflexão?». «Certamente.»
«A guerra: a culpa é de Deus ou do homem? A fome: a culpa é de Deus ou do homem? Os acidentes de viação: a culpa é de Deus ou do homem? O mesmo para um terramoto: a culpa é de Deus ou do homem? Se o homem fizesse a sua parte e construísse casas como a técnica ensina, talvez os danos fossem menores. O homem tem em si inteligência para construir também em zonas sísmicas mas com uma sabedoria diferente. Sim ou não?»
Deus disse ao primeiro homem: «O bem e o mal estão dentro de ti, mas o mal está escondido». Mas se o homem usa todo o seu abandono a Deus de modo a fazer da oração a sua respiração, pode compreender que a treva só se combate tornando-se luz. Dentro de cada um de nós está um gemido inexprimível que conduz a Deus, mas o homem pode sufoca-lo de muitas maneiras: com o eu, com as paixões, com os esquemas.
Fico louco de alegria quando no Evangelho de João leio as palavras de Jesus quando diz que podemos fazer as coisas que Ele fez. Aliás, podemos fazer ainda maiores. Quando esta verdade entrou em mim e a compreendi, caí de joelhos e a minha oração tornou-se incessante: «Meu Deus, meu Deus…».
Se compreendermos isto, o mundo mudará. O homem amará a natureza e por isso não a violentará, o homem amará perdidamente o outro como deseja ser amado. E aí estará Deus. «Mas o homem – disse ao meu amigo filósofo – deve fazer toda a sua parte, gastar a sua inteligência para o bem». A mesma inteligência – infelizmente nem sempre usada para o bem – que vi nos “mísseis inteligentes”, capazes de atingir um objetivo a milhares de km de distância. Se tudo isso ocorresse noutros campos, o mundo seria diferente.
O homem, por isso, faça a sua parte e só depois pergunte a Deus: «Onde estás?». O homem comece a resolver todos os “porquês” que dependem de si antes de perguntar «porquê?» a Deus. Só então poderemos fazer-nos as perguntas que contam. «Deus, onde estás?» Se estivermos de boa-fé, Ele mostrar-se-á. Se usarmos só palavras, calar-se-á.
Ernesto Olivero
Trad.: Rui Jorge Martins
Fonte: Pastoral da Cultura-Publicado em 30.08.2016
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