COREIA DO NORTE
Coreia do Norte. Dentro do metro mais misterioso do mundo
A 110 metros de profundidade, ninguém pode falar entre si, mas podem-se usar telemóveis, mesmo que o hino esteja sempre a tocar. As estações têm nomes como "Camarada" ou "Vermelho".
UMA PANORÂMICA DAS VÁRIAS CARRUAGENS, ESTAÇÕES E ENVOLVÊNCIA DAS MESMAS!
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São precisos quatro minutos para descer desde a superfície até às plataformas do sistema metropolitano de Pyongyang, a capital da Coreia do Norte. Este é o complexo mais profundo do mundo: os comboios circulam a 110 metros de profundidade e as estações de metro assemelham-se a bunkersnucleares com portas de segurança de aço muito espessas a separar os corredores.
As regras são apertadas lá em baixo. Desde logo para os norte-coreanos: assim que se entra nas carruagens, todas decoradas com fotografias de Kim Il-Sung (líder fundador do país de 1948 a 94) e de Kim Jong-Il (o filho, que lhe sucedeu de 94 a 2011), os utilizadores do metro ficam proibidos de conversar. Não há correrias, gargalhadas e nem sequer sorrisos ou qualquer tipo de interação. Mas o silêncio não reina: o hino nacional da Coreia do Norte – “Aegukka” ou “A Canção Patriótica” – está constantemente a tocar.
Hoje em dia, no entanto, já se consegue ver algo que até há bem pouco tempo seria impossível de encontrar: pessoas a mexerem nos telemóveis, que estão nas mãos de 10% da população norte-coreana.
As dificuldades para os estrangeiros foram muito vincadas até 2010. Até esse ano, os turistas estrangeiros apenas podiam viajar entre as estações de Puhung e de Yonggwang, que são uma a seguir à outra e que foram as últimas a serem terminadas. Estas restrições levaram ao surgimento de várias teorias de conspiração, uma das quais defendia que o metro de facto só tinha duas estações e que o governo contratava atores para iludirem os turistas e fingirem que o sistema metropolitano era mais agitado e complexo do que parecia.
Ao longo dos últimos anos, o governo da Coreia do Norte tornou-se progressivamente mais permissivo para os turistas: das duas estações livres passou-se para cinco, depois para seis e agora já é possível viajar em todo o sistema metropolitano de Pyongyang. Esse sistema não é muito grande, ainda assim: tem apenas duas linhas oficiais, todas localizadas na zona oeste da cidade. Em 1971, houve uma tentativa de expandir as linhas de metro para o outro lado do rio Toedong, mas um acidente durante a construção de um túnel vitimou pelo menos 100 trabalhadores e o plano foi abandonado. Há quem defenda que existe de facto uma terceira linha de metro, exclusiva para membros do governo e para fins militares.
No sistema de metro de Pyongyang há dezanove estações, todas inspiradas no estilo das estações estalinistas de Moscovo, com grandes painéis de azulejos e candelabros luxuosos que recordam temas ultranacionalistas: cada uma delas recebe não o nome da localização, mas de uma expressão comunista, como “Camarada”, “Estrela Vermelha” ou “Glória”.
O governo tem tanto cuidado com os pormenores que até os comboios (que demoram cinco a sete minutos a chegar, dois minutos na hora de ponta) foram modificados quando chegaram ao país em 1999: a Coreia do Norte comprou à Alemanha carruagens antigas e o governo ordenou que se retirassem todas as referências ao mundo alemão. Agora, insiste que os comboios são construção coreana, mesmo que a pintura não consiga esconder totalmente os graffitisgermânicos. Essa é, na verdade, uma das manifestações artísticas mais severamente castigadas na Coreia do Norte: um grupo de jovens norte-coreanos pintou as estações com tintas e o sistema parou por completo enquanto a polícia não encontrou os responsáveis.
Elliot, que se apresenta apenas como um australiano, pobre golfista, e produtor de conteúdos do site Earth Nutshell, visitou a Coreia do Norte e integrou o primeiro grupo de estrangeiros a poder viajar nas duas linhas do metro de Pyongyang de uma ponta à outra. De lá trouxe-nos imagens do funcionamento do complexo, da decoração e da reação do povo e dos militares à sua máquina fotográfica.
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Fonte: Observador-mlferreira@observador.pt
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