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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

QUÃO PEQUENO É O TEU QUARTO À LUZ DA LUA!

A luz da lua revela a pequenez do teu quarto

«Era uma noite solitária. Lia há muito um livro, até que o meu coração se tornou árido. Parecia-me que a beleza era uma coisa forjada por mercadores de palavras. Cansado, fecho o livro e apago a candeia. Num instante o quarto foi inundado pela luz da lua» (Tagore).

Custa-me um pouco propor esta citação porque, para ser sincero, para mim ler pela noite, envolvido num imenso silêncio, é uma experiência exaltante que, infelizmente, não raro me falta, obrigado como sou às viagens e à dispersão de quartos estranhos, ainda que muito hospitaleiros.
E no entanto, aquilo que escreve Tagore, o poeta indiano tão caro também no Ocidente, morto aos 80 anos em Calcutá, em 1941, contém uma verdade que vale também para mim e que pode estender-se para além do tema específico da leitura. É, com efeito, o apelo a não se contentar com mediações, mas a descer ao campo, no imenso e grandioso horizonte do mundo e da vida.
Há pessoas que trocam pela realidade as ilusões que a televisão lhes dá com fartura ao almoço e ao jantar. Há quem imagina que a verdade é só a que está contida na sua caixa craniana e nos seus raciocínios. Há aqueles que têm sempre necessidade de um útero protetor, feito de pessoas que partilham as suas ideias, que se assemelham a elas e nunca os contradizem.
Interpelou-me sempre uma frase forte do "Assassínio na catedral", de Eliot: «A raça humana não pode suportar muita realidade». Eis, então, o convite de Tagore a deixar irromper a luz da lua ou do sol que te revela o quão pequeno e poeirento é o teu quarto e quão infinito é o mundo e o seu mistério.
Alargar a mente e o coração, indo ao encontro dos outros: só assim se dilata a respiração da alma.
 P. (Card.) Gianfranco Ravasi 
Trad. / adapt.: Rui Jorge Martins 
Publicado em 20.09.2015

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