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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A MISÉRIA HUMANA NO SEU AUGE COM A ESPREITA DA MORTE!

  Da consideração da miséria humana e da meditação da morte!
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 Miserável serás, onde quer que estejas e para onde quer que te voltes, se não te converteres a Deus.

Por que te perturbas, quando não te correm as coisas como queres e desejas?
Quem é que tem tudo à medida dos seus desejos?
Nem eu, nem tu, nem homem algum sobre a terra.
Ninguém vive no mundo sem alguma tribulação ou angústia, ainda que seja rei ou Papa. Quem fica com a melhor parte? Certamente aquele que sabe sofrer alguma coisa por amor a Deus.
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Dizem muitos mesquinhos e tíbios: Olhai, que vida tão feliz tem aquela homem quão rico é, quão grande e poderoso e nobre!
Olha tu para os bens do céu, e verás que nada valem os bens temporais, que são muito incertos e de muito encargo, pois nunca se possuem sem preocupações nem temor quem os possui.
A felicidade do homem não consiste em ter abundância de bens temporais; basta-lhe a mediania. Pois a vida  sobre a terra é uma verdadeira miséria.
Quanto mais espiritual quer ser o homem, mais amarga se lhe torna a vida presente, porque sente melhor e vê mais claramente os defeitos da corrupção humana. Com efeito comer, beber, velar, dormir, descansar, trabalhar e estar sujeito a outras exigências da natureza é uma grande miséria e aflição para o homem piedoso que bem  desejaria ver-se desligado disto e livre de todo pecado. 
 Na verdade o homem interior com as necessidades corporais neste mundo, sente-se muito oprimido. Por isso, o profeta roga a Deus, devotamente, que o livre delas, dizendo: Livrai-me, Senhor, das minhas necessidades (Sl 24,17).
 Mas, ai daqueles que não conhecem a sua miséria, e daqueles que amam esta miserável e corruptível vida! Porque alguns abraçam-se a ela de tal forma que, apesar de conseguirem o necessário com o trabalho ou com a esmola, se pudessem viver sempre na terra , nada se lhes importaria do Reino de Deus.
Ó loucos e duros de coração, aqueles que tão profundamente jazem mergulhados nas coisas da terra, que só apreciam a satisfação da carne! Infelizes, que afinal hão-de sentir amargamente, muito a seu custo, como era vil e nada era aquilo que amaram.
Os santos de Deus, e todos os fiéis amigos de Cristo, não entenderam ao que agradava à carne, nem o que neste mundo brilhava, mas toda a sua esperança e intenção se fixavam nos bens eternos.
Todo o seu desejo se elevava para as coisas do alto, perenes e invisíveis, para que o amor das visíveis não os arrastasse  a desejar as coisas rasteiras.
Ó irmão meu, não percas a confiança de fazer progressos na vida espiritual; ainda tens tempo e ocasião. Por que queres adiar tua resolução? Levanta-te, começa neste momento por dizer: agora é tempo de agir, agora é tempo de pelejar, agora é tempo próprio para  a emenda de vida. Quando te sentes atribulado e aflito, então é tempo de merecer. Importa que passes por fogo e água, antes que chegues ao descanso. Se não te fizeres violência a ti próprio, não vencerás os vícios.
Enquanto estivermos neste frágil corpo, não podemos viver sem pecado, nem tédio e nem dor. Bem gostaríamos de gozar já do descanso e livres de toda miséria, mas como pelo pecado perdemos a inocência, perdemos também a verdadeira felicidade. Por isso, devemos ter paciência e confiar na misericórdia de Deus, até que desapareça  a iniquidade (Sl 52,6), e o que é mortal seja absorvido pela vida .
Oh! Como é grande a fragilidade humana, inclinada sempre ao mal!
Hoje confessas os teus pecados, e amanhã tornas a cair neles! Agora resolves acautelar- te  e daqui a uma hora procedes como se nada tivesses proposto. Com muita razão nos devemos humilhar e  presumir o quanto frágeis somos e tão inconstantes. Também, facilmente, se pode perder por negligência o que tanto nos custou a adquirir com a divina graça.
Que será de nós no fim da vida, se já tão cedo somos tíbios? Ai de nós, se queremos entregar-nos ao descanso, como se já estivéssemos em paz e segurança, quando nem sequer um sinal de verdadeira santidade no nosso modo proceder. Bem necessário nos fora que nos instruíssemos de novo, como bons noviços, nos bons costumes; talvez assim houvesse esperança de alguma emenda futura e maior progresso espiritual. Mui depressa a tua vida terminará na terra, por isso vê como te conduzes: hoje estás vivo e amanhã já não existes. E em desaparecendo aos olhos  também depressa se apaga a memória.
Ó cegueira e dureza do coração humano, que só cuida do presente, sem olhar para o futuro!
De tal modo te deves portar em todas as tuas obras e pensamentos, como se hoje houvesses de morrer. E se tivesses boa consciência não temerias a morte. Melhor fora evitar o pecado do que fugir da morte. Se hoje sabes que não estás preparado como o estarás amanhã? É que o dia de amanhã é incerto, e quem sabe se te será concedido? Que nos aproveita vivermos muito tempo, quando tão pouco nos emendamos?
Oh! Nem sempre traz emenda a longa vida, senão que aumenta, muitas vezes, a culpa. Oxalá tivéssemos, um dia sequer, vivido bem neste mundo! Se é terrível morrer, talvez seja ainda mais perigoso o viver muito. Se já viste alguém morrer, reflete que também tu passarás pelo mesmo caminho. Pela manhã, pensa que não chegarás à noite, e à noite não ouses contar com a manhã seguinte. Por isso anda sempre preparado e vive de tal modo que te não encontre a morte desprevenido.
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Ah! Meu caro irmão, de quantos perigos te poderias livrar e de quantos terrores fugir, se sempre andasses temeroso e desconfiado da morte. Procura agora de tal modo viver, que na hora da morte te possas antes alegrar que temer. Aprende agora a desprezar tudo, para então poderes voar livremente a Cristo. Castiga agora teu corpo pela penitência, para que possas então ter legítima confiança.  Ó louco, que pensas viver muito tempo, quando não tens seguro nem um só dia! Quantos têm sido logrados e, de improviso, arrancados ao corpo! Quem se lembrará de ti depois da morte? E quem rogará por ti? Faze já, irmão caríssimo, quanto puderes; pois não sabes, quando morrerás nem o que te sucederá depois da morte. Enquanto tens tempo, ajunta riquezas imortais e deixa as terrenas. Cuida em tua salvação e trata só das coisas de Deus.
Granjeia agora amigos, venerando os santos de Deus e imitando suas obras, para que, ao saíres desta vida, te recebam nas eternas moradas (Lc 16,9).Considera-te como hóspede e peregrino, sobre a terra, que nada se preocupa com os negócios e prazeres do mundo. Conserva livre teu coração e erguido a Deus, porque não tens aqui morada permanente. Dirige ao Céu tuas preces e gemidos, cada dia, com lágrimas, a fim de que a tua alma mereça, depois da morte voar livremente e segura para Deus, Sumo e Eterno BEM!
Fonte: Adapt. Imitação de Cristo- <Caps XXII e XXIII
Nema, escrava de Maria

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